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Fácil publicar, difícil ser lido

Fernanda Pompeu

Tradução:

Fernanda Pompeu* 

Um dos maravilhosos milagres da Nossa Senhora da Internet é possibilitar a expressão de uma multidão de escribas. Está fácil publicar e quase todo mundo está bordando palavras no Facebook, Twitter, blogs e congêneres. 

A enorme vantagem de uma multidão de escribas é navegarmos na infinita leitura de pontos de vista, abordagens, narrativas. Veganos e carnívoros, devassos e evangélicos, anjos e demônios disputam olhos e atenção de leitores. Todos almejando aumentar o número de seguidores.
Fácil publicar, difícil ser lidoMas também é fato que a redação interneteira tem seus tropeços. Às vezes, quer subir a ladeira e despenca. Outras, quer amanhecer, mas entardece. Há muita produção ruim. Talvez a facilidade espantosa de postar ideias e comentários nos leve ao afrouxamento de algumas regras básicas da comunicação.
As cinco perguntinhas O que? Quem? Como? Onde? Por quê? sumiram da maioria dos textos. Alguém nos chama para um evento, mas não diz onde é. Conta o final da história, mas omite o começo. Ou mesmo escreve o começo e fica com preguiça de desenvolver a continuação.
Ou seja, o leitor acaba órfão. Vira alguém convidado a atravessar uma avenida com os olhos vendados. Ora, quem quer isso? O leitor então foge. Vai procurar outro texto que o acolha e, principalmente, que produza sentido. Somos seres loucos por encontrar sentidos.
Não importa se a comunicação é impressa ou digital, a mensagem tem que cumprir seu ciclo de vida, tem que entregar um sentido. Ela sai da cabeça de alguém, materializa-se em frases, chega na cabeça de outro alguém. Operação simples e complexa ao mesmo tempo.
Daí quando você for escrever – de um curto parágrafo a um longo romance – lembre-se que sua matéria-prima é a língua. No nosso caso, o português-brasileiro. O idioma é a plataforma de lançamento dos foguetes levando nossas ideias, opiniões, interpretações do mundo.
Quanto mais íntimos ficarem língua e escriba, melhor será a expressão. Pois, no fundo, escrever é tirar as palavras para dançar. É levá-las para o meio do salão e fazê-las sonhar. Só assim o leitor sentirá ciúmes delas e nos seguirá.
*Fernanda Pompeu é colaboradora de Diálogos do Sul. Imagem: Régine Ferrandis.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Fernanda Pompeu

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