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Na Guatemala para abrandar as carências e reparar os danos sofridos por grande quantidade de crianças em situação de risco, foram criados os “lares seguros” as casas de recolhimento. Um deles, o Lar Virgem da Assunção, motivo desta reflexão, um estabelecimento destinado a substituir na medida do possível as carências de meninos e meninas abandonados ou privados de seus direitos. Em teoria, esses lugares especialmente construídos proporcionariam segurança e atenção profissional com pessoal capacitado nas diferentes disciplinas para cumprir com o objetivo de dar a esses menores a formação e o cuidado necessários e prepará-los para uma vida adulta produtiva e, no possível, feliz.
Carolina Vásquez Araya*
A realidade é outra. As revelações das últimas semanas, graças a um extenso e profundo trabalho jornalístico, puseram em alerta a Procuradoria Geral da Nação, o Ministério Público e a imprensa, mostrando um cenário dantesco das condições reais em que sobrevivem as meninas, meninos e adolescentes resgatados e internados neste lugar supostamente seguro, dependente da Secretaria de Bem-estar Social da Presidência e, por extensão em outros com características similares administrados pelo Estado.
As denúncias deveriam ter gerado uma reação imediata das autoridades encarregadas de atenção à população. Não obstante, ficou numa tíbia tentativa de reduzir as denuncias alegando dificuldades financeiras, sobre população das casas, limitações de todo tipo. Resposta insuficiente ante as suspeitas de abusos incomensuráveis como de violações sexuais e negócios de tráfico com as e os adolescentes internos. Ali o que se necessita é investigar a fundo todo o pessoal além de levar as vítimas para outros refúgios verdadeiramente seguros, a salvo de represálias.
Mas a cidadania em geral para que não deu muita importância para o problema. As meninas e meninos e adolescentes resgatados de situações de violência são coisas dos outros, são assuntos alheios a seus próprios interesses e não chegam a tirar o sono. Contudo, estamos falando de milhares de vítimas de abusos, desde a privação da identidade, a falta de acesso à educação, a desnutrição crônica, a perda do lar, até as ofensas mais cruéis como as violações sexuais e a obrigação de se prostituir para benefício econômico de adultos com poderes e autoridade para dispor desses menores como lhes dê na telha, como se seus escravos fossem.
Aqui vale destacar que sim é responsabilidade da cidadania velar pela segurança, integridade e o respeito aos direitos da infância. Fazer-se de desentendido, no fundo, é evidência do tão corrompido está o sistema individualista e permissivo em que estamos submersos. Assim como falharam no cuidado com a infância e a juventude, também falharam no exercício do poder cidadão a partir de valores sólidos para controlar os desmandos dos governantes. Neste contexto, a infância está mais desprotegida que nunca.
*Colaboradora de Diálogos do Sul, de Ciudad de Guatemala