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“Genocida Joe”: atos pró-Gaza ganham força nos EUA e comícios viram dor de cabeça para Biden

Movimentos se tornaram tão comuns que até transcrições oficiais de discursos e eventos emitidos pela Casa Branca incluem as expressões de protesto
Jim Cason
La Jornada
Nova York

Tradução:

Rabinos judeus em Nova York, pastores afro-estadunidenses na Geórgia, árabe-estadunidenses em Michigan e jovens em todo o país continuam alimentando um movimento incessante em busca de que o presidente Joe Biden promova um cessar-fogo e ponha fim à sua cumplicidade na guerra de Israel em Gaza. O volume desse movimento chegou a tal ponto que a democrata mais poderosa da Câmara Baixa chegou a acusar aqueles que chamou de “pró-palestinos” de estarem “conectados com a Rússia” e ameaçou solicitar ao FBI que os investigue.

Uma reunião – programada entre a coordenadora da campanha de reeleição de Biden, Julie Chávez Rodríguez, neta de César Chávez, e vários líderes árabes-estadunidenses eleitos na última sexta-feira (26) – foi cancelada depois da oposição dessas comunidades. Assad Turfe, um político local eleito, informou à campanha de Biden que “a menos que algo drástico aconteça, vocês perderão a comunidade árabe-americana e muçulmana. Do jeito que vejo, não há mais como recuperá-los; essa era a ideia por trás dessa reunião cancelada”. Michigan tem a maior concentração de árabe-estadunidenses no país e é um estado onde Biden precisa ganhar para triunfar na eleição geral.

Na Geórgia, outro estado crucial no mapa eleitoral para Biden, centenas de pastores afro-estadunidenses publicaram uma declaração no Atlanta Journal apelando por um cessar-fogo, e vários comentaram para os meios de comunicação que estão considerando cancelar convites a políticos do Partido Democrata que haviam sido convidados para falar com seus fiéis sobre a eleição geral de novembro. Esse setor é determinante para Biden e para os Democratas.

Gritos de “você está financiando o genocídio” interromperam várias vezes um discurso de Biden em um comício eleitoral na Carolina do Sul, em 20 de janeiro, e o presidente já não pode se apresentar em eventos públicos sem ser interrompido por expressões de repúdio à sua política. Na verdade, isso já se tornou tão comum que até as transcrições oficiais desses discursos e eventos emitidos pela Casa Branca incluem essas expressões de protesto.

E frustrando tentativas de desqualificar críticas a Israel e à cumplicidade americana ao acusar que são “antissemitas”, muitos dos que interrompem esses eventos e participam das ações de protesto são judeus, especialmente jovens. Na semana passada, a diretoria de rabinos da organização Jewish Voice for Peace publicou uma carta aberta a Biden em página inteira do New York Times, com os dizeres: “recordaremos este momento como um em que Israel está cometendo um genocídio ajudado e apoiado pelos Estados Unidos”. Eles condenam as ações de Israel contra o povo palestino em Gaza, enfatizando que é “por nossa história” que se sentem obrigados a fazer essa denúncia, e acusam: “presidente Biden, o senhor optou pela morte. Em vez de usar seu poder considerável para prevenir ou pôr fim a este genocídio, o senhor o apoiou diretamente com armas, fundos e escudo diplomático. Se as palavras 'nunca mais' ainda têm algum sentido, têm que significar 'nunca mais para qualquer um'”.

As avaliações iniciais dos estrategistas do Partido Democrata de que esses protestos sobre Gaza se desvaneceriam com o tempo, e que os eleitores desses setores sempre fiéis aos democratas eventualmente optariam por Biden em vez de seu provável oponente Donald Trump, estão sendo substituídas por preocupações maiores pelas severas implicações que poderiam ter se continuarem ao longo do ciclo eleitoral. Por isso, a campanha eleitoral de Biden organizou reuniões e fóruns com árabe-estadunidenses, líderes religiosos afro-estadunidenses e outros que apelam por um cessar-fogo para tentar justificar essas políticas, enquanto Biden e sua equipe se recusam a mudá-las. Depois que os democratas árabe-estadunidenses locais em Michigan se recusaram a se reunir com a coordenadora da campanha de Biden, a deputada federal Rashida Tlaib, a única legisladora palestina-americana no Congresso, reuniu-se com Rodríguez Chávez, conforme relatado pelo Politico.

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Movimentos se tornaram tão comuns que até transcrições oficiais de discursos e eventos emitidos pela Casa Branca incluem as expressões de protesto

Foto: Becker1999/Flickr
Crescente oposição se expressa nas ruas, praças, edifícios públicos, universidades e através de atos de desobediência civil




Acusação contra Rússia

Respondendo à sugestão da veterana legisladora democrata Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara Baixa, de que os apelos a um cessar-fogo e manifestações “pró-palestinas” estavam de alguma forma vinculados ao presidente russo Vladimir Putin, Nihad Awad, diretor do Council on American-Islamic Relations (CAIR), declarou: “estamos profundamente perturbados pelos comentários da ex-presidente da Câmara… As afirmações da deputada Pelosi de que alguns estadunidenses protestando por um cessar-fogo estão trabalhando com Vladimir Putin soam delirantes, e seu apelo para que o FBI investigue esses manifestantes sem nenhuma prova é simplesmente autoritário… Infelizmente, os comentários de Pelosi ecoam um tempo em nossa nação quando opositores da guerra no Vietnã foram acusados de serem simpatizantes comunistas e sujeitos à perseguição do FBI”.

Abdulla H. Hammoud, o prefeito da cidade de Dearborn, Michigan, destacou o amplo apoio público ao cessar-fogo em Gaza em um comentário ao X, acrescentando que “então, com base nos comentários de Pelosi, 76% dos democratas, 49% dos republicanos e 61% dos estadunidenses são potencialmente agentes pagos da Rússia que estão promovendo a mensagem de Putin por um cessar-fogo?”

Embora a maioria da cúpula política do país não se atreva a vincular os apelos por um cessar-fogo de seus concidadãos a um complô de Putin, eles continuam a rejeitá-lo – com algumas exceções notáveis, como o senador Bernie Sanders.

No entanto, a crescente oposição continua a se expressar nas ruas, praças, edifícios públicos, universidades e através de atos de desobediência civil, não deixando os políticos, incluindo o presidente, vice-presidente e líderes legislativos, em paz em eventos públicos, e transmitindo suas mensagens por várias vias físicas e cibernéticas, incluindo a projeção da cara do presidente sobre um edifício próximo à Casa Branca que o identifica como “Genocida Joe”.

Há um site que registra os apelos por um cessar-fogo de atores, músicos e outros artistas reconhecidos (Juliette Binoche, Tilda Swinton, Roger Waters, John Cusack, etc.), sindicatos, equipes esportivas e associações de todo tipo, sobreviventes do Holocausto.

No último sábado (27), no noticiário satírico do famoso programa de comédia Saturday Night Live, um dos apresentadores noticiou que Biden estava enviando sua chefe da CIA ao Oriente Médio “porque ninguém relaxa as tensões no Oriente Médio melhor do que a CIA”.

David Brooks e Jim Cason | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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