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Governo sionista de Israel aprova exportações do programa de espionagem Pegasus e diz que seu objetivo é "salvar vidas"

Especialistas defendem "severa" regulamentação, enquanto Snowden diz que não há solução sem moratória sobre o comércio de programas de espionagem
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

A empresa israelense NSO, fabricante do programa de espionagem celular Pegasus, declarou que “já basta” no que qualificou como uma campanha “viciosa e difamatória” contra ela diante de revelações de que seus clientes em pelo menos 10 países usaram seu spyware contra ativistas de direitos humanos, jornalistas, políticos de oposição e até mandatários estatais. 

A NSO emitiu um comunicado intitulado “Já basta”, se dizendo é vítima de uma “campanha de meios planejada e bem orquestrada e impulsionada por grupos de interesse especial” e que, portanto “já não responderá a indagações de meios sobre este assunto”.

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Desde domingo passado quanto um consórcio internacional de 17 meios, juntamente com a ONG Forbidden Stories e a Anistia Internacional, através do “Projeto Pegasus”, começou a revelar resultados iniciais de suas investigações sobre uma lista divulgada de 50 mil números de telefone elaborada a partir de 2016, que poderiam ser objetivos de espionagem celular por governos clientes da NSO, detonou-se uma vez mais — como foi com o caso da explosiva denúncia de Edward Snowden, então funcionário da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos — o debate internacional em torno da espionagem cibernética em massa das autoridades e as violações de direitos democráticos e da privacidade. Também retornaram as referências obrigatórias a George Orwell.

Políticos, jornalistas e ativistas foram espionados através do uso do software israelense Pegasus

A cada dia se identificam vários dos mais de 600 políticos e funcionários, quase 200 jornalistas, 85 defensores de direitos humanos e 65 executivos em 34 países na lista de possíveis espiados através do Pegasus.

Entre estes estão os números de um repórter mexicano assassinado, entre mais de 25 jornalistas mexicanos, pessoas próximas ao jornalista saudita Jamal Khashoggi que foi executado, o principal líder da oposição nacional na Índia, e até 13 mandatários e um rei.

Nesta quarta-feira (21), reportou-se que essa lista incluiu a princesa Latifa, cuja fuga de Dubai e do controle de seu pai, foi frustrada por um comando que a capturou em um iate no oceano Índico, pouco depois que seu número de celular foi incluído na lista de possíveis objetivos do Pegasus, segundo a investigação do consórcio.

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The Pegasus Project
O “Projeto Pegasus” começou a revelar resultados iniciais de suas investigações

NSO gastou milhões para atrair os EUA

Os Estados Unidos não parecem ser cliente da Pegasus, e não foi por falta de esforço da empresa. O Washington Post reportou que a NSO gastou milhões para tentar conseguir negócios de agências oficiais na capital estadunidense, contratando influentes advogados, lobistas e outros, entre eles ex-oficiais — até ex-secretários de Segurança Interna e do Departamento de Justiça — nos governos de Barack Obama e Donald Trump.

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Embora Washington não seja cliente, a lista divulgada incluiu os números no estrangeiro de uma dúzia de estadunidenses: jornalistas, diplomatas, entre outros. O único número de celular identificado dentro dos Estados Unidos foi o do chefe da equipe de negociação do governo de Joe Biden com o Irã, Robert Malley.

Objetivos de Pegasus é “salvar vidas”, diz NSO

Em seu comunicado, NSO Group reiterou o que vem afirmando desde o início destas revelações: que a lista agora famosa de 50 mil números de celular não é de “objetivos ou potenciais objetivos de Pegasus”, os números não têm que ver com a NSO, e que toda afirmação de que um nome nessa lista é “necessariamente relacionado com um objetivo de Pegasus… é errônea e falsa”.

Sublinhou que sua missão é “salvar vidas” ao ajudar governos a combater possíveis atentados terroristas e combater o crime organizado, incluindo sequestro de crianças.

Enfatizou que só fornecem a tecnologia, “não operamos o sistema” e não tem acesso aos dados que seus clientes manejam.

Governos informam que “estão investigando”

Todos os governos aludidos nesta semana declararam que estão investigando o assunto, dando a entender que aparentemente não estavam sabendo se suas próprias agências haviam comprado o programa Pegasus.

Em alguns casos é mais complicado, como o de Emmanuel Macron — que anunciou  que será investigada a suposta espionagem — na qual seu telefone estava na lista de objetivos potenciais do serviço de inteligência do Marrocos, segundo revelou Le Monde na terça-feira (20). Marrocos negou que use o Pegasus.

Governo sionista aprova exportações da NSO

Enquanto isso, o governo de Israel informou que avalia as revelações sobre o Pegasus; confirmou que aprova as exportações da NSO e outras empresas de “cyber-produtos”.

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Informa-se que esse governo está preocupado pelo potencial impacto das revelações sobre suas empresas desse setor, diante de perguntas sobre se é corresponsável pelo uso ilegal do Pegasus e que tão imiscuída estão suas agências de inteligência no manejo de informação arrecadada por essa ferramenta de espionagem.

A Alta Comissária das Nações Unidas para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, declarou nesta quarta-feira em Genebra que as revelações “são extremamente alarmantes e parecem confirmar alguns dos piores medos sobre o potencial uso indevido das tecnologias de vigilância para socavar ilegalmente os direitos humanos das pessoas”.

A única coisa que vendem é o vírus

Edward Snowden  comentou que as revelações do Projeto Pegasus que “o único produto vinculado a estas empresas são infecções de vetor. Não fabricam vacinas, a única coisa que vendem é o vírus”.

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Críticos assinalam que a NSO não está sozinha, mas faz parte de uma indústria global que se dedica a fabricar ferramentas de espionagem e há muito tempo se faz necessário elaborar regulamentações internacionais mais rigorosas para este setor. Sobre tal avaliação, Snowden contra argumenta e afirma que não há maneira de fazê-las.

“Deixem-me deixar claro: os regulamentos de exportação, licenças e avaliações estão em vigor há anos. Eles não funcionaram, e não funcionarão. A mínima resposta efetiva seria uma moratória no comércio de softwares deste tipo, sem esta medida o problema continuará se agravando”, ressaltou o ativista cibernético.

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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