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“Há 5 anos nenhum adolescente falava de Facebook”

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Roxana Morduchowicz, especialista em jovens e consumo de tecnologia, espanta-se com a rapidez das mudanças mediáticas. Mas, ao mesmo tempo, defende seus consumidores dos ataques, como aquela ideia de que ler em uma tela tem menos valor do que ler um livro.

Roxana Morduchowicz é escritora.
Roxana Morduchowicz é escritora.

Especialista em jovens e seu uso das novas tecnologias, professora e pesquisadora universitária em Comunicação, Roxana Morduchowicz dirige o Programa Escola e Mídia no Ministério da Educação da Argentina. Seu último livro, Os adolescentes do século XXI, trata dos resultados da Pesquisa  Nacional de Consumos Culturais Adolescentes. Longe de adotar uma atitude negativa acerca da substituição do livro pelas telas, Morduchowicz desmistifica muitas das queixas da geração que está criando os nativos digitais. Por exemplo, a que assegura que leem menos ou que são menos sociáveis. Falamos com ela há algumas semanas sobre seu estudo.

-Qual é o objetivo principal deste livro?? 

-Este livro, Os adolescentes do século XXI, reflete os resultados de uma pesquisa nacional que fizemos sobre adolescentes entre 11 e 17 anos, em todo o país. O que significa o resultado de um estudo quantitativo de 1.500 adolescentes, aproximadamente, em que lhes perguntamos: o que veem, o que leem, o que ouvem, como usam a Internet, quanto veem de televisão, de que gêneros gostam, quanto vão ao cinema. Então este, concretamente, é um estudo de casos que nos dá uma radiografia de quem são os adolescentes hoje.

-E, das conclusões deste estudo, o que mais a surpreendeu?? 

-A primeira coisa que me chamou a atenção foram as enormes mudanças tecnológicas e midiáticas na vida dos adolescentes, em pouco tempo. Porque na primeira pesquisa sobre consumo cultural, que foi feita há cinco anos, apenas cinco anos, que é muito pouco tempo, nenhum adolescente argentino falava de Facebook. Hoje, 90% dos garotos têm um perfil no Facebook. Há 5 anos, viam filmes em videocassete. Hoje, esse equipamento desapareceu. Há 5 anos, só 1% tinha iPod. Hoje, a maioria tem. Então, em muito pouco tempo, os adolescentes vivem em um mundo muito diferente daquele em que viviam, não já os adultos de hoje quando eram adolescentes, mas há 5 anos.

-Qual é a avaliação qualitativa que faz? O que significa tudo isso?? 

-O acesso à Internet mudou a maneira pela qual os jovens se informam, a maneira como aprendem, a maneira como descobrem e conhecem. Mudou o conceito de tempo e de espaço. Por momentos poder-se-ia dizer que é muito cedo para avaliar se para melhor ou para pior. O que já está claro é que, hoje, informação é o que não falta. A escola já não tem o monopólio da informação que tinha séculos atrás. Hoje, os garotos se informam em múltiplos lugares e suportes, especialmente pela Internet.

-Como funciona o ato da leitura neste panorama?? 

-Os jovens se consideram leitores. Não é verdade que leem menos que os garotos de antes. Apenas o fazem de outra maneira, em outros suportes. Fazem-no basicamente em telas. Então, sim, os jovens se informam, aprendem, conhecem e leem de uma maneira diferente. Mas isto não significa que seja menor do que o que fazíamos nós, os adultos de hoje, quando éramos adolescentes.

-O que espera dos próximos cinco anos?

-Com o dinamismo das mudanças tecnológicas e midiáticas, está claro que este livro vai ser um bom livro de história para ver como cinco anos atrás eram os adolescentes. Do mesmo modo que meu anterior livro, que refletiu a primeira pesquisa, me permite dizer hoje que há cinco anos os garotos não falavam das redes sociais e hoje falam; que há cinco anos viam seus filmes em videocassete e hoje esse equipamento desapareceu. O que nos permite este tipo de livros é poder comparar e ver a evolução das mudanças que, fundamentalmente, são muito dinâmicas e muito rápidas.

-Quão globalizado está o comportamento dos adolescentes?

Quanto se parece o argentino aos adolescentes do resto do mundo, quanto a este tema?? 

-O adolescente dos grandes centros urbanos, Buenos Aires, Rosario, Mendoza, Córdoba, qualquer capital de província, tem muito a ver com o adolescente de Paris, São Paulo, Londres ou Santiago do Chile. Estão irmanados pelos consumos culturais. O acesso à tecnologia e a maneira como a usam são muito semelhantes em diferentes lugares. Talvez esse garoto da grande cidade, seja ela qual for, da Argentina, tenha mais a ver com o garoto de Paris ou de São Paulo, do que com um garoto da zona rural da própria Argentina. Porque o que os aproxima, o que os unifica é este uso da Internet, este uso de telas, que é cada vez maior

-Existem bruscas brechas de geração entre os próprios jovens?? 

-As maiores brechas não são de idade, excetuando-se a música. A música é o consumo cultural que marca a passagem da infância para a adolescência. A criança ouve pouca música, o adolescente ouve muita música. Mas as brechas maiores são sempre socioeconômicas. Quanto acesso têm em casa à Internet, a tecnologias, a telas. Esta é uma brecha profunda que nos países latinoamericanos temos que resolver. Pouco a pouco, isso está acontecendo, mas temos que fazer com que essa brecha não exista mais.

(*) Jornalista. Argentina. Em “Bitácora” de Montevideo.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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