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Guatemala: Avanços e retrocessos

Carolina Vásquez Araya

Tradução:

Um informe presidencial mais otimista que o razoável.

Carolina Vásquez Araya*
carolina-vasquez-arayaUm mandatário satisfeito, uma cerimônia sem brilho e acirradas críticas pelos resultados do primeiro ano de gestão deixarem um retrogosto amargo a uma cidadania decepcionada e incrédula. Apesar dos sorrisos e dos gestos pomposos do presidente da Guatemala, está claro que com um frágil 20 por cento de aprovação o caminho se lhe apresenta complicado e a recuperação da confiança de seus eleitores –que desde há algum tempo mostram sinais de arrependimento- se vêem distantes no horizonte.
palmerlee_110503_705911Porém, na realidade sua popularidade é o que menos importa. Muito mais relevante é o fato de que durante sua gestão a prometida transparência esteve ausente e suas reações diante das denúncias de corrupção contra seu filho e seu irmão evidencia que tal propósito nunca foi levando a sério por quem dirige os destinos do país. Tal e como comentam os meios internacionais, o mandatário parece ter ficado sem o roteiro, se é que alguma vez o teve. A opacidade e o autoritarismo são, precisamente, dois dos grandes pecados contra os quais a população se rebelou em 2016 e parece disposta repetir essa atitude nos primeiros meses deste ano.
Falar em avanços é quase um gesto de arrogância por parte do governo. Inclusive quando existem passos concretos na direção correta, em alguns ministérios, as condições de vida das grandes maiorias, constituem a evidência mais palpável da debilidade e deve levar a sério as críticas sobre a ausência de um plano estratégico coerente e propositivo, uma das fraturas perigosas na estrutura da administração do Estado.
Cerca de 80 por cento da população rural infantil em estado de desnutrição expõe ao ridículo qualquer alarde sobre êxito no desempenho da equipe de governo. A isso há que contrastar o déficit na atenção escolar para a população menos de 18 anos, que sobrevive numa marginalidade permanente em todos os aspectos importantes de seu desenvolvimento. Por isso, os discursos protocolares nestes atos de uma solenidade vazia de conteúdo ferem de morte as esperanças dos mais necessitados ao verem como seus governantes dão tapinhas nas costas uns dos outros, se felicitam por seus sucessos e se mostram satisfeitos, dando por assentado que a população, desde seus lares, aplaude.
O desconhecimento da realidade não é tão profundo nas esferas do poder como a consciência de que para mudá-la seria preciso destruir as estruturas da corrupção e da impunidade, façanha que poucos políticos parecem estar dispostos a empreender. Sabidamente, as regras do jogo foram dadas precisamente para proteger esses elos cujas ataduras se apertam a cada substituição. Daí que os esforços de algumas instâncias, como o MP e a Cicig soem aparecer entorpecidos pelos resquícios legais criados para esse fim.
O mais doloroso nesse cenário é ver como as prioridades estão deslocadas e os setores mais desprotegidos e vulneráveis estarão em piores condições no ano seguinte, e muito mais nos seguintes, a menos que se reformule todo o plano de governo em função de alcançar um equilíbrio saudável e justo em suas políticas e a execução dos programas mais urgentes. Mas essas aspirações devem surgir de um profundo ato de reflexão dos que governam o país. Porque de nada serve a retórica do discurso se do outro lado dos muros do Palácio ou do Congresso as crianças morrem de desnutrição e as mães de parto não assistido, enquanto seus filhos vagueiam por não terem escola.
 
*Colaboradora de Diálogos do Sul, de Ciudad de Guatemala
 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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