O jornalista Ricardo Cappelli, destoando do senso comum, afirma que Jair Bolsonaro (PSL) calculou os ataques via Twitter contra o Carnaval para escapar às críticas e aos gritos como “Ei Bolsonaro, vai tomar no c…”.
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Para Cappelli, as cenas escatológicas dos rapazes publicadas no Twitter seguem a mesma lógica semiótica da guerra em curso no Brasil.
‘Se o carnaval me ataca, ele é o inimigo a ser desmoralizado e aniquilado’, teria raciocinado Bolsonaro, segundo o articulista, para quem “fraturar a sociedade” é um projeto de Bolsonaro.
De acordo com Ricardo Cappelli, o festejado Carnaval também é rejeita por evangélicos e conservadores e as cenas escatológicas ajudam a demonizar a folia de Momo.
Leia a íntegra do artigo:
Blog do Esmael
Foi calculado
Ricardo Cappelli*
Vamos reconstituir a cena do “crime”. No sábado de carnaval seu principal opositor sai da cadeia para o velório do neto, uma morte prematura e traumática que comoveu o país.
As cenas de Lula caminhando de cabeça erguida e acenando para apoiadores são de um verdadeiro gigante, que demonstra estar muito vivo no imaginário popular.
A reação do “protofascista” Eduardo Bolsonaro – até Mussolini teria vergonha dele – são rejeitadas de forma áspera por vários formadores de opinião liberais.
Nos dias seguintes, durante a festa da carne, o presidente é exaustivamente lembrado nos blocos e na avenida. “Ei Bolsonaro, vai tomar no c…”, ou “Ai, ai, ai, Bolsonaro é o c…” viram os hits do carnaval.
No sambódromo, escolas do grupo especial denunciam os assassinatos da ditadura militar, exaltam Marielle e consagram o bode nordestino vermelho dando coices nos coxinhas.
A celebração “mundana” é a apoteose da diversidade, do respeito às diferenças, da alegria da integração no paz e amor. São estes os valores que sustentaram o resultado das últimas eleições?
Vamos relembrar o episódio do #EleNao. O movimento tomou conta do Brasil. A esquerda vibrou e acreditou estar num momento de virada. Quando vieram as pesquisas “ele” cresceu. Como? Disseminaram imagens de mulheres nuas, pessoas peladas e todo tipo de exagero nas redes para destruir o significado do movimento. Sequestraram um significante deturpado numa manobra a favor do bolsonarismo.
As cenas escatológicas dos rapazes publicadas no Twitter seguem a mesma lógica semiótica da guerra em curso no Brasil. Se o carnaval me ataca, ele é o inimigo a ser desmoralizado e aniquilado. Loucura?
Quantas pessoas rejeitam o Carnaval? O que os evangélicos pensam a respeito? Como conservadores reagiram vendo as imagens postadas pelo presidente? Bolsonaro correu risco? Não há dúvida. Mas é preciso reconhecer que eles jogam e apostam pra valer.
Fraturar a sociedade é um projeto. Estes movimentos, calculados, cumprem este objetivo. Na democracia existe maioria e minoria, que se complementam num contrato social. No fascismo, há apenas ditadores e inimigos que devem ser aniquilados.
A disputa é entre civilização e obscurantismo. Não é uma disputa clássica entre liberais e socialistas. O objetivo é reescrever a história destruindo valores consagrados do humanismo. Querem quebrar a espinha dorsal de nossa brasilidade.
A “Lava Jato” da educação será parte desta guerra cultural, deste enfrentamento civilizacional que tentará nos transformar no paraíso mundial dos “terraplanistas”.
Em nome da democracia e da história de nosso país, Liberais, Democratas e Socialistas deveriam sentar e conversar.
Não há ilusão quanto à convergência nas pautas econômicas. Mas é pouco provável, dada a agressividade dos ocupantes do Planalto, que ela seja suficiente para manter unida por muito tempo uma base social ampla em torno do presidente.
Em tempos sombrios, falar o óbvio é necessário. Se o projeto deles é dividir a sociedade, o nosso projeto deveria ser unir, partindo de pautas mínimas, amplas, capazes de recolocar o país no rumo da democracia.
A bandeira democrática erguida em torno da questão nacional é a que mais temem os fascistas. Já passou da hora dela ganhar a centralidade que o momento exige.
*Ricardo Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em Brasília. Foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) na gestão 1997-1999.