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Foto: Governo de Buenos Aires

Feira Internacional do Livro em Buenos Aires desafia “necrocapitalismo” de Milei

O evento acontece até o próximo dia 13 de maio e pode contar - paradoxalmente - com a presença do mandatário que ataca a educação argentina
Verbena Córdula
Diálogos do Sul
Salvador (BA)

Tradução:

Na vizinha Argentina, cuja capital possui mais livrarias do que todo o território brasileiro, o atual presidente da República, Javier Milei, negou-se a contribuir com recursos públicos para ajudar no financiamento da Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, que acontece todos os anos, no mês de abril. É um exemplo de como o neoliberalismo ataca a cultura e busca deixar o povo alienado, para que a ignorância dê seu aval à destruição do Estado, sem interferências. Foi a primeira vez que um presidente daquele país negou-se a contribuir. Em contrapartida, Milei gastará mais de 300 milhões de dólares comprando avião de guerra obsoleto, o F16, com mais de 40 anos.

Organizada pela Fundação El Libro, a 48ª Feira Internacional do Livro de Buenos Aires começou em 25 de abril e acontecerá até o próximo dia 13 de maio, no centro de exposições La Rural. De acordo com comunicado da própria Fundação, a feira deverá reunir “uma verdadeira cidade dos livros, com mais de 45 mil metros quadrados de exposição”. Além dos livros em si, o evento contará com uma programação recheada de poesia, conferências, cursos, palestras, autógrafos de exemplares, entre outras atividades, que reunirão públicos dos mais variados. E provavelmente contará com a presença do próprio presidente da República, que apesar de ter negado a financiar o evento, teve a “cara de pau” (cara dura como dizem os argentinos) de solicitar um espaço para apresentação de uma publicação de sua autoria. Que paradoxal! (para não dizer outra coisa).

Milei é o mesmo presidente que reiteradas vezes grita que a Argentina não tem dinheiro (“No hay plata!”). É o mesmo que, com o seu descaso pela educação, levou às ruas centenas de milhares de jovens, adultos e idosos, estudantes e não estudantes em defesa da Universidade Pública, a qual ele está tentando destruir com recortes de orçamento na ordem dos 70%.

Esse presidente argentino lembra, e muito (infelizmente), um presidente que tivemos no Brasil, que também atentou contra a educação pública de diversas formas, sob o mesmo “argumento”: o de que a Universidade doutrina os jovens incutindo-lhes ideologia de esquerda. Quem dera que assim fosse! Não somente não o é, como a prova é, justamente, que muitos e muitas dessas/desses jovens votaram e continuam a votar em políticos de direita e ignorantes, como Milei e o nosso ex-Presidente, que não conseguem enxergar nada mais do que “comunistas” e “comunismo” onde, de fato, não há. Até porque, nem na América Latina e nem em qualquer outro lugar do mundo existe comunismo. O que existe são alguns países governados por partidos comunistas, como Cuba, Laos, China, Coera do Norte e Vietnã. Não sei se infelizmente ou felizmente, porque nunca visitei ou vivi em um desses países. O único que sei é que o capitalismo, tal como o conheço, tem sido o responsável pela destruição do meio ambiente, assim como pelo alastramento da pobreza e das desigualdades em todo o planeta Terra.

Essencial e imprescindível 

Esse capitalismo que tem gerado efeitos como, por exemplo, a concentração de dois terços da riqueza do mundo nas mãos de apenas 1% da população; aproximadamente 333 milhões de crianças em todo o mundo sobrevivam com menos de US$ 2,15 por dia, que 829 milhões de outras crianças subsistam abaixo do limiar de pobreza, com renda menor que 4 dólares/dia e que 1,43 bilhão de crianças tenham que sobreviver com menos de 7 dólares por dia, conforme adverte o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF); que deixa que mais da metade da população mundial fique sem acesso à água potável. Sem falar no custo econômico das guerras. De acordo com o índice Global da Paz (IGP), as guerras custaram ao mundo, em 2022, 17,5 trilhões de dólares. Mais que capitalismo, estamos diante de um “necrocapitalismo”.

Provavelmente por isso mesmo que presidentes como Javier Milei e o último ex-presidente do Brasil queiram aniquilar como a educação pública. Assim, a sociedade, majoritariamente, não terá acesso a informações relevantes, como essas que acabo de registrar acima. E, sobretudo, fique com a ilusão de que o capitalismo é um sistema que oferece oportunidades iguais a todas as pessoas, como dizem seus defensores. 

A leitura é um hábito imprescindível para o desenvolvimento de todas as pessoas. E precisa estar presente, de forma significativa, em nossas rotinas. Neste sentido, as feiras de livros que são realizadas em muitas partes do mundo servem como estímulo, como incentivo para que as pessoas busquem, na leitura, não apenas conhecimentos, mas, sobretudo, o desenvolvimento do seu pensamento crítico, o estímulo do seu cérebro, mas também realizem viagens através das histórias, diminuam o estresse físico e mental, estimulem sua capacidade de concentração, a qual, diga-se de passagem, tem sido altamente prejudicada pelas redes sociais. Esses são apenas alguns dos muitos benefícios proporcionados pela leitura. E é justamente por isso que o presidente neoliberal Javier Milei não quis apoiar a Feira Internacional do Livro de Buenos Aires. Mas, felizmente, com ou sem a ajuda do governo federal, as argentinas e os argentinos estão tendo sua feira, estão vendo reiterado o estímulo a esta atividade tão essencial e imprescindível.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Verbena Córdula Graduada em História, Doutora em História e Comunicação no Mundo Contemporânea pela Universidad Complutense de Madrid e Professora Titular da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, BA.

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