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Para fracasso dos EUA, Rússia previu ofensiva da Otan e otimizou economia e força militar

Além de profissionalizar forças armadas, Moscou reorientou setor energético ao oriente; até 2025, gasoduto Poder da Sibéria levará 50 bi m³ de gás à China
Vicky Peláez
La Haine
Madri

Tradução:

Durante mais de 500 anos, o Ocidente tentou sem resultado conquistar e subjugar a Rússia para apoderar-se de suas imensas riquezas naturais. Napoleão e Hitler tentaram militarmente e agora os EUA com seus satélites incondicionais da OTAN.

Já disse Zbigniew Brzezinski, assessor de Segurança Nacional dos EUA: a Ucrânia é um pivô geopolítico porque sua própria existência como país independente ajuda a transformar a Rússia. Sem a Ucrânia, a Rússia deixa de ser uma potência da Eurásia.

Washington e seus aliados tinham o plano preparado para utilizar a Ucrânia nazificada e bem armada pelo ocidente para desencadear uma guerra contra a Rússia e fazer fracassar seu projeto de um novo sistema mundial multipolar que punha fim à hegemonia da América do Norte.

Além de profissionalizar forças armadas, Moscou reorientou setor energético ao oriente; até 2025, gasoduto Poder da Sibéria levará 50 bi m³ de gás à China

Pxhere
O desfecho do conflito na Ucrânia parece estar próximo

Quando Moscou conseguiu descobrir em tempo as intenções do Ocidente viu-se obrigado a lançar em 24 de fevereiro último uma operação militar preventiva na Ucrânia com o propósito de desmilitarizar e desnazificar este país que se tornara um perigo para sua segurança nacional.

Já desde o início do golpe de estado do Maidan na Ucrânia, que fora concebido em Washington em 2008 e que custou à América do Norte cerca de 5 bilhões de dólares, a Rússia começou a tomar medidas para preparar-se para o futuro enfrentamento com Kiev, que nos últimos oito anos abraçou o neofascismo na forma particular de ucronazismo sob a tutela de Washington.

Em 2019, um dos mais influentes dos mais de 1.500 think tanks estadunidenses, a Rand Corporation, que está a serviço do Pentágono, confirmou a intenção dos EUA de dobrar a Rússia em seu informe de 5 de setembro de 2019 – Plan of Overexpanding and Unbalancing Russia (Plano para distender e desequilibrar a Rússia).

Neste documento os estrategistas da corporação indicavam a Ucrânia como o ponto externo mais vulnerável da Rússia e aconselhavam o Governo dos EUA a armar e preparar a Ucrânia para um confronto militar com Moscou. O plano definia o setor energético russo como o outro flanco vulnerável, porque a economia do país dependia em 45% da exportação de gás e petróleo. Então o que Washington tinha que fazer era obrigar os europeus a diminuir sua importação de gás (até 60%) e de petróleo (35%) deste país e, ao mesmo tempo “recorrer a drásticas sanções comerciais e financeiras contra Moscou para solapar o país”.

O projeto incluía também a criação de estímulos financeiros para organizar protestos internos na Rússia, promover a imigração de jovens talentos e “solapar o país no exterior”. Aconselhava-se também um deslocamento de armas nucleares para todos os países membros da OTAN que têm fronteira com a Rússia. Concluindo, os autores deste documento advertiam que “as opiniões previstas neste plano na realidade são apenas variantes da própria estratégia de guerra, cujo preço em sacrifícios e riscos, pagamos todos nós”.

Não há nenhuma dúvida de que o projetado conflito militar que a Ucrânia iniciaria em Donbass e na Crimeia estava concebido não tanto no interesse de Kiev como no de Washington, que precisa esmagar a Rússia para abrir caminho para a China e assim voltar a dominar o mundo como no século XX.

Moscou já sabia desses planos de Washington com muitos anos de antecipação e tomou suas própias medidas. Além de rearmar e profissionalizar suas forças armadas, reorientou seu setor energético do ocidente para o oriente. Em 2014, foi assinado um contrato de 400 bilhões de euros com a China para fornecer 38 bilhões de metros cúbicos de gás por ano a partir de 2018 (China consome anualmente cerca de 180 bilhões de metros cúbicos). Em 2023 – 2025 entrará em funcionamento o gasoduto Poder da Sibéria, projetado para levar ao gigante asiático outros 50 bilhões de metros cúbicos.

Em 4 de fevereiro de 2022, em uma declaração histórica de 5.300 palavras, Xi Jinping e Vladimir Putin concordaram em formar um novo sistema de “governança global” que uniria Europa e Ásia através de uma “conectividade de estruturas, alta velocidade ferroviária e distribuição colaborativa de recursos energéticos”. Neste documento os dois líderes anunciaram que o mundo está passando por mudanças transcendentais, criando uma redistribuição do poder. Também planejaram fusionar a União Econômica Euroasiática com a Nova Rota da Seda com mais de um trilhão de dólares. Ao mesmo tempo, funciona desde 2014 na Rússia o Serviço de Transferência de Mensagens Financeiras (SPFS), o análogo russo do SWIFT, que facilita operações bancárias no país e entre a Rússia e a China.

Em 2016, a Rússia salvou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e informou-o de uma tentativa de golpe militar. Este fato facilitou a implantação em 2020 do Turkish Stream, o gasoduto que une a Rússia à Turquia e que tem uma capacidade de 63 bilhões de metros cúbicos de gás por ano, é mais do que a Rússia bombeia para o Ocidente pelo gasoduto da Ucrânia.

Os carregamentos de petróleo já comprometidos da Rússia que não encontram compradores na Europa estão sendo adquiridos pela Índia. As transações de petróleo em rúpias, renminbis chineses, rublos russos e riales sauditas representam um golpe no petrodólar norte-americano.

Então, do ponto de vista financeiro, uma possível perda do mercado europeu, devido às sanções que os europeus aceitaram submissamente, não produziria um colapso econômico na Rússia, como esperava Washington. E mais, os EUA até agora não conseguiram encontrar substituição para os 178.550 barris diários de petróleo que importava da Rússia. Ao mesmo tempo, só em 2025 a Alemanha poderia substituir o gás russo pelo gás norte-americano liquefeito (GLP, a um preço muito mais alto), quando terminaria a construção projetada de dois terminais para GLP.

Tudo isso mostra que a operação especial que a Rússia iniciou na Ucrânia sob a consigna de destruição construtiva foi bem concebida e representava a única alternativa para Moscou de frustrar os planos antirrussos do Ocidente utilizando Kiev.

Para muitos observadores ocidentais o avanço militar russo é bastante lento, mas é preciso considerar os esforços dos militares russos que, diferentemente dos EUA que destroem tudo em sua passagem quando bombardeiam, os russos querem evitar as vítimas civis, respeitar os militares que se rendem durante a operação, além de não causar danos desnecessários nas cidades. E seus alvos são exclusivamente militares; vemos isso, apesar da mídia ocidental  ocultá-lo. Oculta como as Forças Armadas russas evitam envolver-se em batalhas de rua e a ajuda que dão aos habitantes de populações liberadas do nazismo.

Já não existe praticamente nada que detenha a Rússia neste processo de desnazificação e desmilitarização da Ucrânia, nem as ameaças de Joe Biden e de sua OTAN, nem as mais de 500 sanções impostas por Washington e Bruxelas, nem a bomba atômica suja anunciada pelo presidente russófobo ucraniano Volodymyr Zelenski, nem as armas biológicas desenvolvidas em 30 laboratórios norte-americanos na Ucrânia.

Na realidade, esta operação iniciada pelo Kremlin não está dirigida exclusivamente contra a Ucrânia – um país escolhido simplesmente pelos estrategistas norte-americanos como um ponto inicial para a decomposição da Rússia -, e sim contra a ordem mundial globalizada imposta pelos EUA.

Ucrânia, que sempre foi considerada pelos estrategistas ocidentais como a porta de entrada na Rússia, tornou-se uma peça no xadrez geopolítico de Washington. País que durante cerca de 20 anos esteve transformando seu nacionalismo, com uma longa história de ucronazismo baseado em postulados de um colaborador nazi durante a Segunda Guerra Mundial chamado Stepán Bandera, repressor sem piedade de judeus, russos, poloneses e dos próprios ucranianos que se opunham ao nazismo, e no neonazismo europeu que nos últimos anos começou a levantar a cabeça.

Depois do Maidan em 2014, ganhou força a glorificação do nazismo induzida por Washington e apoiada pelas elites nacionais. Foram criados batalhões neonazis como Azov, Donbass, Batkivshcina, a Unidade Tornado; e adotou-se nestas formações a saudação nazi. Seus membros são em sua maioria antissemitas (sendo judeu o presidente da Ucrânia), homofóbicos, misóginos, supremacistas brancos e, sobretudo, antirrussos.

Segundo a jornalista Lora Logan, estes batalhões foram criados, armados e treinados pela CIA e financiados pelos EUA e pelos países da OTAN. São estes delinquentes que oferecem maior resistência às tropas russas, especialmente nas grandes cidades onde estão concentrados em sua maioria, utilizando a tática dos jihadistas do Estado Islâmico, que usam a população civil como escudos humanos, montando seus quartéis em escolas e jardins da infância e localizando seu armamento entre os edifícios de moradia, o que obstaculiza o avanço das tropas russas e as de Lugansk e Donetsk. No entanto, tudo é questão de tempo e não há dúvida de que serão cumpridas as metas russas com relação à desmilitarização da Ucrânia.

A tarefa seguinte, de desnazificação, vai ser mais complicada, porque o fascismo ucraniano arraigou-se profundamente durante os últimos oito anos na sociedade devido a sua influência no processo de educação e na cotidiana desinformação e zumbificação de um grande setor da população, privando-a da verdade pela campanha bem orquestrada dos meios de comunicação, da mesma forma como está acontecendo agora nos EUA e na União Europeia.

O uso do neonazismo e da russofobia pela América do Norte e seus seguidores da OTAN para conseguir seus objetivos estratégicos constitui um perigo latente para a humanidade. Já é hora do mundo recobrar o bom senso e abrir os olhos para dar-se conta dos planos deste 1% dos mais ricos e poderosos dispostos inclusive a usar o neonazismo para continuar dominando o planeta. E com relação à Rússia, Biden e suas marionetes da OTAN deveriam seguir o conselho de Otto von Bismarck, que assegurou que “o segredo da política consiste na amizade com a Rússia”.

Sputnik La Haine
Tradução de Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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