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Guerra comercial de Trump mira tecnologia e desenvolvimento da China, diz analista

Revista Diálogos do Sul

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O presidente estadunidense, Donald Trump, anunciou no início de março tarifas de 25% e 10% sobre a exportação de aço e alumínio, respectivamente, para os Estados Unidos. Originalmente, as tarifas se aplicariam a todos os países; hoje, no entanto, mais de 30 nações estão isentas do decreto.

Letícia Garcia e Pedro Moraes *

A iniciativa tem respaldo no Ato de Expansão Comercial, publicado em 1962, que autoriza o poder executivo a restringir importações por razões de segurança nacional. Ainda assim, a mais recente manifestação do slogan America First do presidente Trump colocou o protecionismo estadunidense e seu impacto na economia mundial no centro do palco da geopolítica global.

Os Estados Unidos são a nação que mais importa aço e alumínio no mundo. Em 2017, o país comprou US$ 29 bilhões dos metais e importou aço de 85 países e territórios, de acordo com o Departamento de Comércio dos EUA. O Canadá, seu maior fornecedor, exportou 17% do material, seguido pelo Brasil, com 14%, a Coreia do Sul, com 10% e o México, representando 9% das exportações, segundo as estatísticas do Global Trade Atlas do ano passado.

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De acordo com o economista estadunidense James Kahn, a medida protecionista do presidente tende a prejudicar consumidores de seu país. “O custo de carros vai aumentar, porque elas [companhias] precisam comprar aço com essa taxa — impostos de importação —, ou de fábricas domésticas, que têm custo maior”, exemplifica Kahn.

Parte traseira de um porta talão de cheques | Produto estadunidense produzido na China

As ações da General Motors, por exemplo, chegaram a despencar 4,5% após o anúncio das taxas alfandegárias, o que representa uma destruição de valor para a companhia de aproximadamente US$ 2,7 bilhões. O economista também cita um possível aumento na taxa de juros e diminuição na competitividade da indústria de aço estadunidenses como prováveis prejuízos para a economia dos EUA.

A medida também deverá custar o emprego de muitos cidadãos, como destaca Noah Smith, ex-professor de finanças na Stony Brook University, em declarações para a agência Bloomberg.

O presidente Trump defende que as tarifas de exportação vão criar empregos siderúrgicos. Smith, em contrapartida, chama atenção para o fato de que a indústria de metais, protegida pelas tarifas, emprega somente 376 mil trabalhadores, enquanto a indústria manufatureira, afetada pelas taxas, engaja 12,5 milhões de pessoas.

Além de ruim para a própria nação, as taxações sobre os metais trazem malefícios para outros países também, como afirma Kahn. Segundo ele, a motivação de Trump seria agradar o público que o elegeu, cuja base política é contra o livre-comércio entre países.

Isso porque as tarifas deverão gerar maior “tensão e disputas comerciais entre as grandes economias”, comprometendo assim as perspectivas de crescimento da economia global. É o que diz o mais recente relatório publicado pela Coface, seguradora de crédito mundial.

O temor de uma guerra comercial não é sentido desde 1930, logo após a Quebra da Bolsa de 1929. Foi quando entrou em vigor a Lei de Tarifa Smoot-Hawley: uma medida protecionista estadunidense que elevou as tarifas de importação sobre mais de 20 mil mercadorias.

 

Alvo real

 

No Brasil, a medida afetaria principalmente as siderúrgicas. Os preços das ações de empresas como Usiminas, CSN e Gerdau caíram 8%, 15% e 3%, respectivamente, em um período de quatro dias desde o anúncio do decreto.

A Organização Mundial do Comércio alerta o perigo iminente do protecionismo de Trump. Roberto Azevedo, diretor geral do órgão, declarou, em reunião especial para tratar sobre a questão, que as medidas são um “retrocesso no comércio mundial”. Para ele, “é claro que agora vemos um risco muito maior e real de desencadear uma escalada das barreiras comerciais em todo o mundo”.

A raiz do problema, diz James Kahn, é que “ele [Trump] entende a economia do mundo como um jogo de soma-zero (zero-sum game)“.

Fonte: Investopedia

No entanto, as consequências da medida sobre a economia mundial foram mitigadas pela exclusão de alguns parceiros comerciais dos Estados Unidos. A renegociação do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês) isentou Canadá e México da ação protecionista e, no dia 22 de março, Trump acordou a exclusão da tributação de Brasil, Argentina, Coreia do Sul, Austrália e União Europeia.

 

A China

 

Por outro lado, Trump parece determinado a atacar a China diretamente: assinou mais uma medida preventiva que afeta o país asiático. O novo decreto taxa até US$ 60 bilhões de produtos — em sua maioria itens de tecnologia, como celulares e computadores. A justificativa do presidente para essa lei é a esperança de criar e reter empregos em solo estadunidense, além de diminuir o déficit comercial com os chineses.

No dia em que assinou o novo decreto, Trump publicou um vídeo em seu Twitter no qual afirma que o problema comercial com o país asiático é, entre outros, o roubo de propriedade intelectual e as taxas chinesas. “Quando eles [China] cobram uma taxa de 25% para nossos carros entrarem no país, mas nós cobramos 2% para os carros deles entrarem aqui, simplesmente não é justo”, disse.

Trump também tuitou que os Estados Unidos estão perdendo economicamente para a China há muito tempo, e culpou antigos representantes da nação por conta disso. “Agora temos um déficit comercial de US$ 500 bilhões por ano, com roubo de propriedade intelectual de outros US$ 300 bi. Nós não podemos deixar isso continuar!”

Em retaliação às medidas protecionistas de Trump, a China anunciou tarifas sobre 128 produtos oriundos dos Estados Unidos. A medida abrange carne suína, vinhos e frutas. As taxas incidem sobre aproximadamente US$ 3 bilhões de exportações dos EUA. A Casa Branca criticou a ação e declarou a que a medida é uma tentativa de distorcer os mercados globais.

 

 

Guerra comercial?

 

A tensão entre as duas nações eleva a ameaça de um duelo comercial de grande escala. O jornal The New York Times enfatizou que o conflito tarifário pode prejudicar o crescimento econômico global se as duas partes não resolverem suas diferenças.

Os países asiáticos já foram alvos de medida protecionista estadunidense no passado. O então presidente dos Estados Unidos em 2002, George W. Bush, também sobretaxou importações do aço e do alumínio em 30%.

A motivação de Bush era análoga à de Trump: preservar empregos siderúrgicos e proteger os Estados Unidos da concorrência da China, Japão e Coreia do Sul.

Um economista da Universidade de Pequim — que pediu para ter a identidade preservada — enxerga o protecionismo de Trump perante a China como um paralelo da postura estadunidense com o Japão no final do século 20. Ele relembra que a atitude excludente dos EUA dificultou a ascensão do Japão, mas não foi capaz de abalar o status do país como uma potência econômica mundial.

Fonte: G1

As tarifas, que rapidamente provaram ser um verdadeiro fracasso, foram anuladas pouco tempo após entrarem em vigor devido à pressão por parte da União Europeia e da OMC.

Segundo o economista chinês, “as tarifas mais agressivas dos Estados Unidos [para com a China] são relacionadas à tecnologia”. O mais recente decreto de Trump é, justamente, para aplicar 25% de taxa em produtos médicos, de transporte e de tecnologia industrial chineses.

A reação de Trump ao recente contra-ataque Chinês permanece uma incógnita. O economista chinês afirma, no entanto, que a melhor maneira de lidar com a imprevisibilidade do presidente estadunidense é por meio de diálogo.

Edição: Vanessa Martina Silva

(*) Produzido para o Diálogos do Sul em parceria por alunos da U. P. Mackenzie. 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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