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“Guaidó russo”: Entenda o papel de Navalny para tirar Putin do poder a mando dos EUA

O modus operandi que está ocorrendo na Rússia é o mesmo que foi aplicado no Brasil e em vários outros países do mundo. O modelo que a CIA
Osvaldo Bertolino
O Outro Lado da Notícia
São Paulo (SP)

Tradução:

Para falarmos sobre a Rússia, precisamos falar de Vladimir Putin, contar pelo menos parte de sua história. Lembrando que a Rússia de hoje não é a URSS, ainda que não tenha deixado de herdar algumas conquistas e tradições do sistema soviético socialista. Por exemplo, o hino da União Soviética (melodia) é o mesmo de agora, mas houve uma alteração na letra, visto que houve uma mudança política.  

A URSS acabou em 1991 e se transformou em 15 países diferentes. Já não era uma união de repúblicas soviéticas socialistas. Mas, guardam muitas tradições do socialismo soviético e, o hino, mesmo tendo mudado a letra, manteve o refrão que enaltece o período de ouro da Revolução Russa

A Rússia que nós conhecemos hoje, é chamada de Federação Russa. Foi governada desde dezembro de 1991 por um preposto dos Estados Unidos, chamado Boris Yeltsin, que tinha sido membro do Partido Comunista. Todos que ascenderam ao poder depois dele, através do golpe, tinham sido membros do Partido, inclusive o Putin. Yeltsin, um alcoólatra, governou por oito anos. No final de 1999, Yeltsin renunciou, por problemas de saúde e alcoolismo. Não tinha mais condições de cumprir as tarefas dadas a ele pelos EUA. 

Em 1999 vivíamos sob o governo de Bill Clinton, do Partido Democrata. Eles sempre lutaram pelo fim da União Soviética e acabaram conseguindo, sob a gestão de George Bush (pai) em 1991, em seu penúltimo ano de governo. Ele não conseguiria a reeleição em 1992, quando Clinton foi eleito e reeleito em 1996, governando até 2000, quando é eleito George Bush (o filho). 

Esta é a história dos Estados Unidos e a Rússia, acompanha essa história. Os países não podem ficar alheios à troca do comando do império, pelo papel que os EUA desempenham na conjuntura internacional. Em 1999, quando Boris Yeltsin renuncia, Putin ascende na condição de primeiro-Ministro plenipotenciário, com poderes de presidente. Ele assume com muito poder. 

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Vladimir Putin

Quem é Vladimir Putin

Vladimir Putin nasceu em 1952, tendo se formado em Direito pela Universidade de Moscou aos 23 anos, quando se filia ao Partido Comunista da URSS e passa a atuar no setor de informações, que era a antiga KGB, que cumpre o mesmo papel que a CIA (o FBI não tem o mesmo papel de espionagem, como a KGB no cenário mundial). A KGB também atuava internamente, mas a sua marca era mesmo a informação. Assim, entre 1975 e 1991 quando a URSS chega ao fim, Putin tinha 16 anos de militância comunista na estrutura do estado soviético. 

Vladimir Putin começa a crescer politicamente, dentro da estrutura de governo da nova Federação Russa. Ele disputa sua primeira eleição para presidente, logo no ano seguinte, que foi em 2000. Ele fica um período interino como primeiro-Ministro e se torna presidente no dia 7 de maio de 2000. Ele ganha apertado no segundo turno, igual à Dilma, com um programa de reconstrução da Rússia. 

Ele defende acabar com as máfias, que não seria tarefa fácil. Enfrenta os oligarcas russos que cresceram e enriqueceram muito com o fim da URSS, comprando as empresas estatais a preço de banana. Eram empresas fundamentais para a antiga economia soviética. Em março de 2004 é reeleito presidente, desta vez com muito mais respaldo eleitoral, conquistando 71% dos votos válidos, fortalecendo-se muito. Na época era para um mandato de quatro anos. 

Em 2008, novas eleições ocorrem, mas não pode disputar para tentar a reeleição. Mas, ele elege seu sucessor, Dmitri Medvedev que o indica como primeiro Ministro, com mais poderes que o próprio presidente. Ele fica quatro anos como primeiro-Ministro e disputa novas eleições em 4 de março de 2002, vencendo no primeiro turno, com 63% dos votos. 

Quando falamos em era Vladimir Putin, estamos falando de um período que se inicia em 1999 e deverá ir até 2024, pois os mandatos foram ampliados para seis anos com direito à reeleição (isso foi modificado, de forma que não há mais esse limite).  

Estamos falando então de um período de 25 anos de um governo na história da Rússia, sob o comando de uma mesma pessoa, caso inédito, sempre eleito e reeleito pelo voto. Apenas Joseph Stálin governou mais tempo que Putin na história da Rússia republicana (ficou no poder entre 1922 e 1953, quando morreu, por 31 anos). 

Em maio de 2018 Putin foi reeleito para um novo mandato, com mais de 76% dos votos válidos. É uma trajetória de consolidação de sua popularidade e poder. Nesse sentido, Putin poderá ficar na liderança da Rússia até 2030, se não houver um acidente de percurso. Por isso, este é o nosso tema central. Interessa aos EUA e à União Europeia (UE), a sua derrubada. 

Como se derruba um presidente? Nas eleições passadas ele elegeu 80% do parlamento, pelo seu Partido. Os comunistas do Partido Comunista da Federação Rússia fizeram 10% dos votos na Duma, o parlamento deles. É um Partido forte, nas condições em que eles vivem hoje. E, os últimos 10%, são de partidos menores que lhes fazem oposição. O Partido de Putin é o Rússia Unida. 

No entanto, está surgindo um novo personagem na cena política russa, que é o advogado Alexei Navalny, de 44 anos, blogueiro. A sua carreira política restringiu-se, até agora, em disputar a Prefeitura de Moscou, quando obteve 27% dos votos. Ele faz oposição, diariamente, ao presidente Vladimir Putin. Sua única bandeira é o combate à corrupção. E, segundo ele, tem muito na Rússia e que Putin é um grande corrupto. 

Aqui no Brasil nós já conhecemos isso. Getúlio era acusado de ser corrupto pela sua oposição; Juscelino era acusado de ser corrupto e que teria um apartamento no Leblon no Rio de Janeiro; Jango era acusado de ser corrupto. Jânio nem deu tempo de ser acusado de corrupto porque governou poucos meses. A extrema-direita não tem outra bandeira. Lula e Dilma então, são tidos como os maiores corruptos de todos os presidentes, sem que jamais se tenha provado algo sobre isso contra eles. Na Rússia, estão começando a pipocar manifestações de rua em apoio a Navalny, que criou um partido só para ele, chamado: Rússia do Futuro. 

E, como ele atua na política russa na atualidade? Quero registrar que ele estudou na Universidade de Yale, nos EUA, onde foi bolsista. Ele é o homem dos Estados Unidos, da CIA, dentro da Rússia. Fala russo, é nascido na Rússia, mas defende os interesses dos Estados Unidos, de potência estrangeira. Assim agem os que traem as suas nações. 

Aqui nós conhecemos muita gente assim. As revelações da “Vaza-Jato” são impressionantes. As ligações deles com potências estrangeiras. A derrubada do Lula foi presente da Cia, eles confessam. Falando a nossa língua portuguesa, nascido no Brasil, agem, atuam como agentes de potência estrangeira. É isso que a maioria das pessoas ainda não se deu conta. 

O modus operandi que está ocorrendo na Rússia é o mesmo que foi aplicado aqui e o mesmo aplicado em várias partes do mundo. Por isso, vou dar aqui um pequeno histórico. Vou contar qual é a primeira experiência, o balão de ensaio, o modelo que a CIA adotou, que é aplicado até hoje. 

São os seguintes os elementos que constituem o seu modus operandi:  

  • Mentiras, ou fake news. A maior mentira que se conta do Vladimir Putin é que ele seria dono de um castelo de 18.000m2, que valeria um bilhão de dólares, com terreno, pista de pouso etc. É duro dizer para a população que isso não é verdade. Isto é propagado por esses aplicativos de comunicação instantânea. Nós não temos no Brasil gente que jura que o filho do Lula é dono da empresa Friboi, o maior frigorífico do mundo?  
  • Manipulação midiática. O segundo aspecto é a manipulação midiática. As TVs, cuja maioria na Rússia são particulares, dão ampla cobertura. Hoje eles apoiam o governo Putin. Mas, evidentemente, em algum momento, que não aconteceu ainda, podem retirar seu apoio. Ninguém é reeleito com 76% se não tiver um certo beneplácito e apoio da mídia. Podem até não apoiar descaradamente Navalny, mas também não vão investigar ou fazer algo contra. Nesse caso, o Alexei é a grande estrela midiática. 
  • Anticorrupção. O terceiro aspecto são os protestos de rua, anticorrupção, manipulados por pessoas russas, mas com ligação com potências estrangeiras. Não tenham ilusão sobre isto. 
  • Instituições estrangeiras. Ação de entidades estrangeiras em solo russo, que são instituições a serviço de potências estrangeiras. ONGs que atuam na Rússia, são governadas e presididas por russos. Por uma Lei criada por Putin, elas têm que prestar conta, por exemplo, de onde vem o dinheiro de sua operação. 

O Putin foi muito corajoso. Estas tais ONGs, para se instalarem na Rússia – e elas podem se instalar à vontade, ele não é contra. No entanto, elas têm que se registrar no Ministério das Relações Exteriores como representantes de potências estrangeiras. Não são russas.  Podem ser governadas por russos, presididas por russos, mas lá elas estão sob controle do Estado russo. O Estado não cerceia, mas regula a sua atividade. Elas têm que dizer quais são os seus objetivos, de onde vem o dinheiro de sua atividade. Esses são os quatro aspectos do modus operandi válido para o mundo inteiro. 

Todos conhecemos a história da fraude chamada Juan Guaidó, que se autoproclamou “presidente” (sic) da Venezuela, por não reconhecer a vitória esmagadora de Nicolas Maduro. Ele foi apoiado por Donald Trump e mais dezenas de países, incluindo a União Europeia. Esse Alexei Navalny poderá a vir a ser o Guaidó russo. O imperialismo está “elegendo” o seu Guaidó russo, loiro, de 44 anos. Por outro lado, a UE está fustigando a Rússia, mais até do que os Estados Unidos, impondo-lhes sanções, fazendo ameaças. É um cenário orquestrado para, se possível, derrubar Putin. Ou, no mínimo, tentar enfraquecê-lo e desmoralizá-lo perante a opinião pública com mentiras. 

A União Europeia é um bloco de países que se juntaram, com moeda única. É uma longa história. Foram muitas etapas, em décadas, até chegar nesta moeda única. Não tem nenhuma barreira alfandegária entre os países. Mas, ela não tem um presidente, nem um primeiro-ministro. Tem uma Comissão da Europa e aí tem uma espécie de responsável pela política externa, tem um Banco Central Europeu, tem um Parlamento. Tudo funciona, muitas vezes, mais do que como um bloco, mas como um só país. De um tempo para cá, está impondo sanções diárias ou semanais para a Rússia, o que nem os Estados Unidos estão fazendo. Eles, então, estão sendo mais imperialistas do que o estadunidense. 

Provavelmente, isto acontece, porque o Parlamento Europeu deve ter uma maioria de direita ou de extrema direita, que elegem os membros dessas comissões que mandam na Europa e devem ser todos de extrema direita. Não tem progressistas no comando da UE. Aí, elegeram a Rússia como sua principal inimiga. A OTAN já cerca a Rússia, os EUA têm restrições a ela também, tem sanções impostas e, agora, a UE entrou para piorar as coisas. 

Quero agora falar sobre muitas ditas “revoluções” que vêm ocorrendo em várias partes do mundo. A sua origem aconteceu em 1953 na cidade de Teerã, capital do Irã. Preciso contar-lhes essa história. O Irã foi governado de 1951 a 1953, por um membro do Parlamento – lá é parlamentarismo – por um nacionalista chamado Mohammed Mossadegh. Ele não era, nunca foi comunista, nem mesmo socialista. Era um nacionalista verdadeiro, porque tem aqueles de direita que não são fascistas. 

Mohammed Mossadegh, no dia de sua posse, mandou um projeto de lei para o Parlamento iraniano, para nacionalizar o petróleo, que era totalmente controlado e explorado pela Inglaterra. A British Petróleo tinha outro nome – APOC, ou Anglo-Persian Oil Company, que posteriormente virou British Petroleum – BP depois que ela saiu do Irã. 

Na Inglaterra não tem petróleo, de forma que a empresa, uma das “irmãs do mundo” (que eram sete, caiu para seis e hoje são só quatro) tinha sua sede no Irã.  A British, é uma dessas que sobraram e a Shell é outra, Chevron Texaco. Mas a British explora petróleo no mundo inteiro. Estas empresas não têm reservas próprias de petróleo como as petroleiras estatais. Por isso elas têm que tomar o petróleo dos outros países produtores. Por isso as chamadas guerras pelo petróleo.  

Quando a empresa foi nacionalizada e passou para o controle do povo iraniano acendeu a luz vermelha, pois a amarela já estava acesa desde que Mohammed ganhou as eleições e foi indicado primeiro-Ministro pelo Parlamento. Já se sabia que ele era um nacionalista. Mossadeh nasceu em 1880. Depois que ele foi derrubado, foi preso, viveu em prisão domiciliar o resto da sua vida, tendo falecido em 1967.  

Ele era um cara muito popular no Irã, tinha uma popularidade alta. Aí, na primeira semana de agosto, começaram a surgir uma boataria, mídia atuando, entidades externas, a CIA subornando pessoas e injetando dinheiro em sindicatos, partidos etc. E começou a mudar a opinião pública, em uma semana.

E, no dia 19 de agosto de 1953 ele recebeu um golpe de um general, cujo nome é  Fazlollah Zahedi, que restaurou toda autoridade plenipotenciária do Xá Reza Pahlevi – um fascista apoiado pelos EUA – e, daí em diante a história nós conhecemos, e, só vai ser modificada com a Revolução Islâmica do Irã, de 10 fevereiro de 1979. 

Agora, este modus operandi que começou no “laboratório” de Teerã, em 1953, voltou a ser aplicado no Leste Europeu, nos países que eram as repúblicas soviéticas e, deixaram de ser, mas eram governados por pessoas, por assim dizer, não vinculadas ao Ocidente, que mantinham boas relações com o presidente Vladimir Putin. Quando elas começaram em 2003, ele já estava no poder. A primeira delas e o Plano Piloto, a imprensa deu o nome de “Revolução Rosa”, que aconteceu na Geórgia em 2003. 

Em 2004 aconteceu a tal “Revolução Laranja”, na Ucrânia, que era uma república soviética, virou um país independente, mas amigo da Rússia e não era do bloco ocidental. Não tinha relações com a potência imperialista dos Estados Unidos. Com essa tal revolução em 2004, a Ucrânia sai da órbita da Rússia, que ainda consegue recuperar algum território, na região da Criméia, onde eles têm uma maioria étnica russa. Eles falam russo, não falam ucraniano.  

Eles fizeram um referendo para saber se queriam continuar sendo da Ucrânia ou se passariam para a Rússia. E 96,8% disseram: nós queremos ser russos. O imperialismo não reconheceu até hoje e disse que o Putin deu um golpe e anexou a Criméia. Quer dizer, nem quando o povo é consultado, eles se conformam de perder uma parte pequena do território. 

Ainda hoje presenciamos disputas territoriais na região de Donbass, especificamente Donetsk e Lugansk, onde ocorre uma forte e intensa guerrilha de resistência. Eles não querem ser vinculados à Ucrânia, eles querem ser russos. Ainda mais pelo fato que esse país é hoje governado por um representante dos EUA, ele é um governante anti-Rússia e anti-Putin. Essa “revolução” levou ao poder pessoas comprometidas com o Ocidente e que se distanciavam, cada vez mais, da Rússia. 

Em 2005 inventaram uma “Revolução das Tulipas” no Quirquistão e, no mesmo ano, em fevereiro – e eu acompanhei de perto – ocorreu a tal “Revolução dos Cedros” no Líbano. Esse país vivia sob presença do exército Sírio desde os acordos de paz de 1990. Mas, não é que a Síria invadiu, mas o governo Libanês solicitou a presença da Síria, para ajudar a pacificar o país. O Líbano praticamente não tem exército. 

Então, essa tal “Revolução dos Cedros” faz uma mudança e destitui o governo que não era contra os Estados Unidos, mas também não era favor. Eles não aceitam esse tipo de independência, eles querem um governo subordinado à potência imperialista. Desse momento em diante, a partir de abril de 2005, o Líbano volta para a órbita de influência dos EUA (hoje eles estão cada dia mais distantes).  

Seis anos depois, em 2011, no mesmo mundo árabe, ocorre o que a imprensa chamou de “Primavera Árabe”. Os árabes nunca aceitaram esse nome. Para eles foi um verdadeiro inverno. No Egito, dois meses de movimentações, que alguns chamaram de “Revolução Facebook”, pelo fato deles usarem os eventos do Facebook para convocar as pessoas e tinham até dois milhões de confirmações.  

Aí, o Hosni Mubarak cai, ele que era amigo dos Estados Unidos e é substituído em uma eleição direta por Mohamed Morsi, um muçulmano sunita, vinculado à irmandade muçulmana. Só que, num certo momento, os próprios Estados Unidos, que concordaram em entregar o Mubarak, viram que o Egito havia tomado outro rumo. Não que Morsi fosse contra os Estados Unidos, mas sinalizavam alguma independência do Egito e ele foi derrubado e foi substituído pelo ministro da Defesa general Abdel Fattah el-Sisi.  

Então, essa tal “Primavera Árabe”, aconteceu basicamente no Egito, mas teve movimentações também na Tunísia e alguns outros países. A Síria não tem nada a ver com isso. Na Síria houve uma tentativa de derrubar o presidente Bashar al Assad, a partir de terroristas que vêm de fora para dentro. 

E o Brasil viveu algo parecido com isso com as famosas jornadas de junho de 2013. O fascismo saiu do armário, e saiu para nunca mais voltar. Ele pode até reduzir o seu tamanho hoje, como está reduzindo a cada dia. O que se chama de bolsonarismo, nada mais é do que o núcleo duro do fascismo. Alguns falam 10%, outros, até 20%, não mais do que isso. Mas vieram para ficar e jamais voltarão para o armário. Isso produz um aspecto interessante, que é um certo racha no campo da direita, mas esse é assunto para outro ensaio. 

A Dilma conseguiu se reeleger apertada em 2014. O Aécio chegou perto. Mas, a partir de 2015, com sua posse, ela não resistiu. As manifestações ocorreram novamente e as ruas lotaram novamente, convocadas que foram pela rede Globo e todos os canais de TVs. As pessoas vestiram suas camisas da seleção, de verde e amarelo. Não eram patriotas, jamais foram. E, acabou culminando com o golpe de 2016. Vladimir Putin chegou a avisar a Dilma. Acho que ela não deve ter dado credibilidade ao aviso. Até Recep Erdogan também lhe avisou. Ele chegou a sofrer uma tentativa de golpe, mas reagiu com mais de 250 mil prisões (1). 

De agora em diante, passo a pontuar os principais fatos na política internacional que foram relevantes. 

1. Irã – A grande questão que vai polarizar o mundo nos próximos dias, semanas ou meses, e não se sabe o desfecho, é sobre o Acordo Nuclear do Irã. O Biden não disse ainda a que veio sobre o Acordo Nuclear do Irã com os cinco países membros do Conselho de Segurança da ONU: Estados Unidos, Inglaterra, França, China e Rússia e mais a Alemanha, que tem seus interesses no Irã também e não é do CS/ONU. 

Donald Trump quando tomou posse em 2017 denunciou o acordo e retirou-se como retirou-se de outros acordos e tratados, como o Trans-pacífico, da OMS, da Conferência do Clima de Paris entre outros. Recuou em tudo o que Obama tinha avançado com relação à Cuba. Não chegou a romper relações, as embaixadas continuam abertas.  

Nenhum outro país saiu do acordo com o Irã. O mundo inteiro espera que os Estados Unidos, sob o governo Biden, voltem para ele. Até porque, Biden era vice do Obama, quando o acordo foi assinado em 2015. O seu atual secretário de Estado, Anthony Blinken, foi um dos mentores do texto. Ele não era secretário na época, que era o John Kerry, hoje secretário do meio ambiente. 

Então, não há motivo para eles não voltarem. Eu estou apostando que voltarão, tenho escrito artigos sobre isto. Mas, Israel não aceita e chega a ameaçar, dizendo que se os EUA voltarem ou suspenderem algumas sanções, eles irão atacar o Irã. Isso está refletindo na indecisão de Biden sobre esse tema. 

Duvido muito que Israel cumpra a sua ameaça, não só porque, tecnicamente, não há aviões com autonomia suficiente em combustível. Eles não podem passar por cima do Iraque e da Síria cujo espaço aéreo lhes é fechado. E do espaço aéreo da Turquia? Erdogan vai deixar? Eles vão desviar pelo mar mediterrâneo, mas têm que entrar pela Turquia, para chegar até o Irã. A Turquia vai permitir? E, se permitir? Eles atacam? Como é que eles voltam? Não têm combustível. O Erdogan permitiria que eles descessem na base de Incirlik, da Otan, que fica na Turquia? A Turquia é o único país da Eurásia, muçulmana, membro de uma organização militar do Ocidente. Isto é muito ruim e grave. Mas, isso também é assunto para outro ensaio.  

O Emmanuel Macron, presidente da França, que fez um ‘auê’, está dizendo que é preciso repactuar. Repactuar o que, se o nível de enriquecimento de urânio é 3,96, já é baixo demais. O que eles querem? Que o Irã interrompa seu programa nuclear? Isto não vai acontecer.  

Então, o Irã, está pedindo para os Estados Unidos voltarem ao acordo e eles esperam que isso aconteça. Mas, eles esperam mais. Esperam que o Biden suspenda as sanções sobre o seu país. E, o mais importante, que eles desbloqueiem 300 bilhões de dólares em moedas ou em barras de ouro, que estão depositadas em bancos que os EUA controlam. 

2. Palestina e Israel – Israel fará sua quarta eleição parlamentar – lá eles não têm presidente, que é eleito indiretamente pelo parlamento e não tem poder nenhum. A quarta eleição para tentar formar governo. O parlamento – chamado Knesset – tem 120 cadeiras e para formar governo tem que reunir 61 deputados. No próximo dia 23 de março ocorrerão novas eleições e 13 partidos estão registrados para participar.  

Na primeira pesquisa, que foi feita no início de fevereiro, está em primeiro lugar o atual primeiro Ministro Benjamin Netanyahu. O fascista de extrema direita, que não está vacinando os palestinos. O secretário geral da ONU (António Guterres) já exigiu e disse que ele tem responsabilidade sobre os palestinos que moram no território de Israel e os que moram na Cisjordânia, são mais de cinco milhões. Ele tem que garantir vacina para todos. Os palestinos não têm como comprar, nem moeda própria eles têm, eles usam a moeda israelense. É um tipo de genocídio deixar os palestinos morrerem. 

Desde 1977, nenhum partido consegue fazer maioria sozinho. Um só partido eleger 61 deputados é praticamente impossível na atual conjuntura. Estamos falando de um período de 44 anos e todos os que governaram Israel tiveram que fazer acordos políticos para compor a maioria. Mas, quem sair na frente ganha o direito de tentar formar governo. E Bibi, como é conhecido o primeiro-ministro Netanyahu, deve eleger pelo menos 30 deputados. Na eleição passada ele elegeu 34, caindo um pouquinho com relação à anterior. E acordos significa distribuir ministérios. 

Aqui no Brasil, não temos parlamentarismo. Mas, o presidente age como se fosse, porque se não fosse assim, não governaria. O partido que elege o presidente – na época do governo Lula, no auge de sua popularidade e no governo Dilma, o PT elegeu no máximo 93 deputados. Mas, são 513 deputados no total. Você precisa 257 votos para fazer maioria e aprovar projetos. E, como é que se compõe essa maioria? 

Em Israel e nos países parlamentaristas, isso é escancarado e feito à luz do dia e faz parte da cultura de um país parlamentarista. Faz parte da cultura, a negociação das coligações, não antes da eleição, mas depois. Aí, você articula com os partidos que têm afinidade entre si. E, a extrema-direita, vai eleger muitos deputados nas próximas eleições. 

Eu estou fazendo essa afirmação com um mês de antecedência. A direita vai voltar a fazer maioria. Parecido com o que tivemos no Brasil nas eleições municipais de novembro de 2020, onde a direita teve 80% dos votos e os progressistas apenas 20%. Em Israel será mais ou menos assim. É a minha previsão.  

Eles vivem o mesmo problema daqui: o que é o centro, o que é o centrão, o que é a direita não golpista, o que é a extrema direita? Isso tem lá também. Por exemplo o Partido do general Benny Gantz, chamado de Azul e branco, que chegou a compor com Netanyahu para formar o governo, mas não deu certo, já dissolveu. Ele é candidato de novo. Ele posa como de centro, mas é um homem da direita. O PSDB do Brasil é um partido de direita que não aceita, por exemplo, o fascismo de Bolsonaro. Isso é bom, nós temos que comemorar isso. Acho difícil ele ter a mesma performance das eleições anteriores. Fala-se que talvez nem cumpra a cláusula de barreira de 3,5% dos votos válidos.  

Tem outros partidos que são mais à direita do que o Netanyahu, que é do partido chamado Likud. Mas, não farão mais deputados que ele, mas ele pode compor com essa turma. E os partidos religiosos? São aqueles que usam trancinha nos cabelos. São o Partido Shás, o Partido Unidos Pela Torah e tantos outros. O Partido Israel Beitenu (nossa casa) não é religioso, mas é de extrema-direita. E seu líder é o deputado Avigdor Liebermann, que deve ficar com as mesmas sete vagas.  

Então, Bibi pode até compor com tudo isso e continuar primeiro-ministro. Ele já é o mais longevo primeiro-Ministro da história de Israel, desde 1948. Ninguém governou tanto tempo seguido. Agora em março ele fará 12 anos que está no poder. Pessoalmente acho muito difícil que ele forme governo, mas também pode acontecer e se acontecer ele ganha mais quatro anos de poder. Então, a situação ali é muito delicada.  

Particularmente, tem a questão da pandemia. Governos que não combateram a pandemia, como Trump e Lênin Moreno (no Equador) perderam fragorosamente as eleições. Bolsonaro só tem eleições em 2022, mas sua popularidade despenca a cada dia. No caso de Israel, a vacinação será o grande trunfo de Benjamin Nethanyahu. Minha previsão é que a vacinação de quase cem por cento da população pode lhe render mais alguns deputados e ele poderá sair fortalecido das eleições. Vamos conferir.  

3. Palestina – Os palestinos marcaram eleições para 20 de maio, 15 anos depois da última eleição que ocorreu em 2006 e o Hamas ganhou as eleições contra o Fatah. Na última eleição, foram eleitos 120 deputados e alguns meses depois, Israel prendeu todos eles. Você já imaginou uma potência estrangeira, que ocupa o seu país, eles permitem que o povo ocupado faça eleição parlamentar e depois prende todos os eleitos? Pois foi isso que ocorreu. 

O Conselho de Direitos Humanos da ONU reuniu-se em 23 de fevereiro de 2021, para o qual os EUA estão voltando. Nessa reunião foi apontado que está havendo violações aos Direitos Humanos dos palestinos nos territórios ocupados. Isso foi uma derrota de Israel no Conselho. E, mais uma vez, nosso Brasil deu imenso vexame na reunião, ficando ao lado dos poderosos e defendendo teses de extrema direita.  

4. China – Quero registrar aqui o lançamento do livro sobre os 100 anos do Partido Comunista Chinês, de autoria Xi Jinping, com 40 artigos. Não sei se será traduzido para o nosso português. Alguns artigos são mais antigos e outros inéditos. É um marco e toda a China está em preparativos para as comemorações do centenário do Partido que será comemorado no próximo dia 1º de julho. A casa onde o Partido foi fundado está preservada até hoje, como museu, e os membros que o fundaram, em especial Mao Tsé Tung, estão dentro da casa, em torno de uma mesa, como estátuas de cera. 

5. Cuba – O Biden tomou uma decisão com relação às sanções. Na verdade, ele manteve como estavam desde 1996, desde a Lei Helms-Burton. Ainda se espera que Biden retorne as relações com Cuba, pelo menos ao nível em que Barak Obama deixou em 2017.  

O mais importante a ser registrado – e isso é uma notícia mais alvissareira – é que nesta semana que começa no dia 1º de março, Cuba poderá iniciar a vacinação de sua população de cerca de 12 milhões de habitantes, com a sua própria vacina, chamada “Soberana 2”. 

Eles vão fabricar 100 milhões de doses, vão aplicar 24 milhões em duas doses no seu próprio povo e vão oferecer as outras 76 milhões de doses para os países da região mais pobres que não estão conseguindo comprar vacinas. Aliás, 130 países no mundo, de 193 que fazem parte da ONU, não receberam sequer uma dose sequer da vacina. Cuba vai ajudar os países do seu entorno.    

6. Venezuela – Aqui também nos chega uma notícia alvissareira. O Poder Judiciário da Venezuela exarou no dia 24 de fevereiro uma decisão sobre Juan Guaidó, que está cada dia mais isolado politicamente, dentro e fora do país, apesar de os Estados Unidos não terem deixado de reconhecê-lo ainda como presidente. Mas, estão em uma saia justíssima, porque a União Europeia já recuou, mantendo com Guaidó, apenas “relações diplomáticas”. Mas, não o reconhece como representante de nada. 

A justiça venezuelana disse que ele está proibido de exercer quaisquer cargos públicos em todos os níveis, em todo o país. Uma decisão acertada, pois ele é condenado pela justiça, não está preso, mas é condenado. Igual ao Navalny, na Rússia, que vai começar a cumprir pena como condenado. 

7. A volta de Trump à vida política – Finalizo com a notícia de que Trump decidiu que vai retornar à vida política. Ele superou o impeachment, como prevíamos. Eu afirmei várias vezes que era, praticamente, impossível que os democratas conseguissem 17 votos entre os republicanos para que Trump perdesse seus direitos políticos. 

Eu e toda esquerda estadunidense somos favoráveis que ele perca seus direitos e seja banido da vida pública, como foi banido do Twiter. Nós devemos apoiar, porque é um fascista, divulgador de mentiras. Os democratas conseguiram apenas cinco votos. E esses cinco senadores, estão sofrendo uma pressão muito grande e, talvez, saiam do Partido por terem votado contra Trump. 

Trump não deve fundar novo partido político. Deve ficar mesmo no Partido Republicano. Neste domingo, dia 28 de fevereiro, fez sua primeira aparição pública desde a sua derrota nas eleições de 3 de novembro de 2020. Ele discursou na Conferência da Ação Política Conservadora na cidade de Orlando, em Miami. Fez duras críticas ao governo de Joe Biden, dando sinais que deverá mesmo ser candidato novamente em 2024. Acusou o presidente Biden de estar “soltando criminosos da cadeia”. Voltou a atacar a China, usando o surrado termo “China Vírus” (3). 

Quem quiser assistir ao meu programa semanal de uma hora sobre geopolítica mundial que foi ao ar na quinta-feira, dia 25 de fevereiro pode clicar neste endereço: https://bit.ly/304gdcS. 

1. Assistam ao vídeo do Canal Ahi les Va sobre Fundação de Alexey Navalny onde mostra que ele como agente estrangeiro agindo na Rússia. Apresentadora: @inafinogenova desmascara quem é Navalny. 

2. Agradeço à Ademir Munhóz pelo trabalho de transcrição (ademir@piracaihoje.com.br). 

3. Veja notícia de última hora no G1 no link <http://glo.bo/3uFiDwO>.

Osvaldo Bertolino, Sociólogo, professor universitário (aposentado) de Sociologia e Ciência Política, escritor e autor de 14 livros, pesquisador e ensaísta. Atualmente exerce a função de analista internacional, sendo comentarista da TV dos Trabalhadores, da TV 247, do Canal Outro lado da notícia, do Canal Iaras & Pagus, do Canal Rogério Matuck, do Canal Contraponto, todos por streaming no YouTube. Publica artigos e ensaios nos portais Vermelho, Grabois, Brasil 247, Outro lado da notícia, Vozes Livres, Matuck, Contraponto, Democracia no Ar e Vai Ali. 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Osvaldo Bertolino

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