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Gás, petróleo e a opção de Bolsonaro de transformar o Brasil em um república bananeira

Como nos demais países, o petróleo poderia ser o impulsionador do desenvolvimento brasilero. Por que não é? Por que sucateiam nossas indústrias?
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Como o Brasil voltou a ser uma república bananeira, que só exporta produtos primários, a queda na produção ou nos preços desses produtos, afeta inevitavelmente a formação do Produto Interno Bruto (PIB). 

Ocorre também que os preços dessas matérias primas, denominadas commodities, não são determinados pelos países produtores, mas sim pelas megas corporações compradoras. Como também são cotadas em bolsas, estão sujeitas à especulação. 

A ex-estatal Vale, hoje a maior mineradora do mundo, anunciou queda de 23% na produção, algo como 92,8 milhões de toneladas e isso reduzirá o PIB. E veja bem. A empresa é responsável pela morte de centenas de trabalhadores e moradores (300 mortos só em Brumadinho), contaminação de terras agrícolas e morte de importantes rios, como o Rio Doce, que levou a contaminação até águas territoriais do Atlântico.

Em um país deste tamanho (o Brasil é um continente), os investimentos em infraestrutura estão congelados e não se vê como possa aquecer a economia. Para fazer caixa, a única solução que apresentam é a da venda de ativos. O dinheiro vai para o caixa, mas a economia não se move. 

O que acontecerá quando não houver mais ativos para vender?

Esses ativos constituem a riqueza material da nação, pertencem a todos nós. Apropriar-se como se dono fossem para vender a preço de banana é crime de lesa-pátria.

A compra de ativos é um investimento praticamente sem risco para o investidor. Recebe um bem produzido sem os custos para a geração deste e ainda recebe financiamento público para gerir o bem adquirido.

Tomemos um exemplo.

A Petrobras construiu um gasoduto de 4,5 mil quilômetros que era operacionalizado pela Transportadora Associada de Gás (TAG). Para dimensionar isso, não basta calcular o custo da obra. Há que considerar muitos anos de pesquisa e formação de engenheiros e técnicos, inteligência para projetar o produto. Quanto custa isso?

Esse gasoduto foi comprado pela francesa Engie, associada ao fundo canadense Caisse de Depot e Placement de Quebec por US$ 8,6 bilhões, uns R$ 33 bilhões. A Petrobras ficou só com 10% das ações com promessa de dele se desfazer.

Quanto de dinheiro essas duas empresas estão trazendo para o Brasil? Acho que nada. R$ 22 bilhões serão financiados pelos bancos e R$ 11 bilhões aportados pelas duas compradoras.

Em relatório ao conselho de administração, a presidência da empresa informou que em 2017 atingiu-se o recorde anual histórico do volume médio de gás natural movimentado na infraestrutura da Companhia, de 50,2 milhões de m3/d. Em outubro, este valor atingiu a marca histórica de 57,7 milhões m3/d;

Para um capital social de pouco mais de R$ 5 bilhões, a empresa realizou investimentos de R$ 21,9 milhões, para adequação e manutenção da malha de gasodutos e implantação e modernização de pontos de entrega.

Destaques financeiros em 2017:

Receita Operacional Líquida R$ 4.590 milhões

EBITDA [1] R$ 4.250 milhões

Resultado Líquido R$ 2.342 milhões

Ao longo de 2018, foi movimentado e faturado pela TAG um volume médio anual de 48,4 milhões de m3/dia de gás natural, em sua infraestrutura de transporte. No mês de julho de 2018 atingiu-se a marca histórica de 61,8 milhões m3/dia de gás natural transportado. 

Foram realizados investimentos na ordem de R$ 41,1 milhões, para adequação e manutenção da integridade operacional da malha de gasodutos, incluindo a implantação e modernização de pontos de entrega 

Destaques financeiros em 2018: 

Receita Operacional Líquida R$ 4.943 milhões

EBITDA R$ 4.714 milhões

Resultado Líquido R$ 2.479 milhões

Em julho de 2018, Tribunal Regional Federal da 5ª Região suspendeu a venda da TAG com a qual pretendiam arrecadar US$ 7 bilhões. Conseguiram anular a sentença e venderam por US$ 5 bilhões. Uma vergonha. Por que será que duas empresas estatais se juntaram pra comprar a TAG?

Se não fosse um bom negócio, a Engie não teria 32 mil quilômetros de gasoduto mundo afora e 200 mil quilômetros de rede de distribuição de gás. Tem lucro explorando os países e vende mais barato o gás para os franceses.

Como nos demais países, o petróleo poderia ser o impulsionador do desenvolvimento brasilero. Por que não é? Por que sucateiam nossas indústrias?

Wikicommons
Por que sucateiam nossas indústrias?

Petróleo e Petrobras

Por que o valor da Petrobras cai?

Diz manchete do Estadão que caiu R$ 32 bilhões por conta das intervenções do capitão presidente, que resolveu unilateralmente manter o preço do diesel por medo de uma nova paralisação dos caminhoneiros, igual ocorreu no ano passado.

As ações caíram 8,5%. Caramba! É hora de comprar ações. Pena que a gente não tem dinheiro, pois uma petroleira como a Petrobras jamais quebrará, a não ser que por maldade queiram depreciá-la pra vender bem baratinho pra Exon estadunidense, ou as estatais europeias.

Dizem os financistas que tomaram conta da empresa que ela perde R$ 13 milhões por dia ao não reajustar o preço do diesel. Falácia das falácias. A Petrobras vende petróleo bruto no mercado internacional e compra refinados, gasolinas especiais, querosene de aviação e diesel, fundamentalmente, e conseguiu um certo equilíbrio da balança comercial.

Na atual circunstâncias, em que já produz excedentes de petróleo, poderia ser auto-suficiente em todos os derivados do petróleo e ainda exportar, não o petróleo bruto, mas derivados com alto valor agregado. Sabe fabricar o diesel e, domina também a tecnologia do biodiesel, e do etanol para aviação. 

Como nos demais países, o petróleo poderia ser o impulsionador do desenvolvimento. Por que não é?

Por que entregar nosso petróleo a estatais italianas, francesas, holandesas ou chinesas?

Por que sucatearam a indústria petroquímica?

Primeiro porque a Petrobras, desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, não é mais uma empresa estatal. É uma empresa de capital aberto com ações comercializadas na bolsa de Nova York ou Londres, mecas da especulação financeira do neoliberalismo. Nem a Bovespa tem influência sobre as oscilações das ações da petroleira.

A União, teoricamente, mesmo sendo acionista minoritária teria o controle. Porém… concorda com a venda de ativos. O que os investidores querem é a própria Petrobras e os gestores da economia nacional querem livrar-se da empresa. Dizem isso claramente. E a mídia, prisioneira do capital financeiro, apoia e ainda tem a desfaçatez de comparar Bolsonaro a Lula por ter intervido no preço do diesel.

*Paulo Cannabrava Filho é editor da Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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