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Feminismo, PT, Lula e Lava-Jato: o protagonismo de Marisa à frente do Brasil

Biógrafo da "ex-primeira-companheira" Camilo Vanucchi conta que as tensões com a operação Lava-Jato e assédio midiático foram demais para Marisa Letícia
Mariane Barbosa
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

No início da década de 1980, o Brasil assistia às grandes greves dos trabalhadores que aconteceram em São Bernardo do Campo. Nesta mesma época, um partido para defender a classe operária começou a ser desenhado, e, por trás de toda a luta dos muitos pais de família e mães que exigiam seus direitos e salários melhores, Marisa Letícia Lula da Silva foi fundamental na construção de uma luta que se estenderia por todo o país.

“Marisa era uma conselheira informal de Lula”, disse o jornalista, escritor e ex-integrante da Comissão Municipal da Verdade em São Paulo, Camilo Vannuchi, que está lançando o livro “Marisa Letícia Lula da Silva” e conversou com a TV Diálogos do Sul sobre a “primeira-companheira” do Brasil.

De acordo com Vanucchi, muitos ministros contam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passava horas em reuniões, com uma série de decisões tomadas, ia para casa e voltava, no dia seguinte, ou com outra opinião ou trazendo algum elemento a mais sobre o tema. “Eu acho que esse foi o tipo de papel que ela desempenhou, o de ser uma conselheira informal”, diz.

Biógrafo da "ex-primeira-companheira" Camilo Vanucchi conta que as tensões com a operação Lava-Jato e assédio midiático foram demais para Marisa Letícia

Reprodução: Twitter
Capa do livro sobre a ex-primeira dama Marisa Leriticia escrito por Camilo Vanucchi

“Ela chamava a atenção dele e sempre o questionava: ‘como o trabalhador da fábrica da Volkswagen, da Ford, vai ficar com essa medida?’, ‘com essa decisão de vocês, a vida do trabalhador vai melhorar?’, ‘você falou com o pessoal da CUT?’, conta, ao ressaltar o comprometimento dela com a questão trabalhista. 

Primeira-companheira

Mas não foi assim só na presidência da república. “Marisa foi fundamental na construção do PT (Partido dos Trabalhadores), porque como ela era mulher do presidente do sindicato dos metalúrgicos, todas as mulheres acabavam se espelhando nela e houve um movimento de mulheres, um movimento de formação política naquele momento”, lembra.

Desde o início, Marisa contribuiu para o fortalecimento do PT. O jornalista relata que, no início, o partido formava núcleos de bairros com o objetivo de coletar assinaturas para validar a legenda. “Ela teve esse papel de pegar a prancheta, ir de casa em casa, vendia rifas, organizava bingos, organizava o movimento”.

Mas, Vannuchi conta que a “primeira-companheira” não está na mesa de fundação do PT, só tem homens ali, mas ela deveria ter a carteirinha número 2, porque o PT não teria nascido sem essa contribuição”, ressalta.Lula e Marisa em foto oficial do planalto/ Fonte: Winkiemedia

Feminismo de Marisa transformou Lula

“A Marisa tinha muitas brigas com Lula por ele ter uma postura machista naquele momento”, diz Vannuchi, ao explicar que é preciso ter a perspectiva histórica de que naquele momento, infelizmente, as mulheres não tinham voz ativa.

O biógrafo explica que como Marisa não era famosa, reconhecida, não tinha espaço midiático para fazer este debate publicamente, mas trabalhava o tema no âmbito doméstico. “Ela falava coisas que pra nós hoje pode ser muito pouco, (…) ela [sempre dizia, por exemplo], que Lula lavava a louça do almoço e que nunca lavava as roupas íntimas dele e dos filhos.”

Vannuchi explica que essa era a forma de ela dizer, naquela época: “olha como eu sou feminista” e que essa postura foi fundamental para que Lula transformasse o discurso e a postura dele. “Lula não é uma pessoa machista hoje em seus discursos e atitudes e ela foi fundamental nessa construção”.

Lava-Jato

A ex-primeira-dama faleceu em fevereiro de 2017. Ao longo de 2016, explica Vanucchi, as tensões com a primeira parte da operação Lava-Jato foram muito grandes para uma mulher que já sofria com problemas de saúde. Marisa tinha um aneurisma cerebral há 10 anos.

O autor lembra que, na época, a operação fez uso de abusos legais: como o vazamento de conversas dela com o filho, a condução coercitiva de Lula e diversas capas agressivas de meios como Veja, Época e diversos jornais acusando sua família das mais diversas irregularidades. 

“E ela sempre foi uma leoa com os filhos. A condução coercitiva atingiu até os netos de cinco e seis anos de idade, então isso começou a deixá-la em uma posição de desconforto, de angústia”, explica o biógrafo.

O jornalista conta que Marisa teve participação importante na compra das cotas do empreendimento da Bancop, no Guarujá. O famoso caso do Tríplex que levou Lula à prisão. Tratava-se de um apartamento que talvez fosse revendido como forma de investimento.

“Ela que sempre tomou muito cuidado para não falar algo que pudesse atrapalhar o governo Lula ou o PT”, se viu em uma situação em que tanto o sítio que ajudou a reformar como as cotas do apartamento resultaram em criminalização de seu marido e do partido que ficou 37 anos construindo, ressalta Vanucchi.

Com a tensão provocada por todo o ambiente criado pela mídia, ela passou a fumar dois maços de cigarro ao invés de um por dia, sendo que ela já tinha um aneurisma. “É um ambiente que, de fato, propiciou uma tensão constante”, conta. “E com uma saúde deteriorada pelo cigarro, ela começou a beber mais álcool, a comer pior… Os médicos concordam que essa não era a condução adequada para quem tem um aneurisma”, lamenta.

Serviço:

Livro: Marisa Letícia Lula da Silva 

Editora: Alameda 

Link para compra:  http://www.alamedaeditorial.com.br/historia/marisa-leticia-lula-da-silva-de-camilo-vannuchi


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Mariane Barbosa

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