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Família de deputado paraguaio ligado a caso Ronaldinho tem envolvimento com narcotráfico

Fugindo ao protocolo tradicional, o Ministro da Justiça do Brasil, Sérgio Moro, ligou para autoridades paraguaias para saber sobre o caso e o jogador
Lúcio de Castro
Agência Sportlight
São Paulo (SP)

Tradução:

Foram brevíssimos 16 minutos.

Uma sucessão de monótonas e burocráticas falas condenadas eternamente ao ostracismo absoluto entre as notas taquigráficas do Senado.

No entanto, o que parecia apenas mais um “rolé aleatório” de Ronaldinho Gaúcho no Paraguai, torna agora obrigatório revisitar os acontecimentos e alguns personagens daquela sessão.

Eram 14h48 de uma nem sempre comum segunda-feira de trabalho para alguns senadores ali presentes quando foi aberta a “1ª Reunião de 2019 do Grupo Parlamentar Brasil-Paraguai”. Dia 19 de agosto de 2019.

Invocando a proteção de Deus, o senador Nelsinho Trad (PSD/MS), Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Congresso, declarou aberto o encontro e imediatamente registrou a presença do Senador Eduardo Gomes (MDB/TO) e de Adriana Mendoza, “Assessora Externa em Assuntos Internacionais” do gabinete do deputado paraguaio Freddy Giménez.

Explicou que não foi possível ao colega do país vizinho estar presente mas que ele tinha enviado sua representante, a citada Adriana Mendoza. Era véspera da votação do pedido de impeachmeant do presidente paraguaio Mario Abdo, de quem Freddy Giménez é grande aliado e que por fim foi neutralizado pelos partidários da situação local, o que explicava a ausência.

Fugindo ao protocolo tradicional, o Ministro da Justiça do Brasil, Sérgio Moro, ligou para autoridades paraguaias para saber sobre o caso e o jogador

Reprodução
A ligação de Sérgio Moro não foi bem recebida no país vizinho, cujas autoridades asseguram que irão seguir nas investigações.

Em seguida, avisou sobre a composição da Comissão Executiva do Grupo Parlamentar Brasil-Paraguai, aprovada e convocou o novo presidente do grupo, o senador Eduardo Gomes, a discursar.
O senador é o líder do governo Bolsonaro no Congresso, tendo substituído a deputada Joice Hasselamnn (PSL-SP) com a promessa de ser um ‘operário do presidente’.

Em breves quatro minutos, usou boa parte do tempo com citação ao paraguaio Freddy Giménez. Anunciou que o colega iria se pronunciar na sessão através de um vídeo enviado e pediu para soltar a peça, na qual Freddy Giménez exaltou projetos em comum e destacou a presença de Adriana Mendoza, sua assessora, sobre quem disse ter sido autorizada por ele a participar e ser sua representante.

A participação da assessora não se limitou a mera coadjvante. Protagonizou breve fala, onde destacou a ação em convênio com uma fundação, de nome “Vision”, e a busca do bem-estar dos avozinhos e avozinhas e a perspectiva de tornar projetos comuns.


Ás 15h04 a sessão foi encerrada.

As notas taquigráficas do Senado não registram a presença dos demais integrantes da comitiva enviada pelo deputado paraguaio Freddy Gimenez ladeando sua assessora Adriana Mendoza. Mas hoje se sabe que entre os quatro acompanhantes estava a empresária paraguaia Dalia Lopez Troche.

O fato estaria até hoje também escondido não fosse um outro quase “rolé aleatório”. Em entrevista a Revista Caras da Argentina, antes do escândalo envolvendo Ronaldinho Gaucho explodir, Dália Lopez se vangloriou de ter estado na caravana presente ao congresso brasileiro naquele 19 de agosto que parecia fadado ao esquecimento das notas taquigráficas que jamais seriam resgatadas. A empresária exaltou ainda, de acordo com ela, a amizade dela com o senador Eduardo Gomes.

Quando o escândalo de passaportes paraguaios falsos envolvendo os irmãos Ronaldinho e Roberto Assis explodiu, os jornais paraguaios resgataram a fala de Dália Lopez na revista de celebridades e lembraram o ponto de ligação com o líder do governo Bolsonaro. E não ficaram por aí: logo o Ministério Público daquele país pediu a prisão de Wilmondes Souza Lira, espécie de intermediário entre Dália Lopez e o ex-jogador. E destacou ainda que Wilmondes era amigo do senador Eduardo Gomes.

A história que chegou a ser tratada no início como mais um “rolé aleatório” de Ronaldinho Gaúcho, parece longe de ser totalmente explicada. Enquanto isso, o craque segue preso com o irmão em Assunção. Na crença de jornalistas paraguaios que acompanham o caso e foram ouvidos pela reportagem, pelo que conversam com autoridades do país, o caso pode ser um monumental esquema de lavagem de dinheiro, no qual Dália Lopez é apenas uma peça. Branqueamento de capital do narcotráfico, de dinheiro vindo de corrupção de políticos e outras lavanderias.

E no qual resta ainda esclarecer outros tantos participantes. Que aparecem no episódio ou na caravana paraguaia no Congresso brasileiro em 19 de agosto, quando Dália Lopez estava com Adriana Mendoza, a assessora de Freddy Gimenez.

Os explícitos vínculos entre Dália Lopez, Adriana Mendoza e Freddy Gimenez também devem ter papel importante. Os laços vão além do filho de Dalia, Hector Manuel D’Eclesiss, de relacionamento com parente do deputado. Dalia e a assessora Adriana Mendoza se moveram juntas nos epiódios que antecederam o “caso Ronaldinho”.

Reportagem publicada ontem no Globoesporte.com, dos repórteres Martin Fernandez e Guilherme Pereira, tem a reprodução de trechos do depoimento de Wilmondes Souza Lira, onde ele relata que a reunião onde a parceria entre os irmãos Ronaldinho e Assis com Dália Lopez para ações junto a “Fundacion Fraternidad Angelical”, da empresária e para obtenção dos passaportes, foi realizada em um primeiro momento em hotel na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, e depois na própria casa de Ronaldinho Gaúcho. E com Dália Lopez estava presente Adriana Mendoza, descrita no depoimento como “amiga de Dália”.

(arte reproduzida de reportagem do globoesporte.com):

A presença de Dália Lopez com Adriana Mendoza, a assessora de Freddy Gimenez tanto no congresso como na reunião com Ronaldinho Gaúcho, transforma o deputado paraguaio em personagem obrigatório dessa teia. 

Freddy Giménez é Freddy Tadeo D’Eclesiss Giménez, 51 anos, do Partido Colorado e líder do governo no congresso. Membro da Comissão Assessora de Relações Exteriores, do Grupo Parlamentar Brasil-Paraguai e presidente do Parque Industrial de San Pedro.

Mas sua história é muito mais conturbada do que tais credenciais. Sua biografia puxa prontuário que no desenrolar das investigações pode se revelar mais bombástico no episódio dos passaportes, caso a hipótese do uso de fundações beneficientes para lavagem de dinheiro inclusive do narcotráfico se confirme.

Freeddy D’Eclesiss Giménez, assim como alguns familiares, tem um histórico de envolvimento com tráfico de drogas internacional em diversos episódios ao longo das duas últimas décadas.
O primeiro registro do longo histórico dos D’Eclesiss com o narcotráfico vem de 1998. Abraham e Ivanm tio e primo de Freddy respectivamente, foram denunciados nos Estados Unidos naquele ano, e viriam a ser presos em 2002. Na mesma época, Raul D’Eclesiss, irmão do deputado, passou um ano preso no Uruguai por tráfico de cocaína.

Em 2005, um avião carregado de cocaína foi apreendido em um hangar da família. O juiz então encerrou o caso afirmando na sentença que a droga estava a 100 metros de distância no momento do flagrante. Um ano depois, a apreensão de 195 quilos vindos da Colômbia foi na própria fazenda dos D’Eclesiss.

Em novembro de 2014 um relatório feito por legisladores da “Comissão Anti-Narcóticos mobilizou o Paraguai, revelando o nome de políticos ligados ao narcotráfico. Na folha de pagamento do crime estava o nome de Freddy D’Ecclesiis. Na ocasião, a comissão apresentou provas documentais do envolvimento do deputado com o tráfico. Freddy D’Ecclesiis limitou-se a negar.

Em outubro de 2018, uma ação coordenada das forças de segurança do Paraguai, envolvendo Ministério Público, Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) e Polícia Nacional, batizada de “Operação Austral” atacou quadrilha atribuída por eles a Freddy D’Ecclesiis. De novo aparecia o hangar da família, onde sete aviões marcados por fazerem parte de viagens pelo narcotráfico foram encontrados. Logo depois da ação, o deputando pediu licença médica. O hangar está em nome de Juana Carolina Vera González, mulher de Victor D’Ecclesiis, irmão do deputado. Das sete aeronaves, em três foram encontradas rastros de drogas pela perícia.

O Brasil passa nas relações do deputado não só pela presença no “Grupo Parlamentar Brasil-Paraguai”. Carolina D’Ecclesiis, filha de Freddy, trabalha no consulado paraguaio no Rio de Janeiro. Chegou a ser destiuída do cargo em 2017 mas com a chegada do presidente Mario Abdo, aliado do parlamentar, retomou as funções no ano passado.

Nos negócios atribuídos a Dália Lopez, estão também companhias de fretes de aviões e as fundações beneficientes, como a “Fraternidad Angelical”, responsável pela ida de Ronaldinho Gaúcho ao Paraguai.

Hoje, a empresária, ainda foragida, ostenta riqueza e preza os holofotes. A reportagem encontrou registros da importação de um Porshe Taycan em nome da Permanent Oriental Holding, de Dalia Lopez, que chegou ao Paraguai em 6 de junho do ano passado. O modelo é elétrico e a estimativa é de que chegue ao Brasil por cerca de R$ 1 milhão.

A empresária vem de origem humilde e subitamente apareceu à frente de empresas como a Permanent Oriental Holding e de fundações beneficientes que movimentam milhões.

O episódio “Ronaldinho Gaúcho” está longe de ser um ato de prisão isolado por passaportes encontrados. As informações são de que uma investigação sobre lavagem de dinheiro por parte das empresas de Dália López e as conexões dessas empresas e tipos de negócios já vinham há seis meses e culminaram na operação. A estimativa é de que as empresas de Dália López movimentaram milhões nos últimos 5 anos sem qualquer razão aparente para tal sucesso financeiro. As autoridades dos órgãos de investigação do Paraguai agora procuram estabelecer os vínculos e conexões da empresária com políticos como Freddy D’Ecclesiss e outros, inclusive brasileiros, assim como o papel dos irmãos Assis no episódio.

Fugindo ao protocolo tradicional, onde casos como esse são acompanhados pela chancelaria de eventual país envolvido, o Ministro da Justiça do Brasil, Sérgio Moro, ligou para autoridades paraguaias para saber sobre o caso e Ronaldinho Gaúcho. A ligação não foi bem recebida no país vizinho, cujas autoridades asseguram que irão seguir nas investigações.

Outro lado:

A reportagem não conseguiu contato com o senador Eduardo Gomes. Ao jornal paraguaio La Nacion, o líder do governo Bolsonaro afirmou que “não conhece e nem apoia Dália López” e confirmou que ela esteve no Congresso em 19 de agosto, no dia da reunião do ‘Grupo Parlamentar Brasil-Paraguai”, quando se encontraram.
Também não obtivemos contato com a defesa de Ronaldinho Gaúcho e o irmão Assis. A reportagem segue aberta para qualquer eventual esclarecimento por parte dos envolvidos.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Lúcio de Castro

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