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Governo da Guatemala barra candidatos à eleição para se livrar de queda e investigações

Aqueles que juraram defender a Constituição e as leis justificam seus atos de corrupção sob o argumento de serem vítimas de perseguição política
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul Global
Cidade da Guatemala

Tradução:

Se durante a campanha eleitoral que começou – inclusive antes de dado o toque de saída – o povo tivesse uma bola de cristal capaz de mostrar o futuro, provavelmente exigiria que as eleições se declarassem desertas, como se faz com os concursos nos quais nenhum dos competidores têm nada bom para oferecer.

É o mínimo que se pode esperar de uma cidadania farta dos abusos, mas que não consegue fazer-se escutar, seja porque sua voz é inaudível ou porque, simplesmente, nem sequer se tem manifestado explicitamente sobre a ameaça que ronda seu destino. 

Só exercício de cidadania pode dar fim à estrutura de abusos e corrupção na Guatemala

Já não é vergonhoso. É aberrante a maneira como alguns funcionários, enquanto saqueiam o país, dão um jeito de construir todo um arcabouço – supostamente legal – com o propósito de impedir a inscrição de candidatos idôneos para os cargos de eleição popular.

O motivo por trás dessas manobras escandalosas? Muito simples: é porque essas opções constituem uma ameaça contra suas tentativas de manterem-se livres de uma mais que merecida ação da justiça pelos delitos cometidos à sombra do poder.

Aqueles que juraram defender a Constituição e as leis justificam seus atos de corrupção sob o argumento de serem vítimas de perseguição política, ainda quando é mais que evidente como, durantes as sucessivas etapas de mandatos presidenciais e parlamentares, conseguiram acabar com a pouca credibilidade das instituições, esconder os delitos de seus cúmplices em outras instâncias e, o que é ainda mais grave, usaram todos os mecanismos ao seu alcance para perpetuar seu domínio sobre os recursos do Estado. 

Aqueles que juraram defender a Constituição e as leis justificam seus atos de corrupção sob o argumento de serem vítimas de perseguição política

Foto: Carlos Sebastián/Wikimedia Commons
A Guatemala se debate impotente diante da realidade de um sistema colapsado




Ameaças e atentados contra a liberdade de imprensa

As ameaças e atentados contra a liberdade de imprensa, portanto, não são uma mera casualidade, surgiram como resposta a investigações e denúncias sobre os delitos cometidos por funcionários públicos durante sua gestão, assim como as manobras perpetradas na sombra – já que nem sequer se cumpre com o livre acesso à informação pública – com as quais se pretende ocultar delitos cujos que – se existisse justiça – levariam o Presidente, seu gabinete e seus cúmplices nas Cortes, direto à prisão. 

Enquanto o governo da Guatemala se blinda contra qualquer tentativa de retornar para um regime democrático, como demonstra o esforço de partidos da oposição para levar às eleições candidatos com um perfil com as necessidades de mudança, o mandatário e suas hostes protegem a podridão política: candidatos aliados com as organizações criminosas (narcos, traficantes de pessoas, saqueadores do Estado e outras joias do catálogo). Isso, porque tem sido tal o abuso de poder das duas últimas administrações, que só se apoiando nesse tipo de candidato manterão a impunidade sobre seus atos. 

Estado aparelhado, repressão, corrupção: ditadura na Guatemala é fato consumado

Por isso e muito mais, sua arma se centrou no encarceramento ou exílio forçado daqueles – desde a imprensa ou desde o sistema de justiça – representam voz de alerta, denúncias baseadas em fatos comprováveis ou ações decididas contra aqueles que fizeram dos atos de corrupção um arremedo de governo.

A Guatemala merece uma limpeza a fundo das lacras que a conduzem ao desastre total. As listas de candidatos a cargos de eleição popular demonstram que o país alcançou já a mais profunda degradação política. 

A Guatemala se debate impotente diante da realidade de um sistema colapsado.

Carolina Vásquez Araya | Colaboradora da Diálogos dos Sul na Cidade da Guatemala.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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