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Estados Unidos: Dívida estudantil cresce e sufoca os universitários

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Julia Hotz*

Araba Hammond, da Iniciativa de Líderes Africanos Jovens (Yali) assegura que a dívida estudantil não costuma ser um problema na África. Foto: Julia Hotz/IPS Araba Hammond, da Iniciativa de Líderes Africanos Jovens (Yali) assegura que a dívida estudantil não costuma ser um problema na África. Foto: Julia Hotz/IPS

Leah Hughes sonha ser uma organizadora comunitária nos Estados Unidos. Para esta estudante do Scripps College, no Estado da Califórnia, falta pouco para obter um duplo diploma em Relações Internacionais e Belas Artes.

“Como primeira geração em minha família que cursa universidade, minha experiência em uma instituição privada, especializada nos campos de estudo que me interessam, foi a mais transformadora da minha vida. Isso me levou a dedicar a vida ao serviço público e me deu a oportunidade de ajudar outros com o conhecimento adquirido”, afirmou à IPS.

Mas, antes que Hughes possa se dedicar ao serviço comunitário, deverá se ocupar de algo nada insignificante. A jovem acumulou uma dívida superior a US$ 30 mil em gastos com matrícula e mais de US$ 15 mil em empréstimos e juros. Ela recebeu a única bolsa que o Scripps College concede ao mérito, mas esta só cobre US$ 14 mil de sua dívida, que continuará acumulando juros anuais que não pode pagar. Ela não está só nesta batalha.

Mais de 40 milhões de norte-americanos devem US$ 1,2 trilhão em empréstimos estudantis, o que representa mais do que o dobro que se devia em 2007. “O que ocorre é uma exploração”, disse Hughes à IPS. “Se continuarmos vendendo a ideia de que a educação é a forma como os estudantes e as pessoas de baixa e média rendas, como eu, poderão ter acesso e se converter em integrantes produtivos da sociedade, estamos obrigados a lhes dar um contexto para que paguem a dívida e não fiquem paralisados pelo peso dos empréstimos pendentes de pagamento”, afirmou.

“É hora de acabar com a prática de lucrar com os jovens que procuram uma educação
“É hora de acabar com a prática de lucrar com os jovens que procuram uma educação”

Uma análise correspondente ao ano letivo 2011-2012, realizada pelo Centro para o Progresso Norte-Americano, uma instituição de pesquisa de Washington, os centros de educação superior do país arrecadaram US$ 154 bilhões a título de matrícula, enquanto as famílias e os estudantes financiaram esses gastos com empréstimos de US$ 106 bilhões dos programas públicos de ajuda estudantil.

Apesar de tudo, Olivia Murray, coautora do estudo, se entusiasma com o retorno do investimento que a universidade oferece. “Apesar do custo crescente da educação superior e da dívida potencialmente alta dos estudantes, a universidade continua sendo o investimento mais valioso que um estudante pode fazer em seu futuro, e é cada vez mais importante em uma economia em constante especialização”, afirmou.

Bolsistas da Iniciativa de Líderes Africanos Jovens (Yali) expressaram a mesma crença no valor da educação superior durante uma reunião sobre o tema realizada no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), instituição acadêmica com sede em Washington, no dia 29 de julho.

Araba Hammond e Regina Agyare, duas bolsistas da Yali, expressaram o mesmo entusiasmo que Hughes e Murray pelas vantagens que a educação superior oferece, mas afirmaram que não estão “familiarizadas” com o modelo de pagamentos estudantis nos Estados Unidos. “Na realidade, não tivemos que nos preocupar com o custo do ensino”, contou Hammond à IPS. “Até as universidades mais caras da África são acessíveis para quase todos, devido à quantidade de bolsas”, acrescentou.

Hammond não recorda de alguma de suas amizades ter se endividado por causa dos estudos, e afirmou que na África “os estudantes não se formariam com as dívidas” que os universitários dos Estados Unidos devem pagar. Agyare compartilhou das palavras de sua companheira. “Os empréstimos estudantis aqui são muito, muito pequenos”, disse.

DívidaO presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou, no dia 9 de julho, a ampliação do Plano Pay As You Earn (Pague na Medida em que Ganhe, Paye), que perdoaria a dívida estudantil daqueles que pagarem 10% de sua renda durante um prazo de 20 anos.

Em uma intervenção mais direta e imediata, a senadora Elizabeth Warren, do oficialista Partido Democrata, propôs um projeto de lei que permite aos estudantes que fizeram empréstimos o refinanciamento da dívida a taxas de juros menores. “Isso é obsceno”, afirmou Warren sobre o modelo de empréstimos estudantis dos Estados Unidos. “O governo não deveria estar ganhando US$ 66 bilhões à custa de nossos estudantes”, ressaltou.

“É hora de acabar com a prática de lucrar com os jovens que procuram uma educação e refinanciamento dos empréstimos existentes”, acrescentou a senadora por Massachusetts. Enquanto a oposição do Partido Republicano impediu a adoção do projeto de Warren, a legisladora, junto com inúmeros estudantes e famílias de classe média, mantém a luta por sua aprovação.

“Os alunos e seus pais deveriam ser capazes de refinanciar a dívida estudantil, como ocorre em qualquer outro tipo de empréstimo nos Estados Unidos”, destacou Hughes à IPS. “Sobretudo quando essa dívida estudantil está se transformando na maior das dívidas que afetam as pessoas nesse país”, acrescentou.

*IPS de Washington para Diálogos do Sul – editado por Kitty Stapp / Traducido por Álvaro Queiruga

 

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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