Em sua fala, Felipe mostra as semelhanças entre Trump e Bolsonaro que fizeram dos dois países os mais atingidos pela pandemia.
Traduzimos a fala de Felipe e reproduzimos a seguir:
“Sou um ‘Youtuber’ brasileiro, faço vídeos engraçados e opções de entretenimento para as famílias em todo o mundo que falam português; o que fora o Brasil, Portugal e Angola são, tipo, cinco famílias.
Mas não estou aqui hoje para brincar na frente de um novo público. E sim para falar a sério, você sabe que o circo provavelmente está pegando fogo.
Os americanos gostam de se gabar de ser o líder mundial em tudo. “Que a América é o melhor lugar do mundo.” E desde o surto de Covid, vocês lideram as mortes pela doença.
Foto Montagem: Blog do Esmael
Felipe mostra as semelhanças entre Trump e Bolsonaro
Isso se deve em parte, é claro, graças ao seu presidente Donald Trump, que muitos de vocês afirmam ser o pior chefe de estado do mundo democrático hoje. Bem, vou mostrar que os 200 milhões brasileiros venceram neste caso.
OK, no momento, somos apenas o segundo em mortes, mas tenho certeza de que nosso líder, Jair Bolsonaro, é o pior presidente da Covid no mundo. Bolsonaro é um militar que defendeu o uso de tortura sob a ditadura do Brasil.
Ele chegou à presidência usando declarações como esta: [Um vídeo mostra Bolsonaro segurando um pedestal de câmera como se fosse uma metralhadora e gritando: “Vamos metralhar a petezada” Em outro vídeo Bolsonaro diz que é homofóbico com muito orgulho].
Preciso dizer mais alguma coisa ou você entendeu? O Brasil é o país em que a Covid-19 que mais cresce no mundo.
A Organização Mundial da Saúde considera o Brasil o novo epicentro da pandemia. Ainda assim, Bolsonaro não mostra sinais de levar a crise a sério. Em suma, ele faz Donald Trump parecer ‘Patch Adams’ (um médico bondoso). Desde o início da crise, ele não parou de sair às ruas, incentivando outros a fazerem o mesmo.
Vocês ficaram chateados por causa de um mísero comício de Trump em Tulsa, três meses após o surto nos EUA. Mas Bolsonaro faz isso o tempo todo. Ele vai a manifestações contra o Congresso. Ele vai a manifestações pedindo intervenção militar. Ele vai a mercados urbanos lotados. Ele vai a cerimônias militares. Ele faz churrasco pulando em um jet ski. Ele vai a protestos contra a Suprema Corte.
Isso tudo seria nojento, mesmo sem a pandemia. Assim como Trump, Bolsonaro justifica suas ações professando acreditar em curas milagrosas.
Para começar, os dois estão obcecados com a hidro… hidrocloq… hidrocloroqui… Ah, cale a boca, eu sou brasileiro. Ambos estão obcecados com um medicamento do qual não há evidências de que funcione contra a doença.
Mas há uma grande diferença entre Trump falando sobre isso em entrevistas coletivas e o que nosso cara está fazendo. Bolsonaro pediu às autoridades de saúde que mudassem à força a bula oficial da cloroquina para incluir o coronavírus como uma de suas indicações
Ele também está usando o laboratório do exército para produzir a cloroquina, enquanto os hospitais públicos enfrentam a escassez de outras medicamentos, como sedativos e analgésicos. Bolsonaro também combate contra qualquer autoridade pública que promova a segurança.
Ele demitiu um ministro da saúde depois de insistir que a quarentena era uma coisa boa. Ele demitiu o ministro da saúde seguinte depois que ele se recusar a prescrever cloroquina a todos os pacientes de Covid. Ele então colocou um militar no ministério da saúde e demitiu a maioria da equipe técnica que estava lá há anos. Ele também está tentando incitar a violência.
Em abril, ele realizou uma reunião ministerial na qual disse: “Como é fácil impor uma ditadura neste País. Por isso que eu quero que o povo se arme, pois é a garantia que não vai ter um filho da puta que vai aparecer para impor uma ditadura aqui.” E ele não parou de falar. Ele também tomou algumas medidas alguns dias depois, aumentando os limites de quantidade de munição que podemos comprar e eliminando todos os regulamentos sobre armas.
Por fim, com o agravamento da crise, Bolsonaro começou a zombar dos mortos e de suas famílias. Quando o Brasil chegou a 2.500 mortos, um repórter pediu uma declaração e sua resposta foi: “Eu não sou coveiro.” Quando chegamos a 5.000 mortos foi: “E daí? Lamento, quer que faça o quê?” Quando o número de mortos chegou a 30.000 foi: “Lamento, mas é o destino de todo mundo.” Quando chegamos a 50.000 mortos, ele ficou musical (mostra o sanfoneiro tocando a Ave Maria completamente desafinado. Quando chegamos a 60.000, ele não disse nada, o que provavelmente foi o melhor.
É tão feio que até Donald Trump admite que não estamos indo bem: “Pergunte a eles como estão indo no Brasil. Ele é um grande amigo meu. Não é bom.” Mas há algo mais que Trump diz que gostaria de mostras para vocês: Trump chama Bolsonaro de um bom amigo, e essa amizade é crucial para Bolsonaro manter sua popularidade. Isso legitima Bolsonaro.
Vocês são o líder mundial em mortes por Covid e, agora, estão nos conduzindo ao abismo. O presidente de vocês tem poucos operadores pelo mundo. E nós somos os danos colaterais deles.
Portanto, se você está se perguntando o que pode fazer para ajudar o Brasil a lidar com nossos lunáticos, não reeleja o seu. Em novembro, vote para manter Trump fora da Casa Branca.
Assista ao vídeo com o original em inglês:
Americans may think no one is handling the coronavirus worse than President Trump. But @felipeneto says President Jair Bolsonaro of Brazil is much, much worse. https://t.co/eb2NctOXDz pic.twitter.com/XyCZxlxqgK
— New York Times Opinion (@nytopinion) July 15, 2020
O Jornal escreveu: “Os americanos podem pensar que ninguém está lidando com o coronavírus pior do que o presidente Trump. Mas @felipeneto mostra que o presidente Bolsonaro do Brasil é pior, muito pior.”
Resumidamente, Felipe Neto pede para os americanos não votarem em Trump; pois, se ele não for reeleito, o poder de Bolsonaro diminui, assim como as suas chances de reeleição.
O vídeo foi publicado na seção de opinião do jornal The New York Times.
Esmael Moares é editor do Blog do Esmael
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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