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EUA: Baluarte de Trump, Associação Nacional de Rifle é acusada de fraude e corrupção

A poderosa organização que desempenhou um papel chave ao apoiar políticos conservadores tem sido enfraquecida por uma série de disputas internas
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

A Associação Nacional do Rifle (NRA), baluarte de Donald Trump e da direita estadunidense, foi acusada formalmente de fraude e corrupção pela promotora geral do estado de Nova York que busca dissolver a poderosa organização dedicada a defender o “direito” a comprar e empregar armas com mínimas restrições com o que, entre outras coisas, ajuda a facilitar o tráfico de armas ao México. 

A demanda civil anunciada por Letitia James, a promotora geral estatal de Nova York, poderia pôr em xeque a sobrevivência da NRA pela primeira vez em seus 138 anos de existência, já que a organização de lobby político pró armas mais influente do país – com mais de 5 milhões de membros – se encontra enfraquecida por problemas financeiros e uma longa disputa interna entre diversas facções.  

“A NRA está cheia de fraude e abuso, e por isso hoje buscamos dissolver a NRA, já que não há organização que esteja acima da lei”, declarou a promotora James. 

A acusação sustenta que durante anos dirigentes da organização violaram várias leis estaduais e federais ao buscar se enriquecer com o manejo irregular de dezenas de milhões de dólares.

A demanda, além de propor o desmantelamento da NRA, também busca que quatro de seus dirigentes restituam milhões de dólares e que lhes seja proibido trabalhar em qualquer organização sem fins lucrativos. 

A poderosa organização que desempenhou um papel chave ao apoiar políticos conservadores tem sido enfraquecida por uma série de disputas internas

O Barrense
Manifestação contra a Associação Nacional do Rifle (NRA)

www.catarse.me/dialogosdosulA promotora geral também informou que estava entregando a autoridades federais informação sobre possíveis violações de leis de impostos e advertiu que não são descartadas acusações criminais adicionais, pois a “investigação continua”.

De imediato, a NRA sustentou que a demanda contra ela era uma manobra política dos democratas e denunciou que a ação é “um ataque premeditado e sem bases contra nossa organização e as liberdades da Segunda Emenda que defende”. Essa emenda é a que supostamente garante “o direito” dos cidadãos às armas – embora esse interpretação tenha sido alvo de disputas durante décadas.

A poderosa organização que desempenhou um papel chave ao apoiar políticos conservadores tem sido enfraquecida por uma série de disputas internas nos últimos anos sobre a forma como é administrada, e vários de seus mais altos executivos têm renunciado ou foram expulsos como resultado disso, entre eles seu ex-presidente Oliver North – o mesmo tenente coronel culpado de mentir ao Congresso durante o escândalo Irã-Contras nos anos oitenta. 

O presidente Donald Trump também denunciou a acusação como “algo muito terrível” e recomendou que a NRA se mudasse para o Texas para “levar uma vida muito boa e formosa”. Pouco depois em um tuíte afirmou que “a Nova York da esquerda radical está tentando destruir a NRA”, e advertiu que se o democrata Joe Biden ganhar a eleição, isso marcará o fim da Segunda Emenda, com o que “suas armas serão confiscadas de imediato” ao soar o alarme para seus seguidores.  

A NRA investiu milhões para promover a eleição de Trump e seus aliados. 

Organizações nacionais dedicadas a um maior controle das armas de fogo neste país festejaram o anúncio, inclusive a Marcha por Nossas Vidas, nascida após o massacre na escola preparatória em Parkland, Flórida, encabeçada por jovens sobreviventes que criaram uma ampla aliança com outros novos movimentos em torno à violência, inclusive o Black Lives Matter.

Há mais de 390 milhões de armas de fogo em mãos privadas no país, mais que o total da população. Três de cada dez estadunidenses dizem ter uma arma. A cada ano morrem 37 600 pessoas por violência de armas de fogo. Apesar de constantes tiroteios massivos em escolas, igrejas, sinagogas, cinemas e estatísticas mortais do uso de armas de fogo sem paralelo no mundo “avançado”, a NRA e seus aliados têm conseguido manter o acesso quase irrestrito às armas como um “direito” neste país. 

A segunda-feira, 3 de agosto foi marcada pelo aniversário da matança de El Paso, na qual pereceram 23 pessoas (nove delas mexicanas) e ficaram feridas mais de 22 – o ataque mais letal contra latinos na história moderna deste país. O rifle e as balas foram compradas pela Internet por um jovem de 21 anos. 

A maioria das armas de fogo ilegais recuperadas no México foram compradas legalmente nos Estados Unidos. 

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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