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Governo Tarcísio aderiu ao mais nefasto das gestões tucanas, aponta dep. Antonio Donato

Segundo parlamentar, Alesp funciona como cartório do Palácio dos Bandeirantes, obstruindo a investigação de casos de corrupção
Amaro Augusto Dornelles
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Forjado na militância estudantil da USP, filiado ao PT – partido pelo qual hoje é deputado na Alesp – em 2005 Antonio Donato se elegeu vereador na cidade de São Paulo. Exerceu o cargo por cinco mandatos consecutivos e trabalhou na gestão Luiza Erundina, à época no PT. Agora prestando serviços na Assembleia paulista, ele se diz pasmo com o que anda acontecendo no Palácio dos Bandeirantes. Em seu discernimento, a pacífica ‘troca de guarda’ do PSDB para o Republicanos para assumir o Palácio é apenas mais uma evidência de que as coisas continuam como antes no governo do capitão “Tarcísio Abrantes”. 

A irregularidade na Secretaria de Freitas (Republicanos) foi resolvida com a  demissão do denunciante, o então secretário-executivo da Agricultura e Abastecimento, Marcos Renato Böttcher – o número 2 da autarquia. A exoneração foi publicada imediatamente em 28 de agosto de 2023 no Oficial do Estado, lógico. Em síntese, a cabeça de Bottcher rolou depois de ele entregar ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP), um relatório com denúncias de irregularidades na construção de estradas do programa Melhor Caminho, no interior paulista. 

Ah, a mamata começou a rolar com o impoluto João Dória e o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Não por acaso, Nunes é nome forte pra seguir no cargo, a bordo da chapa à reeleição que tem como candidato a vice alguém da corriola do Grandalhão. Leia a avaliação de Donato sobre esta aula magna de como lesar o erário durante quase três décadas.

* * *

Amaro Augusto Dornelles – Com a experiência de seus mandatos a serviço das lutas populares, a que atribuir a eleição de Tarcísio de Freitas e seu ‘jeito Bolsonaro de ser’

Deputado Antonio Donato – Objetivamente, temos visto o governo Tarcísio – apesar de seu discurso de renovação, de mudança nas práticas de governo – se adaptar rapidamente ao modelo, (‘modus operandi’, no jargão policialesco) mais nefasto, o pior possível de toda a experiência tucana. Na Assembleia Legislativa (Alesp) impõem mais um rolo compressor para evitar que a oposição exerça sua missão de fiscalizar o poder. Dentro do governo, evitam que denúncias importantes possam tramitar livremente. 

O “Melhor Caminho” é aquele que leva até o Palácio do Planalto…

Sim, é inacreditável, por mais que já tenha se visto algo assim.

O programa Melhor Caminho, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, visa melhorias de condição em estradas vicinais, tão importantes para o desenvolvimento econômico. Houve uma série de denúncias de superfaturamento, que estão sendo apuradas pelo Ministério Público, tudo muito bem estruturado. Vamos até o fim nessa investigação. 

Estamos vendo que na gestão Tarcísio a prática é exonerar quem denuncia corrupção, como fizeram com Marcos Renato Böttcher, então secretário-executivo de Agricultura e Abastecimento, em agosto do ano passado.

Que moderno… A demissão do denunciante é a desmoralização do governo. Mas a mídia hegemônica sempre tem a desculpa para os novos saques às joias da viúva. Tais denúncias não teriam ligação com o que se chama de ‘orgia do PSDB com o erário’ durante o reinado de 30 anos?

Sim, claro, tudo o que se investiga agora aconteceu no fim do governo Tucano. Pode-se inferir que o senhor governador concede um prêmio às práticas irregulares dos tucanos. Isso tem a ver com a necessidade de ter o PSDB como sua base de apoio. E o próprio MDB, que tinha envolvimento nessa pasta.

Na verdade, a Alesp tem uma cultura muito ruim: evitar qualquer tipo de ‘requerimento que incomode o governo – prática tipicamente tucana que continua com Tarcísio.

O velho e bom Cartório Oficial...

Isso é péssimo. Essa Casa deveria ser um Poder Independente para representar a população. Mas tudo continua com o Tarcísio. E há também o desrespeito ao direito da oposição fiscalizar. O processo está andando no Ministério Público, já que aqui o instrumento principal, as CPIs, foram bloqueadas pelos governistas, com fraudes, filas para votações… Eles protocolaram 20 CPIs que tiveram o dom de congelar o instrumento por 4 anos.

Temos muita dificuldade em usar esse recurso de trabalho da oposição, e nas comissões temáticas eles têm maioria, o que permite o bloqueio. Algum assunto ou outro a gente consegue – por conta da repercussão pública do problema – até avançar. Mas aqui é tudo muito difícil. E como você disse, às vezes, tudo funciona como um cartório do governo do estado. 

Por isso muitas vezes temos de apelar ao Ministério Público para fazer investigações paralelas, com a imprensa, para poder oferecer condições para que as denúncias tenham eco – como no caso dos livros didáticos.

História escabrosa…

O escândalo do secretário da Educação, Renato Feder. Tarcísio foi obrigado a recuar. Nesse episódio, o papel da imprensa progressista foi importante. Vigilante, ela foi capaz de criar massa crítica na sociedade e, enfim, fazer com que o governo recuasse em certas medidas.

De volta às irregularidades no programa Melhor Caminho: depois de 30 anos, as aves se acostumaram com a farra e agora vão à guerra pra não perder milionários privilégios…

Essa denúncia é muito grave. E tudo indica que além dessa área da Secretaria da Agricultura, havia um ‘entroncamento’ para outras regiões do estado. No DR – que faz todas as estradas em SP – os casos são mais graves ainda. São fatos que estamos investigando, tem deputados investigando. Esperamos que o Ministério Público nos ajude na apuração.

Não lhe parece que esse filme aí já passou. Começou no RoboAnel, na antessala de Mário Covas – deus tucano… 

Propusemos várias tentativas de CPIs à época e jamais conseguimos avançar. É preciso ter uma crise política, buscar brechas, que surgem no embate político. Assim se pode seguir nas investigações. Investigar obras como o Rodoanel são importantes, isso pode avançar, mas não agora. Tudo é muito dinâmico. Até agora temos o fio da meada. O novelo parece grande.

Amaro Augusto Dornelles | Jornalista e colaborador na Diálogos do Sul.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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