Atacar a imprensa tem sido uma longa e funesta tradição na Guatemala. Incapazes de enfrentar as críticas e assinalamentos derivados de pesquisas minuciosas de equipes jornalísticas, tanto políticos como empresários no poder atacam com o que têm à mão; ou seja, mediante os corpos policiais, de inteligência e paramilitares que cumprem para eles seus mais sujos encargos.
As agressões à Imprensa nacional e seus membros não são nada de novo, o bom trabalho jornalístico, aquele que não se vende, tem representado uma ameaça constante para a casta política que se erigiu em um círculos de intocáveis, em cujas mãos estão a chave do cofre e algo ainda mais sensível, a capacidade de mudar as regras do jogo mediante um trabalho legislativo clientelista.
A reação do Executivo nada mais é que uma manifestação explícita do medo que o domina. Vê-se encurralado pelo rechaço da cidadania diante de sua evidente incapacidade para controlar o governo, para coordenar políticas racionais em momentos tão críticos como os atuais e para responder às demandas de um povo que – a menos de um ano de governo – já compreendeu o imenso erro cometido ao escolher um títere do empresariado e cúmplice de um exército repressor.
A Guatemala volta ao cenário dos anos 80 com um presidente completamente alheio à realidade, transformado em inimigo declarado da democracia.
Barrancópolis
O que hoje vive a Guatemala é um evidente retrocesso para as ditaduras do século passado.
A recente captura do jornalista Sonny Figueroa é uma piada pronta. Em parceria com seu colega Marvin del Cid, publicou uma exaustiva pesquisa sobre o aparelho administrativo supra ministerial que ilegitimamente (e provavelmente também fora do marco legal) tomou o controle das ações do Executivo sob o comando de um jovem protegido do mandatário.
Um forte financiamento cobre os caprichos deste Centro de Governo cujo propósito mais evidente é blindar-se contra qualquer tentativa de fiscalização. Portanto, as pesquisas e publicações de Figueroa e Del Cid lhe ocasionaram uma coceira que só poderia se acalmar com uma perseguição aberta e descarada.
No entanto, o tiro saiu pela culatra para o presidente e seu protegido por causa da torpeza de sua reação e só conseguiu provocar um imediato e forte protesto da associação dos jornalistas e de numerosos membros da sociedade civil.
O que hoje vive a Guatemala é um evidente retrocesso para as ditaduras do século passado e isso pode ser observado a cada dia nas medidas desesperadas e erráticas do mandatário, o qual para dar um impressão de autoridade – da qual carece – tem recorrido a táticas contrárias ao marco democrático.
Ansioso por derrubar obstáculos às suas ambições ditatoriais tem dado golpes dissimulados à institucionalidade e, é claro, ao direito à liberdade de imprensa, o maior dos avatares para qualquer ditador improvisado.
É imperativo sublinhar que sem uma imprensa independente, um país cai indefectivelmente em um estado de tirania e no colapso do estado de Direito.
O exercício do jornalismo é, portanto, um baluarte das liberdades e faculdades das maiorias, já que a livre expressão não é só privilégio da imprensa, mas sim um direito inalienável do povo a conhecer em detalhes as decisões e os atos de seus governantes para, desse modo, exercer um dos princípios fundamentais da democracia: a fiscalização do uso dos recursos nacionais e a rota correta das políticas públicas, com o objetivo de garantir a observância e a pertinência no exercício do poder.
Por isso e muito mais, temem tanto uma imprensa que não se deixa amedrontar.
Quando o medo se instala, o primeiro que se nubla é a razão.
Carolina Vásquez Araya, Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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