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Governo Bolsonaro levará brasileiros ao mesmo desastre em que alemães foram conduzidos por nazismo de Hitler

A Alemanha aceitou, numa única eleição democrática, os valores de um bando de homens degradados
Carlos Russo Jr
Espaço Literário Marcel Proust
São Paulo (SP)

Tradução:

1933: A Alemanha aceitou, numa única eleição democrática, os valores de um bando de homens degradados, que lograram impor seus valores a uma nação altamente civilizada!

Passado quase um século, ainda nos surpreende hoje como os alemães puderam ter permitido que as gangues nazistas fossem tão longe, cometessem crimes de tais proporções que, afinal, levaram à destruição quase completa de seu próprio país! E a uma hecatombe mundial, que ceifou oitenta milhões de vítimas!

Cada vez que Hitler vociferava sobre o “Tratado de Versalhes”, que encerrara a Primeira Guerra, ele o chamava de “Diktat” (imposição), uma ordem dos inimigos, contra a qual ele fazia um chamamento à guerra. 

Boa parte dos slogans que motivaram as massas alemãs a seguirem a moral da gangue hitlerista, excetuando-se apenas os dirigidos contra os judeus, podem ser derivados do “Diktat de Versalhes”: “A derrota vai se transformar em vitória.” Num “Terceiro Reich”, ao braço erguido da gangue acompanhava o grito “sieg-heil” (salve a vitória).

“É preciso armar o povo”, disse Goebbels. “O exército proibido, (Milícias Paramilitares) vai ser formado”, acentuava Hitler e assim foi feito!

Hitler foi um mestre. Todo seu discurso, todas as suas atitudes e aquelas de sua gangue sempre tiveram efeito duplo, falso, a mentira substituindo a verdade, tanto nos sinais como na palavra. 

A Alemanha aceitou, numa única eleição democrática, os valores de um bando de homens degradados

Reprodução: Winkiemedia
Soldados do do regime nazista em 1933.

E o sinal mais importante do Nazismo foi a Cruz Gamada! 

Nela existe um movimento rotatório, cuja ameaça se cumpriria: os membros dos demais partidos seriam amarrados à roda da morte e da tortura! 

O símbolo buscou justamente na cruz cristã suas características cruéis e sanguinárias, como se fosse bom crucificar pessoas! As gamas da cruz nazista, ou seja, os ganchos, anunciam como os adversários serão caçados, derrubados, assim como as batidas militares dos calcanhares. 

A Cruz Gamada, marca registrada do Nazismo, reúne uma ameaça de castigos cruéis com uma capciosa malícia e uma advertência de disciplina militar.

Durante a inflação alemã, Hitler, no comando de sua gangue, encontrou como objeto os judeus. 

Os judeus eram o ideal para representar um papel agregador da gangue nazista: sua antiga ligação com o dinheiro, para cujos movimentos e flutuações eles sempre tiveram um faro extraordinário. Primeiro foram tratados como maus, perigosos, como inimigos; depois foram sendo mais e mais desvalorizados; roubados, espoliados de tudo, quando já não se tinham mais judeus suficientes na Alemanha, eles passaram a ser coletados nos países conquistados, tratados com escravos e, afinal, considerados literalmente como insetos nocivos, que podiam ser exterminados aos milhões. 

O deus de Hitler era um deus de comício, um Jeová de botas!

O “deus acima de tudo” do Nazismo era antes de nada um deus de comício, de espetáculos místicos, mistura de Walhala e certo deus cristão degradado de uniforme e coturno. 

Na verdade, Hitler era um homem de ação; sem possuir nenhum tipo de fé, ele só acreditava no movimento da ação. E a “revolução” da gangue hitlerista era dinamismo puro! 

Sua ideologia central, absolutamente insustentável, foi querer fundar uma ordem mundial estável baseada em movimento perpétuo de negação. 

Negação da história, da cultura alemã, dos valores do humanismo e do iluminismo, dos valores autênticos do cristianismo. 

Esquecida da moral de Goethe, a Alemanha escolheu numa eleição democrática e sofreu por mais de uma década a moral da gangue. E a moral da gangue, em qualquer país, em todos os tempos, é triunfo e vingança, derrota e ressentimento, inesgotavelmente.

O nazi-fascismo ao exaltar as forças elementares do indivíduo, na verdade exaltavam as forças obscuras do instinto e do sangue. 

Primeiro Mussolini, depois Hitler, jamais poderiam prescindir de inimigos; seus companheiros de gangue eram “dândis” e desajustados, fracassados sociais como seus líderes, que somente poderiam ser definidos em relação a inimigos reais ou imaginários. Isto porque a verdadeira lógica desse dinamismo era a derrota total ou, de conquista em conquista, de inimigo em inimigo vencido, o estabelecimento do império do sangue e da ação em todo o mundo. 

A conquista para as massas internas, baseia-se em propaganda ou repressão, e, para o exterior, em guerra. Guerra contra os judeus, contra os comunistas, contra os democratas; guerra contra a intelectualidade, contra a vida! 

Os intermediários políticos, organizados em partidos políticos, que em todas as sociedades são a salvaguarda da liberdade desparecem, dando lugar a um Jeová de botas, que reina sobre multidões silenciosas ou que gritam palavras de ordem. Não se interpõe entre o chefe e o povo um organismo de intermediação, mas justamente o aparelho, um Partido ou um Exército tipo Nazista, uma justiça que também calça coturnos, que é opressora.

Pois o fascismo e o nazismo têm a moral da gangue: o desprezo e a morte da liberdade, o domínio da violência e a escravização do espírito. 

“Quando a raça corre o risco de ser oprimida a questão da legalidade tem um papel secundário. Se a raça tem que ser sempre ameaçada para existir, nunca há legalidade.” A lei militar, em tempos de guerra, pune com a morte a desobediência, e sua honra é a da servidão. Quando todos são militares, o crime é não matar se a ordem assim o exigir. 

A doutrina fascista somente busca a eficácia. Se o homem for membro da gangue, não passa de um elemento a serviço do Chefe; se for inimigo, é produto de consumo, um escravo ou um subversivo a ser abatido! O poder de mentir, denegrir, matar e aviltar salva a alma servil do antigo “Zé Ninguém” do nada. A propaganda, a mentira e a tortura são os meios diretos de desintegração; para os “convertidos”, o amálgama do criminoso cínico com a cumplicidade forçada.  A liberdade alemã foi, então, cantada ao som da orquestra de prisioneiros nos campos de morte!

2018: Alguns países repetem a velha formulação do século XX: escolhem e sofrem a moral da gangue! O exemplo mais escandaloso para todo o mundo é o do Brasil! 

Somos um país que encolheu quer pela ação, quer pelo descaso, ao eleger um governo parasitário, onde o próprio Presidente acafajestado ignora o desastre ambiental, econômico, e humano que provoca, em meio a um genocídio sanitário provocado pela Covid, que já levou aos cemitérios mais de 400 mil mortos e, se seguirmos na mesma toada, levará outros 400 mil às valas coletivas.  

A moral da gangue brasileira no poder, assim como a da Alemanha de 1933, é a moral do saque e da devastação.

Os destruidores do meio ambiente (contrabandistas de madeiras nobres, mineradoras, garimpeiros, grileiros, empresários vândalos do agronegócio, sob o suporte de milícias paramilitares), aproveitam para queimar os recursos naturais da nação. Mais de 2,5 milhões de hectares de florestas, fauna e flora, foram destruídos em 2 anos. 

A destruição do patrimônio humano e cultural.

O empobrecimento generalizado da população é nada mais que o contraponto do enriquecimento da gangue que se apoderou do poder, e que nos levará ao mesmo desastre a que os alemães e outros povos já foram conduzidos!

A dedicação a um deus de fancaria! 

O deus deste “Messias” é um deus de fancaria, de rezas televisivas, de pastores malandros e de multidões infantilizadas que colocam tiras escritas “Jesus” na cabeça, enquanto fazem das mãos arminhas simbolizando tiros fictícios, mas que podem se tornar reais. Tiros em quem? Em qualquer um que se lhes afigure como inimigo.

Trata-se de um deus tão degradado quanto o de Hitler, regressivo dos preconceitos, do negacionismo, do anticientificismo, que reúne crentes que se enrolam numa bandeira verde amarela, herança dos Bourbons e Habsburgos, herança do Brasil do Império e da escravidão.

O Brasil de 2018, assim como a Alemanha de 1933, aceitou, através de uma única eleição, os valores degradados da gangue que logrou impô-los a uma nação. A Alemanha destruída provocou ainda 80 milhões de mortos pelo mundo. Tardou quase 20 anos sua reconstrução, graças ao capital norte-americano em tempos de guerra fria.

A guerra fria terminou há décadas. O “fantasma do comunismo” não mais apavora o mundo. E nós, pobre Brasil, caminhamos para a destruição e a barbárie. 

Terá nossa sociedade a força e a vitalidade da revolta para reconstruir-se?


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Carlos Russo Jr Carlos Russo Jr., coordenador e editor do Espaço Literário Marcel Proust, é ensaísta e escritor. Pertence à geração de 1968, quando cursou pela primeira vez a Universidade de São Paulo. Mestre em Humanidades, com Monografia sobre “Helenismo e Religiosidade Grega”, foi discípulo de Jean-Pierre Vernant.

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