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“Esperado regresso para casa”, dizem eleitores do referendo na Ucrânia sobre adesão à Rússia

Até esta terça-feira (27), puderam votar não só aqueles que se encontram na Ucrânia, mas também refugiados que tiveram que fugir para a Rússia
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Todos os canais da televisão pública, por toda a Rússia, abriram seus noticiários na última sexta-feira (23) com reportagens sobre o começo da votação de cinco dias nos referendos de adesão à Federação Russa de quatro regiões separatistas da Ucrânia – Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia – que conformam uma faixa terrestre que une o território russo com a península da Criméia, anexada em 2014.

O tom festivo das reportagens – que começam com as declarações de Denis Pushilin, governante pró russo de Donetsk, e de seus colegas das outras três regiões – vão no sentido de que “tudo está transcorrendo como não podia ser de outra maneira”, além de incluir breves entrevistas com mulheres e anciãos, agradecidos pelo que chamaram, alguns com lágrimas nos olhos, de “o esperado regresso para casa”.

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Principalmente a partir de seu próprio domicílio – para onde urnas foram levadas por brigadas de voluntários e policiais, para que ninguém diga que quis votar e não pôde, segundo explicou uma promotora do referendo em Lugansk – até esta terça-feira (27), puderam votar não só aqueles que se encontram nesses territórios, mas também os refugiados que tiveram que fugir para a Rússia dos horrores da guerra, conforme informaram os enviados da televisão moscovita. Porém, não puderam expressar sua opinião aqueles que buscaram refúgios em outros lugares. 

“Para os ucranianos que se encontram aqui, na extensa geografia de nosso país – explicou o canal de TV Rússia 1 – foram instalados 200 postos em numerosas cidades, onde os refugiados só tem que apresentar seu passaporte e alguma prova de domicílio na Ucrânia”. Como demonstração disso, apareceu na tela uma jovem ucraniana que, a partir Yuzhno-Sajalín, no extremo-oriente, disse estar emocionada por poder depositar seu voto a favor da adesão. 

Vários canais afirmaram – segundo dados do VSIOM (sigla em russo do Instituto de Estudos da Opinião Pública) – que o “SIM” obterá pelo menos 86% e no máximo 99% dos votos depositados, com os quais, quando terminarem as formalidades da incorporação, “a Rússia terá cerca de 20% do território da Ucrânia e aproximadamente 6 milhões a mais de habitantes”. 

Nesse contexto e contra as recentes manifestações de protesto em 38 cidades, que acabaram com 1.400 detidos, o Kremlin organizou comícios de apoio aos referendos com funcionários de instituições governamentais e empresas do setor público.

Até esta terça-feira (27), puderam votar não só aqueles que se encontram na Ucrânia, mas também refugiados que tiveram que fugir para a Rússia

Sputnik Brasil
“Não abandonamos os nossos!”, dizem manifestações de apoio ao referendo

Em Moscou, reportou a agência TASS, onde se levou a cabo o comício mais concorrido, reuniram-se, em uma praça central, “50 mil pessoas” sob o lema de “Não abandonamos os nossos!”. O slogan foi adotado por todos os porta-vozes do Kremlin para explicar o recente intercâmbio assimétrico de prisioneiros, qualificado no Telegram como “algo pior que um crime, pior que um erro: uma traição”, por Igor Girkin. Conhecido por seu pseudônimo Strelkov, Girkin chegou à Ucrânia em 2014 para iniciar e encabeçar o levantamento armado em Donetsk.

Entretanto, a busca de recrutas para cumprir as metas – pelo menos 300 mil soldados e oficiais de reforço – da mobilização parcial decretada pelo presidente Vladimir Putin continua sem descanso em toda a Rússia. 

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Ao percorrer o centro de Moscou, não é raro ver, sobretudo junto às entradas das estações de Metrô, patrulha de fardados que pedem que se identifiquem homens preferencialmente entre 30 e 50 anos de idade, para comprovar em seus tablets se figuram na “lista de reservistas” elaborada pelo Ministério da Defesa, a partir das recomendações que o governo exigiu às empresas e instituições. 

A dependência castrense teve que fazer duas precisões sobre o mobilização parcial: que o não comparecimento em uma delegacia militar após receber a citação não implica ainda em responsabilidade penal, mas sim em multa, e que não seriam recrutados funcionários de bancos, de informática e jornalistas que “realizem atividades que o Estado considere indispensáveis”. Porém, isso não dissipou as preocupações das pessoas, uma vez que corre o rumor, desmentido pelas autoridades, de que estão tentando recrutar a qualquer um que tenha idade de servir no exército. 

São difundidos através das redes sociais vídeos que mostram que não estão sendo cumpridos os requisitos, elaborados pelos estrategistas militares para acalmar os ânimos na sociedade e recrutar, em primeiro lugar, “só reservistas com experiência no exército”. 

Inclusive tentou-se chamar a filas pessoas já falecidas, como consta nas citações que exibem em suas contas os familiares, e não são poucos os casos de pessoas que receberam o temido papelzinho apesar de nunca haver feito o serviço militar por estarem isentos por razões de saúde. 

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O especialista militar Yuri Fiodorov crê que os centros de recrutamento poderão reunir sim, nos próximos meses, 300 mil reservistas. Ele assevera que esses centros estão fazendo confusão com a mobilização parcial de recrutamento, pois não terminaram ainda de incorporar os 137 mil soldados e oficiais que, por decreto, a partir de 1º de janeiro de 2023, devem formar parte do número permanente de efetivos do exército.

Fiodorov, porém, tem sérias dúvidas de que recebam a preparação adequada para poderem ser mandados aos campos de batalha, não antes da próxima primavera, e muito menos está seguro de que o exército russo encontre os cerca de 30 mil oficiais adicionais que são requeridos para dar ordens às tropas.

Juan Pablo Duch, correspondente do La Jornada em Moscou.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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