“Chega um momento em que o silêncio é traição”, declarou o reverendo Martin Luther King Jr. ao proclamar-se contra a guerra no Vietnã
Nesta segunda-feira (15), celebrou-se oficialmente o Dia de Martin Luther King e, é claro, as cúpulas só falarão do seu “sonho” da igualdade racial e do seu princípio da não violência, mas não farão referência à sua condenação das guerras imperiais desse país, nem à sua última campanha contra a profunda injustiça econômica dos Estados Unidos. São palavras ainda demasiado perigosas e contemporâneas.
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“Nunca mais poderia levantar minha voz contra a violência dos oprimidos nos guetos sem primeiro falar claramente ao maior provedor de violência no mundo hoje – meu próprio governo”, declarou King em seu famoso – mas quase nunca citado pelo mundo oficial – discurso em 1967, quando se pronunciou contra a guerra no Vietnã e ofereceu sua visão anti-imperial, vinculando a luta dos oprimidos dentro dos EUA às suas contrapartes ao redor do mundo.
Nesse discurso, apontou que era necessário para os estadunidenses perguntarem o que está ocorrendo com os povos que estão sofrendo a guerra travada por Washington, como no caso do Vietnã, onde se imaginava como “eles observam enquanto envenenamos sua água, enquanto matamos um milhão de acres de seus cultivos… Chegam aos hospitais com pelo menos 20 baixas por fogo estadunidense por cada ferida infligida pelo Vietcong. Até agora matamos um milhão deles, mais que nada, crianças”. Apelou por um cessar-fogo imediato, reconhecer o direito de o “inimigo” negociar dado seu apoio popular, retirar todas as tropas, etc. Insistiu que se tinha que seguir buscando todo método de protesto criativo possível na demanda de pôr fim a essa guerra.
Não é difícil imaginar King hoje rompendo o silêncio em torno à cumplicidade criminosa dos Estados Unidos na guerra de Israel contra os palestinos, agora transmitida ao mundo ao vivo todos os dias, da qual todos somos testemunhas.
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Foto: Arquivo Nacional dos EUA
“Uma injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar”, afirmou King há 60 anos.
Noam Chomsky
Outro feroz rompedor de silêncios, Noam Chomsky, uma das vozes dissidentes mais sábias da política oficial de Washington e Tel Aviv, não pôde participar fisicamente no grande debate sobre a guerra atual contra os palestinos por razões de saúde, mas suas críticas e condenação durante os últimos anos continuam muito presentes (circulam constantemente pelas redes sociais): “Há dois estados que atacam o Oriente Médio, agridem e violentam, realizam atos terroristas e atos ilegais de maneira constante, ambos são enormes poderes nucleares: Estados Unidos e Israel, os dois principais estados delinquentes do mundo”, declarou há poucos anos.
Em outro foro, afirmou que “há dois países que não só estão apelando a que uma nação não exista, a estão destruindo – esses são Estados Unidos e Israel, essa é sua posição em torno aos palestinos. Não estão só dizendo, o estão fazendo dia a dia, essas são as políticas que estão impulsionando diante dos nossos olhos”, disse há vários anos.
Uma vez mais, marcharam milhares em Washington no sábado (13) contra a cumplicidade do governo estadunidense com Israel e demandando um cessar-fogo, rompendo outra vez mais o silêncio – entre eles uma filha de Malcom X e o teólogo radical e candidato presidencial Cornel West, que marcaram o legado do reverendo – como o fizeram centenas de milhares, senão já milhões, aqui e ao redor do mundo durante os últimos três meses.
Diante do que está sucedendo em Gaza, os povos continuam exigindo, entre outras coisas, que os governos, que dizem apegar-se aos direitos internacionais e/ou são “éticos”, rompam seu silêncio ao endossar o caso de genocídio contra Israel perante a Corte Internacional de Justiça impulsionada pela África do Sul.
“Uma injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar”, afirmou King há 60 anos.
Bônus musical
Harold Melvin & The Blue Notes – Wake up Everybody
David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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