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EUA decididos a conseguir “novo equilíbrio” no Pacífico Asiático

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Jim Lobe*

 

Funcionário coreano em Zona Desmilitarizada
Funcionário coreano em Zona Desmilitarizada

Em meio de novas tensões com Coréia do Norte e, em menor escala, com China, o governo dos Estados Unidos insiste em que está decidido a conseguir um “novo equilíbrio” no Pacífico Asiático e assegura estar plenamente comprometido com a Coréia do Sul e com o Japão, seus aliados na região.

Em discurso na Sociedade Asiática em Nova York, o conselheiro de Segurança Nacional, Thomas Donilon, ofereceu um resumo da estratégia estadunidense para essa zona do planeta, destacando que o “reequilíbrio” será completo, considerando tanto o papel econômico de Washington como sua presença militar.

Ainda que grande parte do discurso repete basicamente declarações anteriores da administração, Donilon, principal assessor em política exterior do presidente Barack Obama, também anunciou novas sansões contra o Banco de Comércio Exterior da Coréia do Norte. Analistas consideram que estas novas medidas dificultarão o comercio de Pyongyang  com terceiros países.

Donilon não vinculou explicitamente as sansões com os últimos ensaios nucleares realizados pela Coréia do Norte, nem com as últimas ameaças desse país com realizar ataques preventivos aos Estados Unidos. Porém sugeriu em termos mais claros até a data que Washington responderá com a força militar a qualquer agressão norte-coreana.

“As declarações da Coréia do Norte podem ser hiperbólicas, mas com relação à política dos EUA, não deve haver dúvida: deslocaremos toda a gama de nossas capacidades para nos proteger” asseverou durante seu discurso.

Também dirigiu apelo a Beijing para aprofundar o diálogo com Washington no campo militar e a dar “passos sérios” para por fim aos ataques contra redes de informática privadas e do governo estadunidense por parte dos “ciberespiões” chineses, uma prática que, segundo ele, “converteu-se em tema chave de preocupação e discussão com a China em todos os níveis de nossos governos”. Acrescentou que ambos os países deveriam estabelecer um “diálogo direto para estabelecer normas aceitáveis de comportamento no ciberespaço”.

O discurso de Donilon ocorreu no marco de uma crescente tensão na península de Coréia, depois dos ensaios atômicos subterrâneos executados por Pyongyang e a ascensão do novo presidente sul-coreano, Park Geun-he, bem como os exercícios militares conjuntos realizados por Washington e Seul na região.

Diante dessas manobras militares, Pyongyang anunciou que declarava nulo o armistício com Seul de 1953. As novas tensões motivaram movimentos na Coréia do Sul para que esse país também desenvolva armas nucleares, tal como o Japão, depois dos novos atritos com Beijing por causa do grupo de ilhas no mar da China Oriental.

As reações belicistas em Seul e Tóquio, onde crescem dúvidas sobre se Washington pode de fato reequilibrar sua presença no Pacífico Asiático quando o orçamento do Pentágono parece estar declinando, causam preocupação ao governo de Obama.

Donilon também se referiu à meta de Washington de deslocar 60% da frota naval estadunidense do Pacífico Asiático para 2020, e de expandir os sistemas de defesa por radares e mísseis para proteger a seus aliados do “perigoso e desestabilizador comportamento da Coréia do Norte”.

“Nestes difíceis tempos fiscais, sei que alguns questionam se este reequilíbrio é sustentável”, considerou. “Porém não se equivoquem: o presidente Obama asseverou claramente que manteremos nossa presençaa de segurança e nossa participação no Pacífico Asiático”.

Além de reafirmar seu compromisso com Seul e Tóqui, o discurso de Donilon também pareceu destinado a dissipar qualquer dúvida sobre a prioridade que representa o Pacífico Asiático na nova estratégia global estadunidense, sobretudo depois  da viagem do secretario de Estado John Kerry pela Europa e Oriente Médio e a decisão de Obama de também viajar para essa região.

Donilon destacou que o novo primeiro ministro do Japão, Shinzo Abe, foi um dos primeiros líderes mundiais a visitar a Casa Branca este ano e anunciou que Park viajará a Washington em maio. Além disso destacou que por decisão de Obama Estados Unidos participarão a cada ano nas reuniões de cúpula da Ásia Oriental.

Donilon também enfatizou a importância da Ásia sul-oriental nos esforços de reequilíbrio dos Estados Unidos e inclusive da Índia, cujas política de “olhar para o leste” foram elogiadas pelo funcionário. “Não só estamos procurando um novo equilíbrio no Pacífico Asiático, como também estamos reconhecendo a crescente importância do sudeste asiático”, destacou.

“Assim como descobrimos que Estados Unidos tinham pouca presença na Ásia Oriental, também constatamos que estava especialmente ausente no sudeste asiático, e vamos corrigir isto”, afirmou para logo especificamente qualificar a Indonésia de potencial “sócio global”, como a Índia.

Donilon esclareceu que “reequilibrar” não significa “diminuir laços com importantes sócios em outras regiões”, nem tampouco querer “conter a China ou procurar ditar novos termos à Ásia”.

“Não é só a questão de nossa presença militar”, insistiu, acrescentando a importância da aproximação econômica de Washington na região, especialmente através do proposto Acordo de Associação Transpacífico, que permitirá o livre comércio entre onze países.

Robert Manning, especialista em Ásia para o independente Atlantic Council, assegura que o discurso chegou num momento oportuno. Não obstante, “teria apreciado mais se dissesse mais sobre a necessidade de que os Estados Unidos e China trabalhem para um entendimento sobre seus respectivos papeis na Ásia Oriental”, sobretudo considerando que “o nível de desconfiança estratégica”entre as duas nações está em aumento”.

 

De Washington – IPS para Diálogos do Sul.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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