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Há que lutar pela descolonização de Porto Rico

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

“Devemos nos atrever a lutar até a última gota de força”

Oscar López Rivera

Alícia Jrapko*
Oscar-RiveraNo marco de ato realizada no dia 31 de maio em Berkeley, em homenagem ao ex preso político porto-riquenho Oscar López Rivera, a editora de Resumen Latinoamericano nos Estados Unidos e ativa militante da solidariedade com Cuba e Porto Rico, Alicia Jrapko, entrevistou o independentista borínque. Pouco antes o lutador revolucionário fora ovacionado por 800 pessoas que lotaram a Igreja Presbiteriana da cidade.
Oscar, em tão somente quatro dias desde que saiu do cárcere, parece-nos que conseguiu injetar grande entusiasmo ao movimento pela liberdade dos presos políticos e dos que lutam pela soberania e independência de Porto Rico. Esperava essa resposta ou está surpreso?

Oscar López Rivera: Estou surpreso, foram quase duas semanas de um monte de experiências que não previ: encontros com muitas pessoas, vendo coisas que não via há tanto tempo; vivências positivas e negativas. Surpreendeu-me a o envelhecimento da população, despovoamento e deslocamento. As casas que estão construindo são para pessoas com muito dinheiro e não para que os trabalhadores porto-riquenhos possam nelas viver. Há muita ênfase no investimento estrangeiro em vez de incentivo aos trabalhadores. Investem em cruzeiros e os pescadores não têm quase nada, não há incentivo para os portos. A fuga de cérebros é outra coisa com que me deparei. Veio-me à mente Alasca e Havaí; que se converteram em estados mas não para favorecer o nativos. No Alasca ocorre com as reservas onde vemos a destruição da cultura, a perda do amor e sua razão de ser, a vida não tem valor e isso ocorre e pode ocorrer em Porto Rico; resultam dessas políticas, a desumanização.

Deparei-me com a ameaça contra as universidades. A Junta de Controle Fiscal propõe um ajuste orçamentário de 512 milhões. Estão tirando recursos das universidades, já fecharam 169 escolas públicas. O sistema de privatização é caro, e tem que trabalhar muito para pagar. Dói ver Porto Rico sem futuro.

Agora, nem tudo é negativo, o conceito de colônia, por exemplo, agora já está claro. Antes muitas pessoas não tinham consciência do conceito, mas hoje não temos que convencer a ninguém para motivar a brigar pela descolonização de Porto Rico. Tenho dito que as duas coisas que temos que fazer é lutar e trabalhar.

Convoco a todos os que amam a pátria a somar-se. O denominador comum é o amor à Pátria, e eu acredito que a maioria em Porto Rico ama a pátria e eu estou pronto. Quero chegar a todos os municípios para “escutar” e identificar os problemas com as pessoas e traçar estratégias com vistas ao futuro. Por exemplo, projetos de cultivo, hortas urbanas, agricultura ecológica, projetos para a indústria pesqueira. Temos fonte para desenvolver a ecologia, para criar trabalho preservando o meio ambientes. Há suficientes elementos para desenvolver uma economia viável e sustentável digna de nosso povo.

Outro tema é que devemos apoiar os presos políticos nos Estados Unidos, considerar a velhice deles e a saúde. Devemos levar em consideração que eles podem ajudar muito e necessitamos deles livres. A libertação de presos políticos agrada a juventude. Entre eles temos o caso de Ana Belén Montes, devemos apoiar a todos os que tem se sacrificado pelas causas justas e nobres.

Existe uma polarização na desfile nacional porto-riquenho de Nova York em 11 de junho. Por um lado as corporações e por outro o movimento independentista e a diáspora porto-riquenha em geral. De onde pensa que vem a pressão pelo boicote e porque temem sua presença?

Oscar López Rivera: Pela primeira vez na história do desfile nacional porto-riquenho foi utilizado o caso de um preso político, que foi acusado de muitas coisas, mas que sentenciado por acusações que não incluíram a violência, sangue ou morte. Não puderam me associar ao terrorismo. As corporações como Goya, a equipe de beisebol Yankees de Nova York, JetBlue, etc. Podem fazer o que queiram, podem tirar seu apoio financeiro ao desfile mas o que não podem fazer é ditar aos organizadores o que devem fazer. Este desfile é muito importante, os participantes não são só os borinques que vivem em Nova York, ou que vêem de Porto Rico, mas que procedem de muitas cidades de EUA e inclusive de outros países. O desfile se realiza para elevar a cultura porto-riquenha. As corporações não têm o direito de negar o direito deles me convidarem, essa é prerrogativa dos organizadores não das corporações. Usam minha pessoa para atacar o desfile e os responsáveis dessa façanha são uma elite de borinquen que se prestam a jogo dos que tem o poder. Eles dizem que os independentistas odiamos os americanos, nos não odiamos os americanos. Minha família, por exemplo, é três gerações de borinques nascidos nos EUA mas amam a pátria porto-riquenha, e levam sua vida aqui, como vou odiar minha própria família? Não só os americanos mas por exemplo com os chicanos (pessoas de origem mexicana nascida em EUA) conseguiremos algumas vitórias juntos, nunca fizemos nada com ódio mas com amor. Fazem propaganda suja para enganar o povo. A pressão vem do partido dos colonos, eles chamaram a um plebiscito que não é bem visto mas que ademais custará milhões de dólares e estão utilizando o desfile de Nova York para distrair as pessoas. Com a crise que há em Porto Rico, usam tanto dinheiro para um plebiscito mas ao mesmo tempo fecham escolas, tiram o apoio às universidades, e esse dinheiro que usam para o plebiscito não é dinheiro deles, é do povo, é triste que as pessoas se prestem a um jogo como este.

Que mensagem você tem para os povos da América Latina que hoje são vítimas de uma contra ofensiva reacionária que pretende reverter as conquistas alcançadas nos últimos anos?

Oscar López Rivera: Tive a oportunidade de falar com Maduro e lhe disse que os porto-riquenhos que amamos a Porto Rico estamos com ele. O problema na América Latina é a ingerência EUA. Na Venezuela, desde 1998 até agora, há 19 anos tratam de desfazer o que foi conquistado, não é acidente. Mas a ingerência vem desde há muito tempo atrás. Só alguns exemplos: em 1848 invadiram o México, em 1856 Walker usurpou a presidência da Nicarágua, em 1954 orquestraram um golpe militar na Guatemala para derrubar a Jacobo Arbenz. Panamá também sofreu ingerência e a história se repete na atualidade. Não devemos permitir a ingerência de EUA no Equador, Argentina, Brasil. A ingerência provoca danos a todos. Em Porto Rico estamos há 119 anos colonizados. Minha mensagem, lutem, amem a seus povos, temos muitos recursos humanos na América Latina para construir países dignos de seus povos. Temos que nos atrever a lutar até a última gota das nossas forças.

O que significou pra você compartilhar a cela com Fernando González, um dos Cinco Cubanos? Como prevê sua visita a Cuba e porque pensas que a luta pela independência de Porto Rico tem um  lugar tão especial no coração dos cubanos?

Oscar López Rivera: Em relação a Fernando, os quatro anos que compartilhei foram os melhores de todos os anos difíceis que passei na prisão. Não é fácil encontrar pessoas compatíveis com quem dividir uma cela, e com Fernando tínhamos muitas coisas em comum. Ambos gostávamos de ler e também fazer exercícios. Nossos ideais eram os mesmos, os dois lutamos por causas justas e nobres. Com Fernando compartilhamos momentos alegres, comemorações, quando preparávamos alguma comida e convidávamos a outros presos a compartilhar, etc. Guardo muitos gratificantes lembranças de nosso tempo na prisão.

Sobre minha visita a Cuba, estou ansioso. Cuba e Porto Rico são as asas de um mesmo pássaro, somos os dos países mais parecidos, temos em comum o amor à justiça e à liberdade, somos povos alegres, lutamos juntos, historicamente Cuba sempre foi solidária com nossa luta. Quero ir a Cuba para compartilhar com o povo cubano e expressar minha gratidão por sua solidariedade, não só para com minha pessoa, mas a solidariedade com a independência de nossa amada pátria.

*Original de Resumen Latinoamericano
Resumen Latinoamericano entrevistou a Oscar López Rivera


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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