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EUA se colocam como referência para o mundo, mas sua democracia é falha, diz estudioso

Vários estados colocaram barreiras que consistem em demandas burocráticas que discriminam coletivamente grupos minoritários, como negros e latinos
Redação Prensa Latina
Prensa Latina
Havana

Tradução:

A democracia nos Estados Unidos tem uma série de falhas e deficiências, algumas mais graves que outras, mas a soma delas aponta para as profundas limitações evidenciadas por uma nação cujo governo tenta dar lições para o mundo, alertou o estudioso Steve Ellner.

Uma dessas relutâncias é o próprio “sistema em que os presidentes são eleitos por um colégio eleitoral que permite a um candidato vencer com menos votos do que seu oponente”, disse o doutor em história latino-americana da Universidade do Novo México ao semanário Orbe ao se referir ao contexto político atual em seu país.

Ele lembrou que, dos últimos três presidentes, “dois foram eleitos com menos votos do que seu principal rival: George W. Bush em 2000 (com 600.000 votos de diferença com Al Gore) e Donald Trump em 2016 (com três milhões de votos referentes para Hillary Clinton)”.

Outro exemplo é que vários estados colocaram barreiras que consistem em demandas burocráticas que discriminam coletivamente grupos minoritários, como afro-americanos e latinos, explicou o editor associado da revista acadêmica Perspectivas Latino-Americanas.

Vários estados colocaram barreiras que consistem em demandas burocráticas que discriminam coletivamente grupos minoritários, como negros e latinos

Twitter | Reprodução
Dos últimos três presidentes, "dois foram eleitos com menos votos do que seu principal rival"

Exclusão de setores minoritários

Ele também disse que a exclusão em relação a setores minoritários se reflete nos casos de cidadãos que cumpriram pena. Por exemplo, na Flórida, “os ex-presidiários têm que pagar somas muito altas em dinheiro” porque, depois de saírem da prisão, ficam em dívida com o Estado.

Surpreendentemente, na terra da “democracia”, na Flórida, a maioria dos que cumpriram penas de prisão foi impedida de votar. “Em 2018, um referendo, promovido por organizações de direitos civis e a Coalizão Cristã da América, devolveu esse direito fundamental a eles”, refletiu.

Aqueles que rejeitaram a iniciativa eram em sua maioria líderes republicanos.

No ano passado, eles encontraram “um retorno à decisão do referendo de seu controle do poder legislativo: apenas aqueles que pagaram multas e taxas judiciais poderiam aparecer nos cadernos eleitorais”, disse Ellner.

É uma “questão de aritmética eleitoral”, acrescentou, “porque boa parte dos condenados pertence às minorias negra e hispânica, especialmente aqueles que não têm condições econômicas de pagar suas multas”. Esses eleitores geralmente são mais propensos a apoiar democratas ou candidatos de esquerda do que os republicanos.

Por outro lado, ele argumentou que, em 2013, a Suprema Corte, dominada pelos conservadores, praticamente aboliu a Lei do Direito ao Voto de 1965, que estabeleceu mecanismos de revisão para evitar a exclusão eleitoral contra afro-americanos.

No momento “há muitas reclamações contra os estados inclinados à direita pela prática conhecida como repressão eleitoral ou repressão aos eleitores”, enfatizou o autor e editor de uma dezena de livros sobre história e política da América Latina.

Barreiras, manobras e poder coorporativo

Ellner, por sua vez, chamou a atenção que os Estados Unidos “são um dos poucos países em que o dia das eleições não cai no domingo, mas sempre na terça-feira, o que representa um obstáculo para muitos eleitores”.

Ele também elaborou sobre “proibições que ajudam o Partido Republicano e que Trump está implementando porque sabe (e foi provado empiricamente) que a abstenção os favorece”.

Enquanto isso, o Partido Democrata “em estado após estado bloqueia os esforços de partidos progressistas e candidatos independentes porque sabe que esses candidatos subtraem votos”, disse ele, investigando os problemas da democracia estadunidense.

O professor Ellner, que também lecionou na Universidad de Oriente de Venezuela, comentou que nas campanhas para a presidência nos Estados Unidos “o mais escandaloso de todos são as contribuições eleitorais milionárias de grandes corporações e sua capacidade de manter o anonimato”.

Em 2010, após o famoso caso Citizens United, a Suprema Corte declarou que uma “corporação tem direitos como qualquer cidadão e em nome da liberdade de expressão, o estado não tem o direito de restringir sua participação na política”.

Como resultado, há um fluxo de “dinheiro obscuro” para a política estadunidense, grande parte dele proveniente de fontes ilícitas. As regras incentivam doações para campanhas que visam candidatos rivais (campanhas de difamação). “Ou seja, se eu apoiar o candidato presidencial A contra B, não há limite de dinheiro para manchar o adversário. Isso acontece em nossa democracia e tem um efeito perverso na política estadunidense”, frisou.

Poucas mudanças na política externa

Sem se aprofundar nas previsões, Ellner disse que se Joseph Biden vencer no dia 3 de novembro, “as premissas básicas da política externa de Trump não mudarão porque há um consenso entre republicanos e democratas de que os Estados Unidos têm o direito de intervir, em todos os países, nos assuntos internos de outros países’.

No entanto, sob um governo democrata, a postura em relação à Venezuela e Cuba pode ser menos hostil, embora isso não signifique que a agenda externa geral de Biden se torne “progressista” ou melhor do que a de Trump.

Redação Prensa Latina

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As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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