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Ex-presidente do México Felipe Calderón questiona julgamento de García Luna nos EUA

"Tudo foi baseado em testemunhos de criminosos confessos que nós [o governo mexicano] condenamos e extraditamos", lembra Calderón
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

O ex-presidente do México, Felipe Calderón assegurou ontem que tem “muitas dúvidas do veredito” de culpabilidade ditado contra seu ex-secretário de Segurança Pública, Genaro García Luna, que foi julgado e condenado por cinco delitos, entre esses o de narcotráfico e crime organizado nos Estados Unidos. 

Calderón respondeu brevemente aos meios de comunicação antes de participar de um fórum sobre turismo e aviação em um luxuoso hotel em Madri, o Four Seasons, em um encontro organizado pelo eurodeputado conservador José Manuel Bauzá, do partido Ciudadanos

García Luna é condenado: um novo impulso para a guerra às drogas operada pelos EUA

Desde que se emitiu o veredito de culpado nas cinco acusações imputadas a García Luna, no passado 22 de fevereiro, Calderón não havia falado publicamente. 

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No passado 2 de março, tinha previsto intervir em um diálogo com o mesmo Aznar em um fórum organizado por sua fundação, Atlântico Instituto de Estudos, mas o político mexicano decidiu cancelar à ultima hora e manter sua agenda sem atos públicos. Suas únicas opiniões as verteu, desde então, através das redes sociais. 

Ao ser perguntado sobre o veredito de culpado a quem foi sua mão direita em matéria de segurança pública e luta contra o narcotráfico, Calderón assinalou: “Sou um homem de leis e é claro que respeito as resoluções dos tribunais quando atuam conforme ao direito. Eu, pessoalmente, tenho muitas dúvidas do veredito porque teria esperado o que tanto anunciou a Promotoria: vídeos, gravações, fotografias, estados de contas, depósito, e a verdade que nada disso foi exibido. Tudo foi baseado em testemunhos de criminosos confessos, que por certo a maioria deles , ou seja, nosso governo, perseguimos, capturamos e extraditamos”. 

Calderón também se disse “vítima” de uma “perseguição política”, ao sustentar que “a decisão se tenta utilizar para exacerbar essa perseguição, que é quase pessoal por parte do governo”. 

García Luna foi chave no crescimento do cartel de Sinaloa, aponta testemunha em julgamento

García Luna foi acusado de ter um vínculo com o cartel de Sinaloa, também conhecido como o “do Pacífico”, o que Calderón afirmou: “sou um presidente que age conforme à lei, eu sou o presidente que mais combateu o crime organizado no México, que não dei trégua nem quartel no combate aos criminosos e a todos os cartéis, incluindo o chamado cartel do Pacífico.

De fato, a prova disso é que as testemunhas que foram utilizadas em dito julgamento foram perseguidas, capturadas e extraditadas por meu governo. Nunca negociei nem fiz trato com criminosos e defendi os mexicanos com toda a força da lei, com toda a força do Estado e voltaria a fazê-lo porque esse é o dever de qualquer cidadão”.

"Tudo foi baseado em testemunhos de criminosos confessos que nós [o governo mexicano] condenamos e extraditamos", lembra Calderón

La Jornada
Durante seu mandato, García Luna se converteu em um dos homens mais poderosos do México, recorda Calderón




Estaria disposto a voltar ao México? 

“Sempre estive à disposição das leis. Sou um homem de leis. O que é certo é que uma perseguição contra mim, aberta, franca, feroz, por parte do governo, que como costuma acontecer utiliza as instituições de justiça para perseguir opositores. E esse é meu caso”, asseverou

O ex-presidente Calderón também se referiu ao peso que teve García Luna durante seu mandato, que se converteu em um dos homens mais poderosos do país e que controlava todos os meandros do Estado, por isso é que apontam algumas teses de uma possível cumplicidade entre o ex-funcionário já condenado por narcotráfico e o ex-presidente mexicano residente em Madri: 

“A política de segurança do meu governo não dependia de uma pessoa, era uma equipe de segurança integrada por marinheiros, policiais, soldados e ministérios públicos. Havia dependências de onde estava a Defesa, a Marinha, o Cisen e todos coordenados pela secretaria de Governação. No recrutamento e operação dessa equipe seguiu-se a devida diligência tomando informação das dependências de inteligência mexicanas”. 

“Naquele momento, no caso deste funcionário (em referência a Genaro García Luna, ao qual em nenhum momento citou por seu nome), era alguém que havia anos trabalhava na administração pública, em dois governos sucessivos, formado em áreas de inteligência, que são muito rigorosas em seus processos de controle de confiança. 

Narcotráfico não funciona sem o governo, diz testemunha em julgamento de García Luna

“Creio que há muito que melhorar na vida pública do México, particularmente em matéria de combate à delinquência e é uma tarefa inacabada, mas o veredito não desmerece o esforço de milhares de mexicanos, de policiais, de soldados, de marinheiros, que ofereceram e arriscaram sua vida para defender os mexicanos e que claramente não dependia de uma só pessoa”, asseverou. 

Finalmente, Calderón arremeteu contra o governo do Presidente Andrés Manuel López Obrador: “Também quero dizer que há uma estratégia para que os temas fundamentais do México, como a insurreição cidadã para defender as autoridades, para frear a ditadura que vem no México, são temas que se pretendem desviar com estas ações. E por outra parte há uma marcação muito complexa nos Estados Unidos, não só em núcleos de opinião pública mas sim no governo. Vejam a declaração do ex-promotor William Barr, que esteve com o ex-presidente Trump, que teve tão próxima relação com López Obrador e que diz primeiro que o único presidente que combateu o crime organizado e os cartéis em seus serviços foi Felipe Calderón. E por outra parte, o principal promotor dos cartéis do México e seu crescimento, da impunidade que prevalece no país, foi o atual governo. E isto é tudo o que tenho a comentar”. 

Após dizer estas palavras, o ex-presidente Calderón foi cercado por responsáveis do fórum e pessoal de segurança para que, já dentro do salão Bolívar do hotel madrilenho, pronunciasse o discurso inaugural do fórum sobre aviação e turismo. 

Calderón foi convidado pelo MPE Bouza devido a suas atividades no Comitê de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Federação Internacional do Automóvel. Em seu discurso, ele convidou as companhias aéreas a agirem “com mais responsabilidade diante da mudança climática”, dizendo que a aviação é responsável por 2% das emissões globais de gases poluentes, num total de 900 milhões de toneladas de dióxido de carbono.

Armado G. Tejeda | Correspondente do La Jornada em Madri.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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