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Fome já bate à porta da sociedade dos EUA, onde número de desempregos quebra recordes

Enquanto multiplicam-se respostas sociais para atender aos famintos, em apenas 5 semanas, 26 milhões de trabalhadores solicitaram seguro desemprego
David Brooks
La Jornada
Nova York

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Em apenas cinco semanas mais de 26 milhões de trabalhadores do setor formal solicitaram benefícios de desemprego, um nível sem precedentes desde a Grande Depressão, como resultado do fechamento da economia em resposta à pandemia do coronavírus nos Estados Unidos. E com isso se avizinha outra crise no país: a fome. 

Na última semana, outros 4 milhões e 400 mil trabalhadores solicitaram benefícios de desemprego, reportou o governo federal, elevando com isso o total a 26,5 milhões desde que foram implementadas as medidas de distanciamento e quarentena parcial para todo o país. Este total não inclui trabalhadores em alguns setores informais, e nenhum imigrante indocumentado que não têm acesso à assistência pública.

A crise econômica afetou quase todos os setores econômicos do país. Economistas calculam que a taxa de desemprego está agora entre 15 e 20% – no pior momento da Grande Depressão atingiu 25%. 

Diante da crescente crise, o Congresso aprovou outro pacote de resgate econômico de 484 bilhões de dólares para agregar ao fundo de empréstimos para pequenos negócios criado pelo pacote anterior que se esgotou quase de imediato, e assistência para hospitais e exames diagnósticos. Com isso, o governo terá aprovado quase 3 trilhões de dólares desde fins de março para enfrentar a crise econômica e todos sabem que vai ser preciso mais no futuro imediato.

Enquanto multiplicam-se respostas sociais para atender aos famintos, em apenas 5 semanas, 26 milhões de trabalhadores solicitaram seguro desemprego

Instituto Liberal
Em apenas cinco semanas mais de 26 milhões de trabalhadores do setor formal solicitaram benefícios de desemprego.

Armadilhas

Novas revelações indicam que várias empresas não tão pequenas como prestigiosas universidades, entre elas Harvard, se aproveitaram dos fundos governamentais de resgate econômico a custa de pequenos negócios e instituições em estado frágil, já que os bancos que administram os fundos favoreceram seus melhores clientes. 

Enquanto isso, escondido dentro desse primeiro mega pacote de resgate de 2,2 trilhões supostamente dedicado ao apoio de milhões de famílias e pequenos negócios, havia algumas medidas em um total de 195 bilhões de dólares incluídas por republicanos que beneficiam milhares de milionários com a média de 1,6 milhões a cada um, mil e trezentas vezes mais que a assistência aos cidadãos “comuns” sob essa lei, denunciaram dois legisladores democratas ao USA Today.

Como sempre sucede em uma crise econômica, os mais afetados são os de renda média e baixa, sobretudo os imigrantes. 

Em uma sondagem do Pew Research Center, 43% de todos os adultos estadunidenses reportam que eles ou alguém de sua família perdeu o emprego, ou sofreu uma redução de renda. Mas 52% das famílias de baixa renda (menos de 37.500 dólares por ano para uma família de três pessoas) informaram que um integrante ficou desempregado, em contraste com 32% das famílias de alta renda (mais de 112.600 mensais), com 42% dos que estão no meio informando a mesma coisa.  

Seis de cada dez latinos disseram que eles ou alguém de sua casa perderam um emprego, ou viu seu salário ser reduzido por causa da pandemia, o número mais alto, segundo a mesma enquete. 

Fome

Para milhões tudo isto leva ao que se chama de “insuficiência alimentícia”, ou seja, fome. Mesmo antes desta crise 37 milhões de pessoas (incluindo 11 milhões de crianças) padeciam alguma forma de fome, segundo a Feeding America.

As entidades dedicadas a combater a fome por todo o país reportam incrementos dramáticos na demanda e alertam que logo não terão com que satisfazer as necessidades, e as filas para receber as contribuições são quilométricas em alguns lugares. 

Por sua vez, multiplicam-se iniciativas e organizações de assistência mútua em diversas esquinas do país cuja primeiro tarefa é assegurar a entrega de alimento aos mais vulneráveis em suas comunidades. 

Talvez a iniciativa voluntária mais notável é a do famoso chef espanhol José Andrés em Nova York, Baltimore e Washington, convertendo seus restaurantes em centros comunitários de alimento produzindo milhões de refeições através de seu projeto “World Central Kitchen” 

Mas quase todo mundo concorda que, neste país, ninguém viu desemprego e fome dessas dimensões, muitas resultantes não do próprio vírus, mas da gestão política dessa pandemia. 

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York.

Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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