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Fazendeiros multados por desmatamento no Pantanal avançam rumo Bolívia e Paraguai

Fazendeiros paulistas no Mato Grosso do Sul estão entre recordistas de multas do Ibama na região e têm propriedades nos países vizinhos
Leonardo Fuhrmann
De Olho Nos Ruralistas
São Paulo (SP)

Tradução:

O agronegócio avança sempre em busca de novas terras. E a trajetória de muitos dos grandes proprietários que fazem parte da lista dos maiores multados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) comprova isso. Muitos saem do interior de São Paulo e avançam pelo Pantanal. Outros são donos de propriedades em outras regiões do Brasil.

As autuações indicam que o desmatamento se repete como um método. E não há sinais de que a marcha possa ser contida nem mesmo pelas fronteiras nacionais. Alguns já chegaram à Bolívia e ao Paraguai e pelo menos um deles já é alvo de denúncias de desmatamento e invasão de terras indígenas no lado paraguaio.

Casada com Marcelo Bastos Ferraz e filha de Jacintho Honório da Silva Filho, Cacilda Moraes Jacintho Ferraz tem um histórico familiar de violações aos direitos indígenas, como já mostrou o De Olho nos Ruralistas em projeto especial sobre os ruralistas brasileiros no Paraguai: “‘Barão da carne’ avança em terra Ayoreo; no MS, família é ré no caso Marcos Veron”, do especial De Olho no Paraguai.

Homenageado por Gilberto Gil com uma música que leva seu primeiro nome, o centenário Jacintho Honório é um dos réus em julgamento do homicídio do cacique Marcos Veron, em 2003, em Juti (MS), numa das áreas reivindicadas pelo povo Guarani Kaiowá. A família luta na Justiça contra a demarcação do território.

Cacilda foi multada em R$ 1.061.500 por desmatamento em Corumbá (MS), em setembro de 2018. O município na fronteira com Bolívia e Paraguai é uma das capitais da pecuária no Brasil. A base de dados da série De Olho nos Desmatadores mostra que, entre as 15 maiores autuações em municípios do Pantanal, nos últimos 25 anos, 4 ocorreram em Corumbá.

A empresa Yaguareté Porá, de criação de gado de Ferraz, foi responsável por desmatar 1,2 mil hectares do território ancestral dos indígenas isolados Ayoreo, no Paraguai. A presença dos invasores no território também ameaça a vida dos isolados, que não têm anticorpos para doenças comuns entre os não indígenas.

Fazendeiros paulistas no Mato Grosso do Sul estão entre recordistas de multas do Ibama na região e têm propriedades nos países vizinhos

Reprodução
fazendeiros no Mato Grosso do Sul acumulam terras também no Paraguai

Filho de mega multado consolida propriedades na Bolívia

O pecuarista Raul Amaral Campos recebeu uma multa de  R$ 11.030.000 em 2011, em Barão de Melgaço (MT). Nascido em Tietê (SP), ele chegou na região pantaneira em meados dos anos 70. No ano passado, recebeu o título de cidadão mato-grossense da Assembleia Legislativa, proposto pelo deputado estadual Thiago Silva (MDB).

Em 1997, o filho do pecuarista cruzou a fronteira e foi plantar soja em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Em 2004, Raul Amaral Campos Filho era sócio da Agrocen, dona de 8 mil hectares no país vizinho. Em 2010, já eram 10 mil hectares. Ele também é sócio da Fazenda Itapajé, em Rondonópolis (MT) e do Caimasul, um frigorífico especializado no abate de jacarés inaugurado em 2016 em Corumbá, criado com o apoio da Embrapa.

O vice-presidente do Sindicato Rural de Presidente Prudente (SP), Francisco José Ferreira Jacintho, também foi autuado por desmatamento no Pantanal. A multa, de R$ 4.000.000, foi imposta à sua propriedade em Coxim (MS), em 2001. Dono de propriedades em Estrela do Norte e Sandovalina, ele também responde por crime ambiental em São Paulo.

Dono de propriedades em Caiuá e Presidente Venceslau (SP), Eurydes Beretta Junior foi multado por desmatamento em R$ 6.610.000 em Corumbá, em 2018. Ele é o 12º na lista dos maiores multados no bioma, desde 1995, conforme  levantamento feito pelo observatório na base de dados do Ibama.

Tucano tem terras dos dois lados da fronteira

Multado em R$ 1.151.600 em Porto Murtinho (MS), em 2006, o político e pecuarista Nelson Cintra Ribeiro é outro personagem da série sobre o Paraguai: “Ex-prefeito de Porto Murtinho, no MS, tem terras dos dois lados do Rio Paraguai“. Ele comprou 34 mil hectares no departamento de Alto Paraguay, em 1997. A informação saiu no jornal The New York Times, em 2012, em reportagem sobre desmatamento no Chaco.

O político é candidato à eleição para prefeito em Porto Murtinho, pelo PSDB, o partido do atual prefeito, Derlei Delevatti. Em sua declaração de bens entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele se apresenta como pecuarista. Somadas as propriedades nos dois países, o político chegou a possuir mais de 55 mil hectares — em 2020, porém, ele não declarou nenhuma fazenda.

Nelson Cintra foi demitido do governo de Reinaldo Azambuja em 2017, depois de uma acusação de assédio sexual. Uma servidora estadual, a jornalista Nilmara Calamarac, fez a denúncia no ano anterior, quando o político era diretor-presidente da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul (Fundtur).

Nelson Cintra foi citado pelos donos da JBS em delação premiada, ao lado de outros integrantes do governo de Reinaldo Azambuja. Ele seria uma das dezenas de “laranjas” que emitiram notas frias para sustentar o pagamento de propinas pela J&F, a controladora da empresa. O esquema teria ocorrido nas gestões de três governadores: Zeca do PT (1999/2006), André Puccinelli, do PMDB (2007/2014) e Azambuja (desde 2015). O valor total das propinas seria de R$ 150 milhões.

Leonardo Fuhrmann é repórter do De Olho nos Ruralistas 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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