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Esquerda impõe vitória sobre Macri nas primárias, e acende esperança por ventos de mudança

A vitória da chapa peronista significa também um sucesso, ao menos até agora, da estratégia de Cristina Kirchner, de sair como candidata à vice-presidência
Victor Farinelli
Carta Maior
Buenos Aires

Tradução:

Este domingo (11/8) pode ter sido o início de uma nova fase na política da Argentina e da América Latina. O futuro dirá, mas por enquanto ele já foi marcado por uma contundente vitória eleitoral do kirchnerismo, como há anos não acontecia.

Alberto Fernández, candidato da coligação Frente de Todos, que reúne os setores peronistas de esquerda e de centro, não só venceu as eleições primárias em seu país como obteve uma vantagem muito acima do que vinha sendo mostrado nas pesquisas desta última semana: com 88,8% das mesas apuradas, ele tinha 47,4% dos votos válidos, enquanto o atual presidente, Maurício Macri, conseguiu somente 32,2%.

Sua companheira na chapa Fernández-Fernández é ninguém menos que a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner (o do meio é o sobrenome de solteira da atual senadora, mas não significa qualquer relação de parentesco entre os dois), que abriu mão encabeçar o projeto para que ele fosse liderado por uma pessoa mais com perfil mais moderado e conhecido por ser um aglutinador e promotor do diálogo. Além disso, caso seja eleita vice-presidenta, ela também poderá ser presidenta do Senado Argentino, conforme o que estabelece a legislação do país.

A vitória da chapa peronista significa também um sucesso, ao menos até agora, da estratégia de Cristina Kirchner, de sair como candidata à vice-presidência

Carta Capital
A ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchne

Alberto e Cristina Fernández chegaram à semana final destas eleições primárias com as pesquisas prevendo uma vitória sua entre 4% e 9%, diferença que também marcou as sondagens de boca-de-urna registradas neste domingo. No final, todas erraram para baixo: a vantagem da dupla kirchnerista foi de mais de 15% de diferença, o que significa duas boas notícias para a candidatura.

Antes de explicá-las, é preciso esclarecer que as eleições primárias não são a mesma coisa que o primeiro turno. O que acontece aqui é a apresentação das candidaturas, e eventuais disputas internas para saber quem representará cada setor político. No fundo, tem o valor de uma grande pesquisa eleitoral oficial, onde participaram 75% dos eleitores.

E esse pesquisão deste domingo mostrou que Fernández está bem próximo de uma vitória no primeiro turno (que acontecerá no dia 27 de outubro). Isso porque, segundo a lei argentina, para ganhar nessa instância é preciso ter 45% mais um dos votos válidos, algo que o candidato kirchnerista já conseguiu agora. Além disso, também é possível ser eleito no primeiro turno com um percentual entre 40% e 45%, desde que mantenha uma vantagem de mais de 10% sobre o segundo colocado, e portanto, com uma vantagem de 15%, mesmo com uma pequena queda que o leve abaixo dos 45%, se ainda mantiver ao menos 10% de diferença sobre o macrismo, a vitória continuaria garantida.

Outro aspecto importante da jornada foram as vitórias nas primárias a nível regional, entre as quais se destaca a da província mais populosa do país: Buenos Aires, onde a governadora (macrista) María Eugenia Vidal também perdeu por ampla margem contra o economista Axel Kiciloff (ex-ministro de Economia do segundo mandato de Cristina Kirchner): 32,11% para a candidata à reeleição, contra 49,7% para o desafiante kirchnerista.

A vitória da chapa peronista significa também um sucesso, ao menos até agora, da estratégia de Cristina Kirchner, de sair como candidata à vice-presidência. Durante a campanha no rádio e na televisão, a candidatura governista tentou colar a imagem de Alberto Fernández à da ex-presidenta, e às quase uma dezena de processos judiciais que ela enfrenta, resultado do lawfare contra si – que obedece a padrões similares ao sofrido por Lula da Silva no Brasil e Rafael Correa no Equador, entre outros. Mas isso, ao menos até agora, não funcionou, e Alberto só fez crescer em adesão.

A desvantagem que a esquerda terá pela frente são os dois meses e meio daqui até o primeiro turno, tempo em que o kirchnerismo terá a missão de manter sua vantagem, ou talvez até tentar ampliá-la. Poderia fazê-lo tentando reforçar a estratégia de atacar Alberto e vinculá-lo mais à figura de Cristina, mesmo não dando certo agora, ou buscando algum outro plano. O fato é que a equipe de comunicação governamental terá tempo para bolar uma nova tática e colocá-la em prática.

Até lá, o que se pode esperar também é que muitos setores da esquerda latino-americana passarão a acompanhar de perto a disputa eleitoral no país, esperando que esta vitória nas primárias possa se consolidar no primeiro turno, e acender uma chama de esperança para as forças progressistas nesta América do Sul. 

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Victor Farinelli

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