O La Jornada é um milagre coletivo que, desafiando todas as leis dos mercados e dos seres racionais, nasceu há 38 anos de jornalistas independentes apoiados por artistas, intelectuais, líderes sociais, estudantes e seguramente algumas forças divinas que apoiam as causas que os invejosos chamam de “perdidas” (as únicas que valem a pena) e, é claro, um universo de leitores que em conjunto são nossa comunidade jornaleira.
Neste aniversário, completado no último domingo(18), vale contar que entre as tarefas desta aventura jornalística estava como “cobrir” os Estados Unidos para essa comunidade jornaleira. Decidiu-se mudar o enfoque tradicional, quase sempre reduzido a Washington, para oferecer o que o La Jornada tentava fazer no México: dar voz aos sem voz e revelar não só a cara do poder, mas a do povo do outro lado da fronteira.
Essa tarefa foi guiada por Carmen Lira – hoje diretora, antes subdiretora e correspondente nos Estados Unidos – e por nosso diretor fundador Carlos Payán, junto com os chefes e editores do jornal, com o objetivo de revelar as “entranhas do monstro” – como dizia Martí – tanto os afazeres das cúpulas como também os das forças democratizadoras e rebeldes dentro do grande poder.
La Jornada
Vozes dissidentes são tão importantes – talvez ainda mais – que as que controlam a narrativa oficial
Pete Hamill, grande jornalista irlandês-estadunidense e amante do México, comentava que os primeiros jornalistas do mundo foram esses cavernícolas que agarravam uma tocha para ingressar em uma cova e reportar às suas comunidades o que havia dentro para que tomassem decisões sobre como proceder.
Tratar de alumbrar e reportar a partir do país mais poderoso e rico da histórica não se pode fazer só repetindo clichês sobre os gringos e reforçando os estereótipos (mesmo que tenham algo de verdade).
Portanto, a intenção do La Jornada não é só descobrir e descrever os interesses imperiais dentro dos Estados Unidos, mas também uma longa história anti-imperialista. Mostrar que além de haver racismo e um clima anti-imigrante, também há furiosas lutas pela igualdade e a dignidade, e uma longa história de luta de imigrantes para resgatar e democratizar este país, que continua até hoje.
Não se trata de só recordar a versão oficial das histórias de luta pelos direitos civis e humanos, mas sim a história de baixo às vezes encoberta – por exemplo, não só ficar com o discurso de Martin Luther King de 1963 sobre a igualdade racial, mas também o discurso anti-imperialista e pela justiça econômica, muito mais importante e perigoso, de 1968.
É reportar que ao longo da história dos Estados Unidos há aqueles que compartilham a ira e o amor de suas contrapartes mexicanas e latino-americanas ante sistemas que desumanizam seus povos. Que há gringos que compartilham com Camus esse desejo de “poder amar ao seu país e à justiça também”.
Por isso, para o La Jornada reportar e contar os Estados Unidos, se fez sim, claro, informando sobre a notícia oficial, mas também buscando a outra história desse país com mestres destacados como Howard Zinn e Noam Chomsky, e uma longa lista de vozes dissidentes, desde granjeiros e líderes sindicais a líderes imigrantes, artistas, músicos, integrantes de explosões sociais, movimentos como a rebelião antineoliberal de Seattle, Ocupe Wall Street, Black Lives Matter, movimentos indígenas e latinos, gays, comediantes e figuras políticas progressistas muito sérias.
Essas vozes dissidentes, essas forças democratizadoras dentro do autoproclamado “farol da democracia”, que hoje em dia está algo fundido pela ameaça neofascista, são tão importantes – talvez ainda mais – que as que controlam a narrativa oficial. São os dissidentes estadunidenses, as novas gerações rebeldes, os imigrantes conscientes que estão transformando o país mais poderoso do mundo. E com isso, são os aliados potenciais para os que aspiram à transformação política, econômica e social das Américas.
Essa é a notícia mais importante a partir dos Estados Unidos no aniversário deste milagre chamado La Jornada.
David Brooks, especial para o La Jornada, em Nova York.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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