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EUA: Com meio milhão de casos de Covid-19, desemprego e mortes batem novos recordes

Em apenas 21 dias 16 milhões de trabalhadores perderam seus empregos e mortos chegam a 20 mil no país, mas Trump reafirma: "estamos em boas condições"
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Como algo nunca visto antes em um período de apenas três semanas, 16 milhões de trabalhadores formais perderam seu emprego por causa da pandemia de coronavírus nos Estados Unidos, enquanto o estado de Nova York, epicentro da crise de saúde no país marcou o terceiro dia de recorde de mortes. 

Outros 6.6 milhões de trabalhadores se registraram para receber benefícios na semana passado, segundo cifras divulgadas hoje pelo Departamento de Trabalho, o que eleva a mais de 16 milhões de pessoas que ficaram sem emprego – no setor formal – nas últimas três semanas como resultados das medidas de clausura de grande parte da economia do país em resposta ao coronavírus. 

Esse total de desempregados em só 21 dias é quase equivalente ao total perdido, 15 milhões, ao longo de 18 meses durante a última recessão de 2007-2009. As cifras acumuladas de hoje indicam que um de cada 10 trabalhadores está recém desempregado. 

A onda de desempregos alcançou a quase todos os setores da economia por todo o país, e se espera que isso vá piorar nas próximas semanas, elevando potencialmente a taxa de desemprego até 15% ou mais – de fato, já não se descarta que poderia alcançar seu máximo histórico de 25% registrado durante a Grande Depressão.

E ainda mais, esse total não inclui aqueles que não estão no setor formal nem os que não têm seguro desemprego, entre esses quase todos os imigrante indocumentados do país. 

Além disso, registra-se um incremento dramático no número de pessoas que estão padecendo fome no país, segundo associações caritativas que operam centros de abastecimento e cozinhas comunitárias, algumas indicando que nunca viram tanta demanda, informaram The Guardian e o New York Times. Um vídeo recente que viralizou mostrava uma fila de quase dois quilômetros de autos esperando para chegar a um centro de assistência alimentar na área de Pittsburgh.

Em apenas 21 dias 16 milhões de trabalhadores perderam seus empregos e mortos chegam a 20 mil no país, mas Trump reafirma: "estamos em boas condições"

Wikimedia Commons
A onda de desempregos alcançou a quase todos os setores da economia por todo o país

Recorde de mortes, equipamentos de proteção e ajuda caritativa internacional

Na emergência de saúde, na qual os  Estados Unidos continua como o número um mundial com aproximadamente 500 mil casos e mais de 20 mil mortes, o estado de Nova York hoje marcou, pelo terceiro dia consecutivo, um novo recorde de falecimentos por causa do coronavírus, com 799, elevando o total a mais de 10 mil.  

No entanto, o governador, Andrew Cuomo, informou que o nível de novos casos é o mais baixo desde o início da crise, indicando que talvez as medidas de distanciamento e quarentena parcial finalmente estão tendo efeito, mas advertiu que está contra relaxar as medidas, recordando que as pandemias podem chegar em ondas.

A reserva de emergência de equipamentos de proteção pessoal como máscaras, luvas e batas do governo federal está quase esgotado, enquanto continua a carência de aparelhos de assistência respiratória por todo o país, o que está levando a que médicos em lugares como Nova York tenham que tomar decisões desnecessariamente difíceis sobre qual paciente merece ou não viver.

Diante disso, estão sendo aceitas doações caritativas do exterior. Alguns observadores assinalam que os Estados Unidos, antes provedores de assistência humanitária internacional, estão se tornando um país receptor, ao receber um carregamento de máscaras médicas e outros equipamentos enviado na quarta-feira a Nova York depois que Trump aceitou o oferecimento de assistência por parte de sua contraparte russa, Vladimir Putin.  

Há um par de semanas, o multimilionário asiático Jack Ma e sua fundação Alibaba na China anunciou uma doação médica privada aos Estados Unidos de um milhão de máscaras e 500 mil testes diagnósticos. Uma doação de equipamento médico a Cuba pelo mesmo Ma foi freada pelas medidas do embargo estadunidense há alguns dias.

A essencialidade das armas de fogo

Mas um setor da economia parece estar experimentando um auge: o das armas de fogo pessoais. Há incremento na demanda, com o Escritório Federal de Investigações recebendo durante março 3,7 milhões de solicitações de historial que é necessário para autorizar algumas vendas de armas de fogo – mais do que em qualquer outro mês em tempos recentes.  

O governo de Trump proclamou que as lojas de armas de fogo são negócios “essenciais”, permitindo que continuem abertas, da mesma forma que farmácias e supermercados, durante a pandemia. 

Alguns médicos estão rezando para que as pessoas parem de atirar, para abrir espaço nos hospitais para os pacientes do Covid-19.

Declarações contraditórias e respostas a mídia

Em sua sessão informativa, Trump de novo, no meio de uma pandemia sem precedente neste país e contra as recomendações dos especialistas em saúde pública, inclusive os seus, expressou seu desejo de reabrir a economia “logo, logo, espero”, e indicou que está sendo avaliado se há algumas partes da economia que poderiam começar a funcionar. 

O presidente tem sido cada vez mais criticado por suas declarações contraditórias, sua manipulação de cifras – por exemplo, afirmando que “estamos em boas condições” no que se refere a respiradores – e por atacar a qualquer um, sobretudo meios de comunicação, que se atreva a criticá-lo, e por sua constante tentativa de culpar a todos, menos a si mesmo, pelas consequências de seu manejo irresponsável da crise.  

Na sexta-feira (10) ele respondeu a um editorial do Wall Street Journal que criticou que o presidente estaria usando as sessões informativas sobre o coronavírus na Casa Branca para promover-se. “Talvez em sua mente sejam um substituto para seus comícios de campanha que já não pode realizar por causa dos riscos. Talvez sinta falta da adulação dos meios que tem recebido o governador de Nova York, Andrew Cuomo por seu show diário. Seja qual for a razão, os briefings agora são só sobre o presidente”, escreveu a junta editorial.

A resposta de Trump comprovou justamente o que criticava o jornal: “O Wall Street Journal sempre ‘se esquece’ de mencionar que os ratings pelos briefings da Casa Branca estão ‘pelo teto’”, e para variar acusou o rotativo de “fake news”.

Cheia de superlativos para seu trabalho, repetiu sua informação falsa de que os Estados Unidos têm realizado mais testes do que outros países, e de novo promoveu a hidroxicloroquina para o coronavírus, apesar de ainda não haver evidência de que seja efetiva. 

A Casa Branca agora administrará testes a repórteres que cobrem a fonte, pois um deles exibiu sintomas de coronavírus esta semana. 

Mensagem aos Democratas

Enquanto isso, e no meio de tudo isso, Donald Trump enviou uma mensagem furiosa à liderança democrata acusando-a de fomentar divisão em um jogo político “no meio de uma pandemia”, em resposta ao anúncio de que os democratas no Congresso iniciarão uma investigação sobre a resposta à crise pela Casa Branca. E uma vez mais, Trump regressou ao seu contra-ataque de sempre: “isto é uma caça às bruxas”. 

Mas cada vez há mais evidência que o mau manejo da crise durante os últimos dois meses pelo governo de Trump multiplicou as consequências que hoje abrumam um país com agora aproximadamente 80% de sua população sob algum tipo de quarentena, e que enfrenta o colapso em várias partes dos seus sistema de saúde.

David Brooks, correspondente do La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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