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Frei Betto | Comunicação é questão de saúde pública; é preciso libertá-la do neoliberalismo

Não se pode admitir que os interesses do mercado estejam acima dos direitos da coletividade
Frei Betto
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

A Unesco aprovou, em 1976, o Informe MacBride, elaborado por Sean MacBride, Prêmio Nobel da Paz e Prêmio Lenin da Paz, sobre o direito de todos os povos participarem equitativamente dos meios de informação e comunicação. Marshall McLuhan e Gabriel García Márquez o aplaudiram; Ronald Reagan vaiou…

O Informe adverte sobre os perigos da monopolização midiática, o poder de alguns veículos de impor um modo de pensar, agir, consumir e divertir-se. Como alerta Fernando Buen Abad, tais veículos são verdadeiras usinas de políticos e governos.

“O velho mundo morre. O novo demora a nascer” (Gramsci)

Hoje, as plataformas digitais são verdadeiras Hidra, o monstro de sete cabeças. E ainda não apareceu um Hércules que possa matá-la. Em minha opinião, as plataformas só deixarão de disseminar seu veneno no dia em que houver uma regulação internacional sob controle do poder público. Enquanto elas detiverem o monopólio privado de manipular informações, a democracia estará severamente ameaçada pelo surgimento de figuras histriônicas e perversas como Jair Bolsonaro (Brasil), Javier Milei (Argentina) e Nayib Bukele (El Salvador), para ficar apenas em exemplos latino-americanos.

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Não se pode admitir que os interesses do mercado estejam acima dos direitos da coletividade

Wikimedia Commons
Frei Betto: A democracia precisa ser libertada de seus vícios conservadores e emancipada da apropriação burguesa

Os governos progressistas raciocinam, em geral, pela lógica do sistema. Centram suas pautas no desenvolvimentismo, como investimentos em infraestrutura, o que amplia os postos de trabalho e melhora as condições de vida da população. Priorizam também o combate à inflação, o aumento dos salários, e o acesso à alimentação, saúde e educação.

Tudo isso é positivo, mas não suficiente. É preciso algo mais: a revolução das consciências. Sem isso não se forma uma cultura democrática, de respeito aos direitos humanos, à diversidade, e de cuidado do meio ambiente.

A democracia precisa ser libertada de seus vícios conservadores e emancipada da apropriação burguesa. Não pode perdurar como mero jogo de aparências, refém, de fato, do capital financeiro, ou seja, da minoria rica e poderosa da sociedade. Faz-se imprescindível um trabalho educativo que forme consciência crítica e desperte a sensibilidade indignada frente à opressão, à discriminação e à violência.

A comunicação é, hoje, uma questão de saúde pública. Não se pode admitir que os interesses do mercado estejam acima dos direitos da coletividade. E não é com fraseologia de esquerda que vamos politizar o povo. É com método pedagógico e educação crítica. Eis a única forma eficiente de combater as armas de guerra ideológica do neoliberalismo.

Frei Betto | Escritor, autor de “Por uma educação crítica e participativa” (Rocco), entre outros 76 livros editados no Brasil, dos quais 42 também no exterior. Você poderá adquiri-los com desconto na Livraria Virtual – www.freibetto.org. Ali os encontrará a preços mais baratos e os receberá em casa pelo correio.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Frei Betto Escritor, autor de “Cartas da prisão” (Companhia das Letras); “Batismo de sangue” (Rocco); e “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros 74 livros editados no Brasil, dos quais 42 também no exterior. Você poderá adquiri-los com desconto na Livraria Virtual – www.freibetto.org. Ali os encontrará a preços mais baratos e os receberá em casa pelo correio.

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