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Gustavo Espinoza: Peru e Venezuela, povos irmãos na história latino americana

Foi a luta pela Independência que estreitou ainda mais nossos laços de irmandade em todos os territórios localizados na América
Gustavo Espinoza M.
La Paz

Tradução:

São muitos – e antigos – os vínculos que unem os povos do Peru e da Venezuela. Tantos, que hoje bem podem se considerar – e com muita honra – povos irmãos.

Na verdade, a ligação entre os povoadores da América data de tempos remotos. O fato de viver em um mesmo cenário geográfico e possuir culturas afins, ligou os habitantes deste continente, mesmo antes da chegada do conquistador espanhol. Talvez por isso, se assegura que nos povoados do norte do Peru, nos anos finais do domínio inca, registrou-se a presença de pessoas procedentes da América Central, e em particular da Nicarágua, que habitaram este solo. 

Mas com a chegada dos espanhóis e a unificação de uma língua de uso cotidiano, nossos vínculos se fizeram maiores. Embora o território venezuelano não pertencesse ao vice-reino do Peru, os laços entre nossos povos começaram a se dar em um nível mais alto. Personalidades, como Francisco de Miranda ou Andrés Bello, visitaram diferentes países da região e estiveram no Peru e em outras futuras pátrias de nosso continente.

Foi a luta pela Independência que estreitou ainda mais nossos laços de irmandade em todos os territórios localizados na América

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São muitos – e antigos – os vínculos que unem os povos do Peru e da Venezuela

Mas foi a luta pela Independência a que estreitou ainda mais nossos laços de irmandade em todos os territórios localizados na América. Da Argentina partiram colunas libertadoras lideradas por José de San Martín: e da Venezuela, comandadas por Simón Bolívar. Foram registradas ações armadas protagonizadas por voluntários de diversos países da região, que se somaram a uma mesma luta e integraram um mesmo exército, o dos Libertadores. Em Junín e Ayacucho, patriotas latino-americanos da Venezuela, Colômbia, Equador, Argentina, Bolívia, Chile, Peru, e inclusive Cuba, cruzaram suas armas com as hostes do vice-reino e as venceram. Assim se concretizou, regada com sangue multinacional, uma Independência que ainda está em processo. 

Simón Bolívar, o Libertador de 5 Nações, foi, em essência, quem consolidou a Independência Nacional. Ele e o Grande Marechal Antonio José de Sucre, outro ilustre venezuelano, ao qual nossa história não tributou o legítimo reconhecimento que lhe corresponde, foram os fautores da gesta que selou a Independência da América em solo peruano. 

A oligarquia limenha, mesquinha e extremamente gananciosa, sempre quis negar o aporte dessas figuras ao nosso processo histórico. A San Martin, depois de recusá-lo com lacerante xenofobia, o admitiram finalmente porque se foi antes de culminar sua missão. Mas a Bolívar lhe saltaram com ódios enjaulados os expoentes da sociedade mestiça, aqueles que foram dormir “realistas”, e despertaram republicanos. E o obrigaram a ir embora do país para que eles organizassem a “sociedade peruana”, desigual, discriminadora e dependente, que herdamos.

Venezolanos ilustres, como Simón Rodríguez, o Mestre do Libertador; ou Manuelita Sáenz –a formosa filha de Quito que passou para a história como “A Libertadora do Libertador” – escolheram viver em terras peruanos e morrer em Paita, pelo amor que tiveram ao solo que os viu lutar pela América, em seu momento. 

Durante 200 anos fomos quase Repúblicas paralelas. Tivemos processos com diferenças e semelhanças, mas nos demos as mãos uma e outra vez quando a realidade o exigiu. Por isso ainda se fala do apoio de militares venezuelanos – inclusive Hugo Chávez – ao processo de Velasco; e da acolhida que tiveram em diferentes cidades da Venezuela os peruanos que fugiram, nos anos 80 do século passado, da barbárie apro-fujimorista. A desgraça nos fez ainda mais irmãos. As casas de Chincha em 2007, a “Operação Milagre” e a ajuda petroleira, fizeram mais do que hoje busca desconhecer uma presumida “associação de inimigos da Venezuela” que é liderada por algum lixo do broto alanista do APRA.

 Por tudo isso, gera desconcerto e em muitos casos indignação, o jogo sujo da Chancelaria peruana na crise que hoje afeta a Pátria de Bolívar. Em lugar de apoiar o povo irmão para enfrentar o ódio da oligarquia de Caracas e a cruel política do Império, optou por ficar ao lado dos agressores: esses que exploram a riqueza dos povos em cada um dos países de nosso continente. Em todos os casos, agiram impelidos por um plano operativo desenhado, alentado e financiado por um governo estranho – o dos Estados Unidos da América do Norte – que só busca explorar os povos e apoderar-se das riquezas nacionais em cada um dos nossos territórios. 

Usaram, para todos os efeitos, os argumentos mais desprezíveis. Nutriram-se da retórica do Império e repetiram como litania cada um dos “ataques” feitos pela administração Trump ao Governo Bolivariano da Venezuela. Argumentaram que buscam, apenas, “restaurar a democracia”, quando na verdade o que pretendem é se apoderar das ingentes riquezas contidas na faixa petrolífera do Orinoco, uma jazida mais rica que as que hoje possui a Arábia Saudita. O Petróleo, o Gás, os minérios, a água da bacia amazônica, as riquezas da selva e a biodiversidade é o que ambiciona a Casa Branca quando busca transferir o cenário da guerra do Oriente Médio para a Nossa América. 

E se vale dos procedimentos mais perversos para executar sua política. Basta recordar que desde o princípio impôs à Venezuela um bloqueio econômico que afetou severamente a vida do país e que não teve mais propósito que render pela fome os venezuelanos, e fazê-los renegar sua experiência e sua luta. Ao não alcançar tal objetivo, estimulou ações delitivas de natureza terrorista que causaram ingentes danos materiais e custaram a vida a centenas de pessoas. E hoje, mais a descoberto, promove e organiza simplesmente uma agressão militar, que poderia gerar uma guerra de incalculáveis consequências. Washington oferece um banho de sangue que encherá de horror o nosso continente. A isso busca se somar a Chancelaria Peruana?  Isso é o que quer para a América o governo do nosso país? Essa é a opção que defende Torre Tagle em nosso tempo? 

O embaixador Popolizio lidera as ações do que é chamado acertadamente como “o Cartel de Lima”. Buscou que os governos desse grupo rompessem em uníssono relações diplomáticas com a Venezuela. Só o Paraguai o fez. Depois alentou a ideia de que a OEA aderisse aos seus propósitos, mas também ali perdeu a votação. E mais recentemente fracassou no Conselho Geral das Nações Unidas, onde a maioria respaldou o legítimo governo de Nicolás Maduro. Depois de tantos fracassos, por que não se dá por vencido e deixa em paz a Venezuela?

Agora bate palmas ante a loucura de um palhaço que se proclama “Presidente da Venezuela” sem que ninguém o tenha eleito. Meio em broma, meio em sério, houve quem perguntasse aqui o que faria Popolizio se amanhã Keiko Fujimori qualificasse o governo de Vizcarra como uma “ditadura” – já o fez o senhor García – e se proclamasse  “Governo” com o apoio de Tóquio? Provavelmente alguns transtornados a seguiriam nessa aventura, e até meios da “Grande Imprensa” se prestariam ao jogo e “entrevistariam” gozosos os porta-vozes desse “novo regime”.

Se contasse com o aval de Washington, seguramente seria “reconhecido” de imediato por Macri, Bolsonaro, Piñera, Duque e outros bajuladores do Império. Nesse caso, Vizcarra abandonaria o cargo e convocaria “novas eleições”, ou simplesmente diria que o Peru é Soberanos e ninguém tem que se imiscuir em suas decisões?

 Basta, então, de Popolizios.  Os genuflexos não nasceram para governar, mas sim para se inclinar ante os poderosos. Por isso o povo, esse que apoia com firmeza a luta contra a corrupção, exige dignidade e altura à Chancelaria peruana. Ninguém deveria suportar ser pau mandado no jogo guerreiro do Império.    

 

(*) Do Coletivo de Direção de Nuestra Bandera. http://nuestrabandera.lamula.pe

Colaborador de Diálogos do Sul desde Lima, Peru.

Tradução: Beatriz Cannabrava

Não deixe de assistir o programa especial da Tv Diálogos do Sul sobre a tentativa de golpe na Venezuela:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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