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Guerra na Ucrânia chega a 2 anos com UE em colapso e longe de uma derrota russa

Condição russa "lhe permite regenerar seu poder de combate e repor suas reservas muito mais rápido do que pensávamos", assume a Defesa da Dinamarca
Jorge Elbaum
Estratégia.la
Buenos Aires

Tradução:

Neste sábado, 24 de fevereiro, o início da Operação Militar Especial da Federação Russa completa dois anos. O conflito bélico que deu origem a profundas mudanças nas relações políticas internacionais. A guerra, que continua na Europa Oriental, tem a originalidade de revestir um triplo caráter: por um lado é resultado de uma guerra civil promovida pelo governo de Kiev contra os falantes russos do DonbasOTAN contra Moscou com o claro objetivo de debilitar a soberania russa e socavar a aliança multilateral expressa nos BRICS. Nesse sentido, é um tiro por tabela contra Xi-Jinping, que viu aumentar – durante o último biênio – a hostilidade em torno a Taiwan.

Em termos operativos, a guerra tornou-se uma batalha cotidiana de desgaste com indubitáveis vantagens militares de Moscou que se somam a uma escassez de tropas ucranianas e a uma admissão dissimulada da sociedade ucraniana de que é impossível a derrota de Moscou.

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Em novembro do ano passado, aquele que era até poucos dias atrás o comandante em chefe das Forças Armadas ucranianas, Valeri Zaluzhni, deu uma entrevista ao The Economist em que admitiu que sua contraofensiva havia fracassado, que a situação na frente de batalha se encontrava estancada e que vislumbrava graves restrições no recrutamento, dificuldade atribuída à má gestão de Zelensky. Três meses depois destas declarações, o mandatário ucraniano decidiu deslocar Zaluzhni, nomeando em seu lugar o chefe do exército, o general Oleksandr Sirski.

Às declarações desanimadas de Zaluzhni se somaram as do chefe de assessores do gabinete presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak que reclamou ajuda do Ocidente dado que “as tropas russas estavam usando cerca de 10 mil projéteis de artilharia por dia ao longo da linha de frente, enquanto as tropas ucranianas estavam restritas a usar cerca de 2 mil em resposta”.

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Os analistas militares do pentágono, aliás, estão pessimistas com relação à capacidade de Kiev de repelir os contínuos ataques de mísseis. Segundo um informe do serviço de inteligência britânico, a Rússia produz quase 100 tanques mensais, número que corresponde a cinco vezes o que a Ucrânia recebe durante o mesmo período.

Segundo o ministro da defesa da Dinamarca, o general Flemming Lentfer, a Rússia demonstrou ser “mais forte do que o esperado” e aproveitou o conflito para instaurar uma “economia de guerra, condição que lhe permite regenerar seu poder de combate e repor suas reservas muito mais rápido do que pensávamos”. Uma derrota de Kiev seria utilizada – ressaltou Lentfer – para que a “Rússia utilize sua força militar para desafiar a OTAN”.

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Se isto acontecer, afirmou, Moscou “controlaria 35% de todos os mercados mundiais de trigo”. Na última semana, o chanceler alemão, Olaf Scholz, declarou, antes de uma viagem a Washington, que seu país não poderá fornecer as armas solicitadas por Zelensky, razão pela qual “temos que fazer todo o possível para evitar que a Rússia saia vitoriosa”.

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Condição russa "lhe permite regenerar seu poder de combate e repor suas reservas muito mais rápido do que pensávamos", assume a Defesa da Dinamarca

Fotos: Gage Skidmore / Presidência da Ucrânia / Kremlin
Joe Biden, presidente dos EUA, Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, e Vladimir Putin, presidente da Ucrânia




Rússia cresce 3,6%

Enquanto o chefe do governo alemão vai a Washington manter conversas bilaterais com Joe Biden, destinada a tentar fazer com que o Capitólio habilite ajude Kiev, foram divulgados dados sobre o crescimento da economia russa. Durante o ano de 2023, o produto bruto aumentou 3,6%, estimulado pelo consumo, pelo aumento das exportações e pela indústria militar. As contradições internas dentro da União Europeia (UE) e as falidas negociações dentro do Capitólio ficaram expostas recentemente na entrevista realizada pelo trumpista Tucker Carlson com Vladimir Putin.

O diálogo entre o líder russo e a ex-figura da Fox News ocorreu na mesma semana em que fracassou o acordo para conceder 60 bilhões de dólares em assistência militar para a Ucrânia, 14 bilhões para Israel e outros 10 bilhões em assistência humanitária para Ucrânia, Gaza e Cisjordânia.

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Desde que se iniciou o conflito, em fevereiro de 2022, a UE concedeu a Kiev cerca de 100 bilhões de dólares, afetando de forma direta a economia comunitária. Na última remessa comprometida recentemente pela UE – que teve o premiê húngaro Viktor Orbán como seu mais tenaz opositor – assegura-se um desembolso de outros 50 bilhões enquanto aumentam as manifestações do setor agrícola e cai a produção industrial da Alemanha.


Derrota do globalismo neoliberal

Uma pesquisa divulgada na última semana pelo Conselho Europeu de Relações Exteriores, relativa às eleições parlamentares de junho, alerta sobre uma possível derrota do globalismo neoliberal, representado pelo grupo parlamentar mais obcecado em adiar a capitulação ucraniana.

O estancamento bélico que beneficia Moscou, a deterioração moral das tropas ucranianas, as contradições internas no conglomerado da OTAN e os potenciais triunfos de Trump e Orbán nas eleições de 2024 – presidenciais nos EUA e parlamentares na UE – explicam a despreocupação e a calma com que Putin recebeu Carlson.

Jorge Elbaum | Sociólogo, doutor em Ciências Econômicas, analista sênior do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE, www.estrategia.la).
Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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