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EUA admitem risco apocalíptico de guerra nuclear e anunciam US$ 634 bi para arsenal

Cifra será gasta ao longo dos próximos 10 anos para manter, aumentar e modernizar artefatos, um aumento de 28% em relação ao período anterior
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Começa assim: “Pois, houve um ataque nuclear. Não me pergunte como ou por quê. Só necessita saber que o grande chegou”. 

O vídeo-anúncio público de 90 segundos difundido pelo governo da cidade de Nova York é narrado por uma mulher caminhando por ruas vazias e oferece três passos que os nova-iorquinos devem seguir para sobreviver a um ataque nuclear: buscar asilo no interior de um edifício, longe das janelas, não sair para reduzir a exposição ao pó radioativo e seguir instruções oficiais difundidas pelos meios.

O anúncio é transmitido agora, embora pareça relíquia de mais de meio século quando estas mensagens eram comuns, e causou suficiente preocupação, ao ponto de o governo municipal de Nova York se ver obrigado a esclarecer que não existe uma ameaça iminente de um ataque nuclear. 

Este anúncio se difunde em meio a crescentes tensões e confrontos indiretos entre Washington e Moscou em torno da Ucrânia, que incluem ameaça de uso de armas nucleares. Soma-se Pequim, nesta semana, com a visita oficial de Nancy Pelosi, presidente da Câmara Baixa do Congresso, a Taiwan, nesta terça-feira (2), como ato aberto de desafio à China. 

Na segunda-feira, na inauguração da conferência de avaliação do Tratado de Não Proliferação na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York, o secretário geral António Guterres advertiu que o mundo “está a um mal entendido, a um só erro de cálculo, da aniquilação nuclear”. 

Ao mesmo tempo, os Estados Unidos e as principais potências nucleares – incluindo Rússia e China – afirmaram que “uma guerra nuclear não pode ter ganhadores e nunca deve ser travada”.

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No entanto, enquanto promovem propostas para novos tratados de redução de armas nucleares, festejam o fato de que os arsenais nucleares se reduziram quase 90% desde 1967 e reiteram que não há vencedores em uma guerra nuclear, Washington está investindo bilhões de dólares em modernizar e até ampliar seu arsenal. 

De fato, o arsenal nuclear mundial – calculado em pouco mais de 13 mil armas, com Estados Unidos e Rússia bicampeões mundiais ao compartilhar 90% do total – está sendo incrementado pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria. As informações são do SIPRI, o mais destacado centro independente de investigação sobre armamento militar no mundo, em seu informe anual para 2022.

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“Modernização” de seu arsenal

Durante os últimos anos, os Estados Unidos estão impulsando um programa de “modernização” de seu arsenal sob governos tanto republicanos como democratas – outro dos poucos temas em que há um consenso bipartidário geral.

Os Estados Unidos gastarão 634 bilhões de dólares ao longo de 10 anos, entre 2021 e 2030, para manter e modernizar seu arsenal, um incremento de 28% sobre os gastos dos últimos dez anos, calcula o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO). Esse é um gasto muito superior ao dos demais poderes nucleares neste rubro.

O governo de Joe Biden continua e em alguns rubros tem incrementado cada aspecto dos gastos programados para o arsenal nuclear que herdou dos governos anteriores (Trump e Obama), incluindo o desenvolvimento de novas armas, reporta a Associação de Controle de Armas.

Como sempre, estão justificando tudo isso ante as ameaças de outros poderes nucleares que consideram hostis nesta conjuntura, sobretudo Rússia e China, mas também poderes potenciais como Irã e Coréia do Norte.

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“Os Estados Unidos creem que todos os Estados com armamentos nucleares têm um dever de agir de maneira responsável”, afirmou o secretário de Estado, Antony Blinken, na abertura da conferência de avaliação do Tratado de Não Proliferação na segunda-feira. Ele insistiu que o papel das armas nucleares estadunidenses é dissuadir ataques nucleares contra seu país e seus aliados. Advertiu – aparentemente sem dar conta de que contradiz a afirmação de que não há vencedores em um guerra nuclear – que “os Estados Unidos só contemplariam o uso de armas nucleares em circunstâncias extremas para defender os interesses vitais dos Estados Unidos, seus aliados e sócios”.

Vale recordar que, há décadas, especialistas têm repetido que não há salvação – dentro ou fora de edifícios – a um ataque nucelar massivo, e que um número incontável de pessoas morrerá de imediato e todos as demais seriam envenenadas por radiação que as matariam ao longo do tempo.

Durante o governo de Jimmy Carter, foram elaborados documentos, classificados e só revelados depois do fim da Guerra Fria, que concluem que uma guerra nuclear não teria um ganhador. 

Ameaças de ataque nuclear mostram que planeta é dominado por insanos

Anos antes, nos inícios dos anos 1960, o cálculo de baixas de um intercâmbio de ataques nucleares entre ambos os superpoderes apontavam 134 milhões de mortos estadunidenses e 140 milhões de soviéticos.

Líderes civis e militares mantiveram toda essa matemática em segredo até depois do fim da Guerra Fria. Cálculos oficiais de baixas por armas nucleares em tempos mais recentes continuam classificados como segredo de estado.

Assim, a 77 anos da estreia do uso de bombas atômicas pelos Estados Unidos – o único país que empregou armas de destruição em massa, ao arrojar uma sobre a cidade de Hiroshima em 6 de agosto, e outra sobre Nagasaki em 9 de agosto de 1945, causando a morte imediata de mais de 120 mil pessoas e a morte lenta de dezenas de milhares mais – o espectro da guerra nuclear não só continua contemplado dentro dos planos “estratégicos” dos Estados Unidos e dos outros  poderes, mas também alguns calculam que o risco de apocalipse nuclear nunca foi maior. 

A hora do famoso Relógio do Dia do Fim do Mundo, elaborado pelo Boletim dos Cientistas Atômicos – organização fundada por Albert Einstein e seus colegas – é fixado todos os anos em janeiro para, metaforicamente, medir o quão perto o mundo está do seu fim. Neste ano, o ponteiro foi reduzido a apenas 100 segundos da meia-noite, o mais próximo que esteve desde que estreou há 75 anos.

David Brooks, correspondente do La Jornada em Nova York.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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