Pesquisar
Pesquisar

I Encontro Internacional da Coalizão Negra Por Direitos debate representação política

Debate que encerrou o evento, nesse sábado (30), em São Paulo, colocou a administração institucional no centro da discussão
Nara Lacerda
Brasil de Fato
São Paulo

Tradução:

“Se não tivermos o olhar para o poder, nós nunca vamos pautar. Para pautar tem que ter caneta, tem que ter voto!”. Com essa frase, o vice-presidente nacional da Unegro, Edson França, abriu a última mesa do I Encontro Internacional da Coalizão Negra por Direitos.

A partir do tema “Disputa do poder institucional e incidência política”, o debate alertou sobre a necessidade de que a representação política da comunidade preta seja pauta prioritária e processo contínuo.

A ativista do coletivo Luiza Mahin, Vilma Reis, que neste ano lançou sua pré-candidatura à prefeitura para a eleição municipal de Salvador (BA) em 2020, também esteve presente na mesa e fez uma exposição incisiva, na qual demonstrou que o desenvolvimento pleno do Brasil passa necessariamente pela inclusão política da população negra.

“Não é possível se desenvolver deixando 110 milhões para trás. O Brasil não vai sem nós”, afirmou. Vilma fez ainda um chamado à militância de esquerda: “a esquerda branca precisa parar de passar vergonha porque não enxerga em nenhum de nós a possibilidade de governar (…) Que os brancos antirracistas cumpram seu papel na história!”, defendeu a militante.

Leia também

Djamila Ribeiro: A prioridade no Brasil hoje deve ser discutir o racismo

Ela ressaltou também que as disputas municipais do próximo ano precisam representar avanços no número de candidaturas de pessoas negras e na articulação com o eleitorado, principalmente.

“Se queremos derrotar o horror que se instalou em Brasília, precisamos começar pelas cidades. (…) Como, em 2019, alguém pode passar ao largo do terror racial que assola esse país?”, questionou.

Debate que encerrou o evento, nesse sábado (30), em São Paulo, colocou a administração institucional no centro da discussão

Brasil de Fato / Nara Lacerda
A mesa de debate foi composta por Vilma Reis, Sandra Maria, Maurice Mitchell, Edson França, Dulce Pereira, Monica Oliveira e Rose Torquato

O encontro reuniu também Dulce Pereira (Movimento Negro Unificado MNU – MG), Maurice Mitchell (Working Families Party – USA), Rose Torquato (Agentes de Pastoral Negros APNs – RJ), Sandra Maria (Coord. Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas CONAQ-MG) e Mônica Oliveira (Articulação Negra do Pernambuco – PE).

Mônica Oliveira cobrou conhecimento e articulação dos gestores públicos para atender a comunidade negra que hoje representa quase 60% da população brasileira. “O grau de sofisticação do racismo nesse país não nos permite dúvidas sobre a luta”, disse.

Sobre o tema

No Brasil, a escravidão é mãe da descriminação racial, dos genocídios e da exclusão social

A necessidade de estratégias de convivência e diálogo dentro da diversidade dos movimentos negros no Brasil norteou a fala de Dulce Pereira, do MNU. Ela ressaltou a importância do exercício cotidiano de mobilização e organização, inclusive em pautas globais, como meio ambiente e infância.

“As forças que defendem um mundo de controle e de poder têm armas poderosas e essas armas estão em ação. Há um falso pacto pelo Ocidente que nos varre da história. Pessoas como nós são indesejáveis (…) sabem que nossa fragmentação é poderosa”, argumentou.

Leia+

Racismo persistente nos EUA meio século após Martin Luther King

Maurice Mitchell, do Working Families Party, organização que atua nos Estados Unidos, defendeu um pacto que ultrapasse barreiras continentais. “As contradições, atualmente, são resolvidas pelo capital e pelo mercado e não por nós. Corporações brancas lucram com a nossa luta. Como podemos ter certeza de que nós vamos tomar esse lugar?”, questionou.

Ele afirmou ainda que é necessário não apenas garantir rostos negros na política, mas também pautas negras. “Que política nos une? Não podemos ser diluídos nesse processo. Precisamos ter certeza da agenda e avaliar nossas plataformas. Precisamos de solidariedade e resistência preta global, porque o fascismo já é organizado globalmente.”

Direto ao ponto

“Não colem em mim esse discurso da meritocracia”, diz Conceição Evaristo

A Coalizão Negra Por Direitos é formada por mais 100 organizações de todo o Brasil e promove articulações políticas no Congresso Nacional e em fóruns internacionais.

Edição: Luiza Mançano

Confira também no Canal Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Nara Lacerda

LEIA tAMBÉM

Repressão transnacional dos EUA contra o jornalismo não pode virar regra, aponta Assange
Repressão dos EUA contra jornalismo global não pode virar regra, aponta Assange
Estupro foi “arma de guerra” pró EUA e Israel para exterminar maias na Guatemala (3)
Estupro foi “arma de guerra” pró EUA e Israel para exterminar maias na Guatemala
Educação na mira estudantes, professores e escolas sofrem 6 mil ataques em 2 anos no mundo
Educação na mira: estudantes, professores e escolas sofrem 6 mil ataques em 2 anos no mundo
eighty-four-haitian-migrants-on-a-42-foot-vessel-65629e-1024
Frei Betto | FMI, emergência climática e o cerco aos refugiados na Europa e nos EUA