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Experiência em "intervenções" pode ajudar que os EUA salvem a própria democracia?

Assalto ao Capitólio não está relegado à história, uma vez que as ameaças de 6 de janeiro continuam muito presentes e Trump alimenta risco de golpe
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Depois de oito audiências públicas pelo Comitê Seleto do Congresso sobre o primeiro assalto violento ao Capitólio desde 1824 (quando os ingleses o tentaram) pode-se concluir que o golpe de Estado mais recente nas Américas aconteceu em Washington em 6 de janeiro de 2021. 

Esse intento de golpe, por ora fracassado, teve duas características diferentes a outros no hemisfério. Primeiro, o golpista foi o então presidente dos Estados Unidos que buscou pela sedição para manter-se no poder, violando o princípio democrático sagrado de uma transição pacífica do poder

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Segundo, foi o primeiro intento de golpe de Estado em um país das Américas na história onde não havia uma embaixada dos Estados Unidos na capital onde ocorreu. 

Ninguém se tinha atrevido a prognosticar há seis anos o que aconteceu neste autoproclamado farol da democracia, e menos ainda que o país estaria se aproximando de um abismo neofascista. Isto não é por acidente, nem por atos espontâneos, mas sim fruto de estratégias de longo prazo pela direita, implementadas com grande rigor e organização no nível local, estadual e federal, desde juntas escolares, a governos municipais, legislaturas estaduais e o pico da cúpula política nacional. E tudo isso não está relegado à história, uma vez que as ameaças de 6 de janeiro continuam muito presentes. 

Trump continua promovendo sua justificação de que a eleição lhe foi roubada, e continua instando seus seguidores a continuar na luta. “A esquerda radical não desistirá até que consigam fazer tudo o que possam para pôr fim a nosso movimento e destruir a América”, advertiu esta semana em uma mensagem aos seus fiéis.

Mas o “movimento” é mais amplo que ele. A liderança e amplos segmentos do Partido Republicano apostaram a favor de apoiar as tendências antidemocráticas como projeto para manter seu poder diante de um país que está se transformando por mudanças demográficas dramáticas – incluindo o fato de que os brancos logo serão uma minoria a mais. 

Assalto ao Capitólio não está relegado à história, uma vez que as ameaças de 6 de janeiro continuam muito presentes e Trump alimenta risco de golpe

IoSonoUnaFotoCamera – Flickr

Nas audiências sobre o Capitólio, foram divulgados múltiplos detalhes sobre a coordenação entre agrupações ultradireitistas armadas

Este fim de semana, hastearam bandeiras nazistas e outras com símbolos da ultradireita na entrada de eventos conservadores assistidos por Trump, o senador Ted Cruz e o governador da Flórida, Ron DeSantis. Legisladores federais e outros políticos afirmam que são “nacionalistas cristãos”, uma bandeira supremacista branca sob a qual se unem várias correntes da ultradireita.

A ameaça de violência política se estende – vários dos legisladores do comitê seleto e as testemunhas que participaram na investigação receberam ameaças de morte e outras formas de intimidação por parte de ultradireitistas – e há os que advogam, ou advertem, uma segunda “guerra civil”. 

Armas, supremacistas e o tuíte de Trump: A equação do assalto ao Capitólio, nos EUA

Nas audiências, foram divulgados múltiplos detalhes sobre a coordenação entre agrupações ultradireitistas armadas – as quais, junto com outros “extremistas” direitistas, são consideradas como a principal “ameaça doméstica” à segurança nacional dos Estados Unidos pelo Departamento de Segurança Interna. Também são vistos como um risco os vínculos desses grupos com estrategistas e assessores pessoais de Trump, todos os quais estavam dispostos a destruir todos os fundamentos democráticos deste sistema para “salvar” seu país – ou seja, manter o poder. 

O ex-diretor da CIA, James Woolsey, quand perguntado pela Fox News se os Estados Unidos intervieram nas eleições de outros países, respondeu que “provavelmente, mas era para o bem do sistema – para evitar que comunistas tomassem o poder, por exemplo na Europa em 1947, 48, 49, com os gregos e os italianos”. Perguntado se isso continua sendo feito hoje em dia, Woolsey titubeou e finalmente respondeu que “só por muito boa causa e sempre no interesse da democracia”. 

Talvez, com toda essa experiência com golpes e outras boas causas, ele e outros veteranos deveriam recomendar uma intervenção política, mas agora em seu próprio país, claro, para o “bem do sistema”. 

Mas, em sério, forças progressistas de outras partes das Américas, com demasiada experiência em tais coisas, deveriam considerar a forma de apoiar suas contrapartes estadunidenses em enfrentar golpes e outros ataques antidemocráticos. 

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David Brooks, correspondente do La jornada em Nova York.
Tradução de Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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