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Fazer um livro artesanal é estar fora do sistema, diz Ilka Corado sobre sua editora

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

A escritora guatemalteca Ilka Oliva Corado, colaboradora da revista virtual Diálogos do Sul residente em Chicago, anunciou seu novo projeto: uma “editora artesanal”. Seu nome é Ilka Editorial. Consiste na edição e encadernação de seus próprio livros, utilizando recursos básicos, com o único objetivo de aproximar seus livros do leitor.

Ilka, uma mulher empreendedora, também abre espaço a outros autores, que tiveram negada a publicação de seus textos. Em uma entrevista concedida ao diário La Hora Voz del Migrante de Guatemala, explica pormenores de seu projeto.

LH Voz del Migrante: O que é a editora Ilka?

Ilka Oliva: Bem, eu a chamo assim porque é um projeto caseiro: eu edito e encaderno os livros na minha casa, utilizando recursos básicos, não tenho uma gráfica, só uma impressora e fotocopiadora, que é meu instrumento de trabalho. Chamei-a de artesanal porque vejo essa atividade como a dos artesãos que utilizam suas mãos para criar arte; para mim, todo o processo de publicação de um livro também é arte e muito mais se for feito em casa, passo a passo como a confecção de um vestido na máquina de costura em um povoado inóspito. Esse vestido é muito particular pela forma como foi feito e pelas mãos de quem o fez. Por isso, eu digo que é artesanal, porque imagino um processo assim, muito fora do sistema.

Como surgiu este projeto e por que?

Era o que faltava, só faltava: que eu mesma fizesse meus próprios livros. Para mim é a continuação de algo que iniciei há alguns anos com a publicação do meu primeiro livro. Um processo natural, algo que tinha que acontecer. Não foi algo planejado, a ideia surgiu um dia e eu comecei a fazê-la andar nesse dia mesmo, e em coisa de uma semana já tinha os materiais para imprimir e comecei a criar a página na internet.

Quais são as suas expectativas?

Realmente busco somente aproximar meus livros do leitor e de quem queira publicar ali. É um projeto independente que busca espaço como o que é, uma editora alternativa. Sem complicações, é muito simples como tudo na minha vida, busca que quem quer dar a conhecer sua voz seja escutado por um tipo de público que se sinta identificado com ela, isso é tudo.

Qual é a razão de abrir espaço para outros autores?

Para dar a eles a oportunidade que me negaram as editoras, para que encontrem na Ilka Editorial o espaço onde possam dar a conhecer seus livros, sem que tenham que ser recusados por não ter contatos, nomes reconhecidos ou títulos universitários, como aconteceu comigo. É devolver em parte o que a vida me deu, que tem sido muito, abrindo caminho para outros. E o nome não podia ser outro, também é natural.

Quando foi aberta sua editora e quais foram os resultados obtidos até hoje? 

O projeto é relativamente novo, há algumas semanas, eu o anunciei ao público.  No momento, estão à venda os 13 livros que publiquei e são convidados mais autores a publicar nela. Foi muito bem recebido pelos leitores e creio que eles também esperavam por um projeto assim, tanto que não foi surpresa quando o anunciei. Como disse no início, é a continuidade de um caminho que comecei talvez com meu blog “Crónicas de una inquilina”.

Quantos livros já publicou e em que idiomas? 

13 livros: “Historia de una indocumentada, travessia em el desierto de Sonora-Arizona”, que foi o primeiro livro que publiquei, foi traduzido para o italiano por Edizioni Arcoiris, na Itália, para o sueco, publicado por Ilka Editorial, para o francês pela Éditions Nzoi, na França, e também foi publicado pela mesma editora na República Democrática do Congo, em Camarões e na Costa do Marfim; para o português foi publicado por Ilka Editorial. E está para ser publicado em inglês nos próximos meses, muito provavelmente no verão, também por Ilka Editorial.

Depois veio “Post Frontera”, que também é memória, como o primeiro. Depois vieram os livros de poemas: “Luz de Faro”, “En la melodía de un fonema”, “Niña de arrabal”, “Destierro”, “Nostalgia”, “Agosto”, “Ocre” e “Desarraigo”. De relatos, “Crónicas de una inquilina”, que realmente é o primeiro livro que quis publicar, mas foi um dos últimos, teve seu tempo. “Transgredidas”, que são testemunhos de mulheres que viveram violência de gênero. E o último que publiquei há algumas semanas é “Melodía de quinqué”, que são relatos também.

Com qual de todos os livros que publicou, você se identifica mais? 

Todos são meus bebês, são minhas crias e cada um deles tem um significado muito particular, tem sua própria personalidade. Eu não poderia ter um favorito, pois são meus filhos, mas “Melodía de quinqué” é um livro muito doce, há um encanto especial em seus relatos, muita inocência. E os de poemas “Luz de faro” e “En la melodía de un fonema” também têm seus encantos. “Crónicas de una inquilina”, embora tenha sido um dos últimos que publiquei contém a essência de meus anos de recém-emigrada, muitos “guatemaltequismos” e a saudade da Guatemala. E assim, eu poderia falar de cada um deles, porque todos têm um significado muito importante na minha vida e no momento de sua publicação.

Como podem ser adquiridos seus livros? 

Entrando na página da editora: aí podem ser lidos online ou, se desejam na forma impressa, podem adquiri-los também. Eu mesma os ponho no correio para o país que desejarem. Também podem ser adquiridos pela Amazon.

Quais são as suas metas a curto, médio e longo prazo na escrita? 

A verdade é que há muito tempo deixei de planejar minha vida; só vivo o dia a dia que para mim é suficiente, não deu certo planejar; eu tentei, mas não deu certo, por isso agora deixo que as coisas sigam seu próprio ritmo sem forçar nada, aprendi que a vida me dá o que necessito e estou aprendendo a recebê-lo.

E a escrita vem assim: em seu tempo, em suas formas e eu estou aprendendo a escutá-la e a compreender suas razões, eu só sou quem externa sua voz.  Não poderia jamais planejar escrever um livro, eu não escrevo para publicar, eu escrevo como catarse, jamais poderia escrever com as palavras medidas em tempo, ou buscar decorá-las ou fazê-las entrar em certo compasso para que sua cadência se encaixe em algum lugar. Talvez o que está mudando é que estou abrindo um espaço para a ficção, embora já tenha escrito antes. De fato, no último livro, a maioria dos relatos é ficção. É algo a que estou prestando mais atenção agora. Mas metas, realmente, não é algo que me interesse alcançar, é suficiente poder respirar e desfrutar do encanto da chuva e da neblina que são as musas que inspiram minha escrita.

O que deve fazer uma pessoa que deseja publicar em sua editora?

Entrar na página da editora e enviar um e-mail na opção “contacto” e eu mesma farei o contato.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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