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Falamansa: o grupo que influenciou toda uma geração a tocar sanfona e triângulo e a dançar um bom forró

Grupo trouxe o forró nordestino de volta à mídia, mas com jeito paulista de se fazer. Quarteto cantou o amor, a natureza, a alegria, mas também fez músicas de protesto
Danilo Nunes
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Foi no final da década de noventa que entre os jovens se intensificou o desejo de tocar sanfona e dançar forró pé de serra. A cena das bandas que tocavam músicas com características nordestinas nos estados do país crescia cada vez mais, o que na história da música brasileira, em diversos momentos,  já havia acontecido, trazendo para o centro das atenções grupos que se juntavam para entoarem suas influências culturais. 

A migração nordestina para outras regiões do Brasil, decorrentes de severas secas, foi um dos fatores fundamentais para que a música e a cultura do nordeste se espalhassem pelo país, influenciando cada vez mais a juventude que, através do xote, do baião, do xaxado, do maracatu, do axé, entre outros gêneros musicais, realizavam suas festas animadas e dançantes. 

O nordeste brasileiro tem uma contribuição fundamental em nossa formação cultural, principalmente na música. Muitos nomes que se tornaram representantes não só de suas regiões, como de todo o país. Luiz Gonzaga, Domingos, João Gilberto, Caetano Veloso, Raul Seixas, João do Vale, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Marinês, Daniela Mercury, Elba Ramalho, entre tantas e tantos artistas que cantaram suas raízes para o Brasil e para o mundo, estiveram no centro das produções e do mercado musical em diversas vertentes da música brasileira. 

Do Rock ao Samba, do Forró à Bossa Nova, não importava o que se produzia, pois qualidade, inspiração e criatividade sempre foram marcantes para todos (as) (es) nós.

Grupo trouxe o forró nordestino de volta à mídia, mas com jeito paulista de se fazer. Quarteto cantou o amor, a natureza, a alegria, mas também fez músicas de protesto

Reprodução: Facebook
Grupo de forró universitário Falamansa

Nas duas últimas décadas, uma nova cena de forrozeiros e forrozeiras começa novamente a ser pautada pelas grandes mídias, colocando (mesmo que muitas vezes modernizadas) as preces musicais trazidas pelo Rei do Baião com o xote, o baião e o xaxado, que contagiaram e até hoje contagiam a população, fazendo de seus bailes um dos pontos de encontros da juventude.

Chamado de forró universitário e/ou forró pé de serra, justamente por ser consumido em sua maioria por estudantes e universitários, muitos desses jovens optaram não pela pista, mas pelo palco, fazendo da sanfona, da zabumba e do triângulo seus parceiros inseparáveis no estudo da música e nas inspirações, resultando em belas composições que nos fizeram adentrar o universo musical do sertão.

Falamansa

Um dentre tantos bons grupos, então, passa a se destacar no mercado fonográfico musical. Com o nome Falamansa, três jovens do sudeste: Tato, Alemão e Dezinho, mais um experiente sanfoneiro, o Valdir do Acordeon, se juntaram, fazendo com os instrumentos tradicionais: sanfona, zabumba e triângulo, o bom forró, mas com sotaque paulista. Acabaram por influenciar toda uma geração. 

Tato traz um diferencial para o grupo Falamansa. Além de vocalista da banda, ele é violonista e, com seu instrumento, toca de um jeito bem particular (invertido sem inverter as cordas) com uma batida única, conduzindo a linha de frente da banda, cantando e compondo os grandes sucessos que conquistaram o coração do povo brasileiro. 

Um dos fatos interessantes é que quando a banda surgiu não havia muitos jovens na época que tocavam sanfona. Essa situação com o tempo foi mudando bastante. Aliás, hoje em dia vemos muitos jovens, homens e mulheres, tocando esse instrumento tão marcante na música brasileira.

O grupo Falamansa levou de volta à mídia o bom forró nordestino, mas com jeito paulista de se fazer, abrindo espaço para um grande contingente de grupos que começaram a surgir, fazendo nossos ouvidos se voltarem novamente às canções e aos autores nordestinos que deixaram registrada a força da sonoridade do sertão com seu resfôlego contagiante e bailes inesquecíveis.Tato vocalista do Falamansa / Foto: Silvio Tanaka 

Cantaram o amor, a natureza, a alegria, mas também protestaram. Sim, fizeram canções de protesto até porque a canção de protesto não necessariamente precisa ser voltada para as questões políticas institucionais, mas também é feita contra a desumanidade, a ignorância, a maldade, a irresponsabilidade com a sociedade e o meio ambiente, ou seja, contra aquilo que nos afeta de alguma forma enquanto ser social. 

O Falamansa abordou, em Cacimba de Mágoa, parceira com o rapper Gabriel o Pensador, a tragédia de Mariana, o rompimento das barragens e as situações das famílias afetadas por meio de uma canção onde se canta e se dança. E isso já é uma característica, por exemplo, do povo nordestino, assim como disse o poeta cearense Patativa do Assaré:

“Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece, procura vencer,
Da terra querida, que a linda cabocla
Com riso na boca zomba no sofrer

Não nego meu sangue, não nego meu nome,
Olho para a fome e pergunto: o que há?
Eu sou brasileiro fio do Nordeste,
Sou Cabra da Peste, sou do Ceará …”

Quantos não se identificaram com os versos de Cacimba de Mágoa? Quantas famílias afetadas pela tragédia que abalou o Brasil e o mundo, não se sentiram representadas pela canção onde ecoa através da voz de Tato versos como:

“Quem nunca viu a sorte
Pensa que ela não vem
E enche a cacimba de mágoa

Hoje me abraça forte
Corta esse mal, planta o bem
Transforma lágrima em água

O sertão vai virar mar
É o mar virando lama
Gosto amargo do Rio Doce
De Regência a Mariana…”

Recentemente, o grupo Falamansa completou vinte anos de carreira, que foram comemorados em um belo show, lembrando cada um de seus sucessos. Eles continuam a brilhar para um povo que precisa cantar, dançar e protestar. 

Suas canções continuam a tocar os corações de cada um e cada uma de nós. Falamansa é mais que sucesso midiático, é resistência cultural que continua a deixar sua inesquecível sonoridade por onde passa. A banda mantém a mesma formação de sempre, com os mesmos integrantes. É com essa identidade, com essa fidelidade ao que acreditam que fazem a banda colocar sua digital na história. 

Pra que apenas chorar nossa mágoa? Que possamos deixar a agonia de lado e transformar a dor em luta e resistência para sermos o que queremos ser e, assim, dançaremos o xote da alegria no nascimento de um novo Brasil. Um Brasil dos brasileiros, das brasileiras, um Brasil de Falamansa, de orgulho e de alegria de ser quem a gente é.

Você também pode acompanhar a prosa musical com Tato do Falamansa no domingo, 27 de junho, às 20h em nosso YouTube. O vídeo é uma parceria com o canal Sacada Cultural BR TV.

Danilo Nunes é músico, ator, historiador e pesquisador de cultura popular brasileira e latinoamericana
Instagram: @danilonunes013
Facebook: @danilonunesbr


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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