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Guatemala: Nem com água benta se limpam as manchas

Carolina Vásquez Araya

Tradução:

Só se pode melhorar a imagem governamental adotando as decisões corretas.

Carolina Vásquez Araya*
Jimmy Morales.1A campanha de imagem que o governo da Guatemala contratou de uma empresa estrangeira, na realidade é uma medida desesperada para manejar à grave crise de credibilidade da atual administração.
Aparentemente, trata-se de uma estratégia para consolidar laços entre o governo e as instâncias legislativas estadunidenses, além de maquiar a pálida imagem oficial, mas revela taxativamente a incapacidade da equipe diplomática para cumprir com os requisitos mínimos exigidos para desempenhar tão importantes cargos, responsáveis pela consolidação das relações com outros Estados sobre a base de um melhor posicionamento do país no plano internacional e um conhecimento profundo dos atalhos para conseguir.
Na realidade, o que foi contratado é uma “diplomacia paralela” colocadas nas mãos de pessoas alheias aos interesses nacionais, que oferecem seus serviços com o único objetivo de aproveitar as debilidades de um governo para conseguir vultosos benefícios econômicos.
De quem surgiu a ideia de gastar – porque não é investimento – mais de 14 milhões de quetzais com tal iniciativa, não foi revelado. Não obstante, como o mandatário prefere estar rodeado de representantes do setor privado, inclusive para assistir a eventos internacionais de enorme relevância estratégica e diplomática, supõem-se a influência de empresários para essa generosa malversação de recursos do Estado. Contudo, qual o interesse por tentar o impossível? Uma hipótese é a necessidade de melhorar a imagem desgastada de um governo desorientado e pouco transparente, talvez para reforçar o aparato que lhe permita chegar até o final enquanto no trajeto saem os projetos de privatização de serviços públicos, como por exemplo, a saúde às escondidas do povo.
Um operativo ambicioso e de resultado duvidoso como uma campanha de imagem com intenções de cobrir um pouco com névoa o verdadeiro estado do Estado, só mostra uma perigosa debilidade institucional e escassa visão com relação a rota mais indicada para reparar o desvio ocorrido nas propostas da campanha e as política públicas em setores fundamentais como saúde, educação, segurança e habitação.
A população sabe muito bem quanta mentira há nas propostas que levam um candidato à primeira magistratura da nação. A qualquer deles, como ficou óbvio ao longo dos anos. Não obstante, toda iniciativa cidadã para mudar as regras do jogo nos estamentos eleitorais e de partidos políticos se esbarrou estrepitosamente contra o mudo legislativo dos beneficiados com as atuais leis, o que tem impedido a acesso de mulheres e povos originários nos espaços de decisão que lhes dizem respeito, por exemplo, os bloqueios às leis de paridade e inclusão, bem como as política públicas em educação e saúde sexual e reprodutiva, ambas de enorme impacto para a população.
Diante do estado da nação, não há sabão suficientemente eficaz para remover as manchas profundas da corrupção, a incapacidade administrativa e o clientelismo. É impossível restituir algo tão delicado e frágil como a confiança cidadã com um contrato que unicamente beneficia a uma empresa estrangeira cuja magia têm seus limites. Nem sequer banhando-se em água benta os burocratas e os notáveis  no poder  conseguiriam lustrar brilhos que não possuem, menos ainda se seu interesse está evidentemente dirigido a blindar-se contra a fiscalização cidadão e garantir os mais abundantes lucros possíveis antes do término de seus mandatos.
As deficiências no maneja da coisa pública não desaparecem com uma campanha de imagem.
*Colaboradora de Diálogos do Sul, de Ciudad de Guatemala


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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