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"Granadas" e "muitos tiros" antecederam assassinato de João Pedro, diz testemunha

O adolescente, de 14 anos, foi morto durante operação policial em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Testemunhas relatam cenas de guerra antes da tragédia
Redação Sputnik Brasil
Sputnik Brasil
Rio de Janeiro (RJ)

Tradução:

O estudante João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, foi morto dentro de uma casa durante operação da Polícia Federal com apoio da Polícia Civil no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, cidade da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Segundo uma testemunha relatou ao portal G1, a cena que antecedeu a morte de João Pedro foi de desespero, com granadas e tiros. O relato aponta que os adolescentes no local deitaram no chão e tentaram avisar que havia crianças na casa, mas não foi o suficiente.

“Aí, eles tacaram duas granadas assim na porta da sala, que quem tava mais perto da porta era eu e João. Aí, eles deram muitos tiros nas janelas”, afirmou a testemunha ao portal.

Em seguida, a testemunha relata que todos correram para o quarto e que um dos policiais atirou contra uma das pessoas presentes enquanto João Pedro era levado para um helicóptero.

O adolescente, de 14 anos, foi morto durante operação policial em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Testemunhas relatam cenas de guerra antes da tragédia

Twitter / Reprodução
O governador do estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, comemora a morte de um sequestrador na ponte Rio-Niterói

Até o dia seguinte, a família de João Pedro não tinha informações sobre o paradeiro do adolescente. Apenas na manhã da terça-feira (19), a família foi informada sobre o paradeiro de João Pedro, assim como sobre sua morte. Um primo do adolescente que iniciou uma campanha nas redes sociais por informações do paradeiro do adolescente também usou o mesmo canal para lamentar a descoberta da morte de João Pedro. 

A operação policial que resultou na morte de João Pedro não prendeu nenhuma pessoa.

“Um jovem de 14 anos, um jovem com um futuro brilhante pela frente, que já sabia o que queria do seu futuro. Mas, infelizmente a polícia interrompeu o sonho do meu filho. A polícia chegou lá de uma maneira cruel, atirando, jogando granada, sem perguntar quem era”, disse o pai de João Pedro, Neilton Pinto, em entrevista ao portal G1.

Neilton também falou diretamente ao governador do estado, Wilson Witzel, sobre as consequências da morte de seu filho.

“Quero dizer, senhor governador [Wilson Witzel], que a sua polícia não matou só um jovem de 14 anos com um sonho e projetos. A sua polícia matou uma família completa, matou um pai, matou uma mãe, matou uma mãe e o João Pedro. Foi isso que a sua polícia fez com a minha vida”, disse.

Desde a campanha eleitoral em 2018, Witzel promove uma política de enfrentamento contra traficantes dentro de áreas pobres no Rio de Janeiro. O período de seu governo é um dos que mais registra mortes causadas por policiais na história do estado.

Vítimas como João Pedro têm sido frequentes no período. Apenas em 2019, foram pelo menos seis crianças mortas durante operações policiais em favelas, todas negras, como João Pedro.

Mesmo com quarentena, letalidade da polícia é alta no Rio de Janeiro

O mês de março foi marcado pela chegada da pandemia no estado do Rio de Janeiro. A partir do dia 17 daquele mês, o governo do estado tomou diversas medidas para implementar uma quarentena e promover o isolamento social. Mesmo diante dessa realidade, o número de mortes seguiu alto.

Segundo os dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP), o mês de março de 2020 foi um dos que mais registrou mortes causadas por policiais no estado.

Foram 113 “mortes por intervenção de agentes do Estado” ao longo do mês de março deste ano. Esse foi o terceiro mês de março mais violento em uma década no estado do Rio de Janeiro, perdendo apenas para 2019, quando houve 132 mortes e 2017, quando houve 123.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Redação Sputnik Brasil

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