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Especialistas alertam para crise na democracia dos EUA: "Forças do fascismo estão se reorganizando"

"Se não agirmos agora, temo que poderemos perdê-la para sempre durante a próxima década”, advertiu uma das vozes liberais mais proeminentes do país
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

“A democracia está enfrentando uma crise existencial. A desigualdade e a injustiça estão nos destroçando. Os fatos fundamentais estão sob ataque. E as forças do fascismo estão se reorganizando. Se não agirmos agora para proteger a democracia, temo que poderemos perdê-la para sempre durante a próxima década”, adverte Robert Reich, professor em Berkeley, ex-integrante do gabinete de Bill Clinton e uma das vozes liberais mais proeminentes do país. 

Isto depois que mais de cem especialistas em democracia emitiram uma declaração expressando alarme sobre as “mudanças radicais” dos processos eleitorais promovidos em níveis estaduais, como também o esforço para frear uma reforma nacional para facilitar o acesso universal ao voto. “Toda a nossa democracia agora está em perigo”, concluíram. 

Umas dessas especialistas, Pippa Norris de Harvard escreve que se não forem promovidas reformas para garantir o processo eleitoral incluindo a proteção de direitos dos eleitores, proposta que já está no Congresso, antes das eleições intermediárias no final de 2020, a democracia estadunidense poderia estar perdida. “O 6 de janeiro [a tentativa de golpe de Estado com a ocupação da Capitólio para tentar frear a certificação do voto presidencial] foi o sinal de alarme… Outros países têm visto a desintegração democrática. Isto não é alarmismo. Desafortunadamente é real”, escreveu no The Guardian.

Setores direitistas continuam falando abertamente em promover uma mudança de regime para expulsar o governo de Biden e reinstalar Trump (o próprio Trump promoveu isto em privado com várias pessoas, reportou o New York Times esta semana), enquanto se multiplicam os esforços para mudar as regras básicas do jogo para limitar o direito sagrado ao voto para setores minoritários e pobres, e com isso lograr um sufrágio não efetivo, necessário para consolidar um governo para a direita, representando os brancos e seus aliados reacionários. 

"Se não agirmos agora, temo que poderemos perdê-la para sempre durante a próxima década”, advertiu uma das vozes liberais mais proeminentes do país

Governo dos Estados Unidos
Mais de cem especialistas em democracia emitiram uma declaração expressando alarme sobre as “mudanças radicais” dos processos eleitorais.

O que mais assombra a todos os analistas críticos destes esforços coordenados para suprimir o direito democrático ao voto é que tudo isto está sendo feito aberta e explicitamente.

Alguns especialistas advertem que se conseguirem continuar mudando as regras de alguns dos processos eleitorais em diversos estados, os conservadores republicanos aliados com Trump poderiam recuperar suas maiorias  em ambas as câmaras do Congresso logo em 2022, e com isso controlar o processo presidencial de 2024, sobretudo a certificação do resultado – ou seja, conseguir o que tentaram fazer na eleição de 2020, pondo em dúvida os resultados com a “grande mentira” de uma fraude e, quando isso não funcionou, tentar um golpe de Estado. 

Este pesadelo pode acontecer muito rapidamente, advertem os especialistas sobre como as democracias são destruídas. O especialista sobre autoritarismo e fascismo, Timothy Snyder, de Yale adverte que “se sua plataforma é que as eleições não funcionam, está dizendo que tem a intenção de chegar ao poder de outra maneira”, ao explicar a estratégia de constantemente promover a mentira da fraude. 

“A grande mentira está elaborada não para ganhar uma eleição, mas sim para desacreditá-la… é justo o que tentou Trump em 2020 e isso chegou a uma tentativa de golpe em janeiro de 2021. Será pior em janeiro de 2025”. E agrega: “pode ser freado, mas só se entendermos. Tudo acontece rapidamente… temos que agir agora”. 

Ou seja, o experimento neofascista não foi neutralizado com a derrota de Trump, e por isso continuam assim quase diariamente os alarmes e alertas de que a democracia estadunidense corre um grave risco. 

A vice-presidenta Kamala Harris está visitando Guatemala e México, e na quarta-feira o presidente Biden iniciará sua primeira gira internacional ao viajar para a Europa. Ambos afirmam que estão promovendo os princípios democráticos fundamentais e enfrentando as “ameaças” a eles. Mas desta vez, a maior ameaça à democracia estadunidense vem de dentro. 

Jimi Hendrix.  All Along the Watchtower 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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