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Governo Biden depende do México para enviar mais bilhões a Ucrânia e Israel

Políticas migratórias se tornaram moeda de troca no Congresso estadunidense
Jim Cason
Diálogos do Sul
Nova York

Tradução:

Uma reunião entre secretários de gabinetes estadunidenses e mexicanos na última sexta-feira (19), para negociar medidas para controlar o fluxo migratório na fronteira estadunidense, oferece mais provas de que o governo de Joe Biden necessita da colaboração do México tanto para abordar o tema migratório na fronteira quanto para obter um acordo negociado com o Congresso estadunidense para financiar mais armas e outros acordos para as guerras na Ucrânia e Gaza.

Altos funcionários estadunidenses, em uma sessão informativa com jornalistas na quinta-feira, reiteraram que a reunião bilateral de sexta seria para afinar os “interesses compartilhados” de ambos os países em reduzir o fluxo migratório indocumentado. Mas tudo indica que, nesta conjuntura, os Estados Unidos necessitam do México na temática da migração muito mais do que o México necessita dos Estados Unidos.

“Se Washington pode alcançar um acordo sobre a fronteira, seu sucesso ou fracasso finalmente poderá depender da reação na Cidade do México”, afirmou o meio político Semafor esta semana.

As pesquisas mostram que a maioria dos estadunidenses não tem confiança na capacidade de Biden para lidar com o assunto migratório – incluindo não poucos democratas – e este é um dos eixos centrais do debate eleitoral e crucial na ofensiva republicana contra Biden. Ao mesmo tempo, os republicanos condicionaram a aprovação de um pacote de assistência de 105 bilhões de dólares proposto pelo governo Biden para Ucrânia e Israel à inclusão de novas medidas anti-imigrantes, incluindo fechamento de partes da fronteira, limitação ainda maior das solicitações de asilo e aumento das deportações em massa diante do que chamam de fracasso democrata em controlar o fluxo migratório.

Reportou-se extraoficialmente que Biden aceitou várias destas propostas, mas as conversas se prolongaram durante meses. O senador democrata Chris Murphy, um dos negociadores, diz que uma das razões pela demora na complicada negociação sobre novas medidas fronteiriças é que é necessário negociar com outros poderes estrangeiros. “Se está criando novas autoridades, a reação de países sócios internacionais importa. É por isso que não se pode redigir um projeto de lei de reforma migratória com mudanças na política fronteiriça de um dia para outro, é preciso ter muito cuidado em como está redigido, é preciso incluir sócios, e o governo mexicano em particular reagirá”, comentou a Semafor.

Por exemplo, se Washington ordena um fechamento parcial da fronteira, isso implicaria que, na prática, migrantes seriam expulsos do lado mexicano. Se os Estados Unidos endurecem os requisitos para os solicitantes de asilo, isso implicaria que haverá cada vez mais pessoas expulsas para o México ou que terão que ser transportadas de volta aos seus países de origem.

Esta semana, alguns republicanos expressaram que querem ainda mais nesta negociação. O deputado republicano Mike McCaul, poderoso presidente do Comitê de Assuntos Exteriores, está liderando uma delegação legislativa ao México com um objetivo claro: “Nos reuniremos com líderes mexicanos para enfatizar a importância de reincorporar o 'Permaneça no México'”, em referência ao programa, impulsionado pela primeira vez pelo então governo de Donald Trump, que obrigava os solicitantes de asilo a esperar do lado mexicano enquanto suas petições eram avaliadas.

No entanto, um alto funcionário estadunidense descartou que o governo Biden aceitaria propostas para restabelecer o “Permaneça no México”, assinalando que haviam levado “até a Suprema Corte” sua luta para rechaçar esta medida.

Altos funcionários estadunidenses declinaram mais uma vez oferecer detalhes sobre as medidas particulares que seriam discutidas na reunião bilateral da sexta-feira passada. Mas um alto funcionário esclareceu que “o México está fazendo muito mais do que nunca sobre a aplicação da lei” em torno à migração. Entre os exemplos que ofereceu, destacou a disposição do México de retornar venezuelanos ao seu país de origem, evitar que migrantes subam em trens e ônibus para a fronteira e novas restrições de vistos para migrantes que cruzam por território mexicano.

Por ora, no mês de janeiro, o fluxo migratório indocumentado através da fronteira com os Estados Unidos se reduziu notavelmente, embora especialistas e funcionários acreditem que isso se deve às tendências desta temporada e que, sem mais medidas, esse fluxo se incrementará nos próximos meses, justamente ao acelerar-se a contenda eleitoral estadunidense.

Há algumas indicações de que o Congresso poderia estar pronto para aprovar algumas medidas nesta semana. Alguns senadores republicanos estavam satisfeitos com a possibilidade de alcançar seus objetivos sobre a fronteira. “Este é um momento histórico para reformar a fronteira”, declarou o senador Lindsey Graham, assinalando que prévios acordos legislativos sobre migração sempre incluíram tanto mais medidas de segurança fronteiriça quanto propostas para oferecer vias de legalização de alguns indocumentados, mas não desta vez. “Obter este tipo de segurança fronteiriça sem conceder uma via para a cidadania não tem precedente”, disse jubiloso.

E não são apenas os republicanos que dizem se preocupar com a fronteira nesta conjuntura eleitoral. A liderança republicana da Câmara Baixa promoveu o voto simbólico para uma resolução que condena o que chamam de crise de segurança nacional na fronteira com o México e que apela ao governo Biden a abandonar o que acusam ser sua política de “fronteiras abertas”. Todos os republicanos votaram a favor, junto com 14 democratas.

Jim Cason e David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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