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II Congresso da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil começa dia 21 de fevereiro

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

<<Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil – (evento Facebook)>>

Fotógrafo, curador e agitador cultural, Iatã Cannabrava, fala sobre os preparativos para o II Encontro da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil, que começa amanhã (21) em Fortaleza.

Foto: Ekaterina Kholmogorova
Iatã Cannabrava, presidente da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil // Foto: Ekaterina Kholmogorova

Você participou da organização do 1? Encontro da RPCFB e agora participa também da organização do 2? Congresso. Nesses primeiros anos de existência da Rede, como você vê o papel que ela desempenha? Como presidente, como enxerga o saldo desse primeiro triênio e o que os produtores culturais puderam aprender com essa experiência?

Iatã Cannabrava – Meu maior receio quando iniciamos a criação da Rede foi o de criar uma entidade, como muitas, natimorta, ou seja, uma entidade que não resistisse até seu segundo congresso, o que não seria nada impossível. Porém, o segundo congresso vem para nos mostrar que a capilaridade e regionalidade da Rede existe. Hoje estamos, e de fato, presentes em 25 estados e nas principais cidades do país. A organização do II Encontro foi puxada pelos associados de Fortaleza, a diretoria atual não precisou empurrar nada, e essa brincadeira de puxa ou empurra é muito séria, pois define o nível de paternalismo e centralismo, ou autonomia e descentralização. Em conversas recentes com membros da Rede ficou clara por exemplo a necessidade da criação de diretorias regionais.

Tentando responder de forma mais concreta a pergunta sobre o saldo destes primeiros três anos, acho que podemos dividir as realizações em três blocos. O primeiro e mais importante foi o fortalecimento da idéia da própria Rede: em vários Estados e no Governo Federal somos ouvidos, querem nossa opinião, somos membros de Colegiados e outros mecanismos de representação. Carlos Carvalho por exemplo, vice-presidente da RPCFB, assumiu no último dia 30 de janeiro o cargo de conselheiro da CNIC; Miguel Chikaoka, do Conselho da Rede, é membro do CNPC; tudo isso demonstra o prestígio que tão rapidamente a Rede alcançou. Somos hoje uma instituição jovem, com CNPJ ativo (no sentido de já possuirmos toda a estruturação burocrática e administrativa que a Rede necessita), cadastrada como OSCIP, com mais de 120 filiados e 100 em processo de filiação, com capilaridade em todo o país e amplamente conhecida e respeitada no setor cultural e em diversas instâncias de comando do país. Podemos afirmar que a Rede está pronta para participar cada vez mais ativamente na elaboração de políticas públicas para a fotografia no país.

Num segundo bloco eu colocaria os feitos práticos, que se por um lado foram poucos (fato que sinaliza as dificuldades do setor), por outro não devem ser menosprezados. Me refiro aos editais para a fotografia, regionais como o do livro de autor em São Paulo e nacionais como a retomada do Prêmio Marc Ferrez através da importante parceria Funarte/Rede, sem contar muitos outros editais que surgiram por força e/ou apoio da Rede.

Por último vem o bloco das realizações que mais dão sentido à nossa instituição: nunca se discutiu tanto a fotografia entre nossos agentes culturais. Existe uma Rede orgânica e real que é maior que a Rede formal no papel.

Quais as suas expectativas e resultados esperados para esse segundo Encontro?

Iatã Cannabrava – Sem dúvida o resultado que esperamos é o fortalecimento da capilaridade regional da Rede, garantindo suas características e força. Isso vai ficar evidente na chapa que estamos articulando, e na maneira como estamos levando a organização do encontro. Hoje quem sabe a Rede tenha mais força nas regiões fora dos eixos tradicionais de circulação da cultura. Os Estados do Rio Grande do Norte, Belém, Ceará e Brasília por exemplo têm se articulado muito e possuem mais energia nesse sentido do que São Paulo ou Rio de Janeiro. Também é importante o posicionamento que a Rede vai tomar quanto ao futuro do país.

Quais foram as experiências do primeiro Congresso que estão contribuindo para este segundo Encontro?

Iatã Cannabrava – No primeiro Encontro ficaram claras a necessidade e a importância de se construir um canal de comunicação com o poder público. Agora, a questão não é mais a importância desse canal, e sim como afinar esse contato que já existe e ampliá-lo a nível regional. Em vários Estados por exemplo já existem comissões regionais dedicadas à fotografia, com diferentes nomenclaturas, atuando junto às instituições públicas. Agora que o contato está estabelecido, é preciso fortalecê-lo e ampliá-lo. Neste II Encontro também buscaremos um aprofundamento muito maior das questões que interessam à produção cultural da fotografia brasileira.

Além da consolidação da identidade da Rede, este Encontro também procura discutir como o Brasil vai utilizar a imagem/auto-representação neste período de grande exposição internacional. De que maneira a programação do vai abordar esse tema?

Iatã Cannabrava – A imagem do país vêm sendo discutida amplamente em diversas áreas do conhecimento. É papel da Rede colocar essa discussão em evidência novamente, e para isso convidamos Renato Ortiz, Professor Titular da Universidade Estadual de Campinas, que possui uma das teses mais interesses que eu já li sobre a chamada mundialização cultural, que vai muito mais além do que chamamos de globalização. É desejo da Rede possuir uma posição ativa nessa discussão, propondo inclusive qual é a imagem que queremos transmitir sobre nosso país. Ao invés de simplesmente protestar sobre a velha imagem de samba, suor e cerveja, queremos pensar qual é a posição pró-ativa viável para a Rede, o que podemos propor de diferente na discussão dessa imagem que o Brasil usa para se mostrar ao mundo. Nós vamos nos mostrar através da fotografia contemporânea? Vamos esquecer nossas origens populares? Vamos negar o samba, o suor e a cerveja ou vamos trilhar um caminho próprio dentro do mundo globalizado e sermos considerados “estranhos” pelo resto do mundo?

Você participará do Grupo de Trabalho que discutirá, entre outras coisas, os meios de diálogo da produção cultural fotográfica com o poder público e os mecanismos de fomento, pesquisa e difusão da fotografia. Como você vê as pautas para este grupo?

Iatã Cannabrava – A primeira grande questão que queremos discutir é se de fato já chegou a hora (ou não) de reivindicarmos junto ao governo federal uma área específica pra tratar a fotografia, seja na Funarte ou no Minc. A fotografia tem que ser tratada como política de Estado. Se não estamos nos sentindo suficientemente representados pelo conceito geral de artes visuais, será que é o momento certo de desmembrarmos a fotografia? Entendemos que a fotografia faz parte das artes visuais, e isso se reflete na entrada da fotografia nos museus, nas galerias e no mercado de arte em si, mas a fotografia é muito mais abrangente, abarca outras áreas do conhecimento, como literatura, cinema, ciência e principalmente comunicação de massa. O segundo tema que considero importante é discutir de que maneira o dinheiro público vai ser aplicado na fotografia, sendo ela uma área específica ou contemplada dentro das artes visuais. Queremos participar dessa discussão, reforçando a questão dos editais específicos para festivais e da alfabetização visual nas escolas de Ensino Fundamental, discutindo a desoneração fiscal (tornou-se inviável pagar impostos absurdos em equipamentos de trabalho que não existem sequer similares no país) e estimulando uma política pública transversal entre os diversos Ministérios onde a fotografia é ferramenta ou linguagem de expressão, como os Ministérios da Ciência e Tecnologia, da Educação, da Cultura e de Relações Exteriores. Por último, mas não menos importante, queremos discutir as políticas públicas para a fotografia a nível regional, suas características e necessidades. A revisão da LDO que proíbe o repasse de dinheiro federal a ONGs também deve fazer parte da pauta desse grupo.

O que você quer dizer com “tratar a  fotografia como política de estado”?

Iatã Cannabrava – A fotografia se apresenta como instrumento de comunicação de uma nação para com as outras, e para isso é necessário acordar o Estado para esse fato inexorável de que essa linguagem é um dos maiores instrumentos de comunicação contemporâneos. Através dela se rompe o paradigma “comunicação de massas” para “comunicação entre massas”; um não fala com milhões, e sim milhões com milhões. Hoje, atos corriqueiros do dia a dia e façanhas da uma vida toda são mostrados nas redes sociais através da fotografia. Os grandes feitos e transformações do país deveriam ser mostrados por documentações sistemáticas a cargo dos melhores fotógrafos do país, e os acervos, aqueles que há mais tempo atuam, deveriam estar sob a guarda e financiada pelo poder público. Alguns países, como o México, a França e o Uruguai têm uma visão da fotografia como uma responsabilidade do Estado, tanto no aspecto da memória quanto no aspecto da sua produção contemporânea. Vêem nela um dos principais agentes de formação da identidade da nação, assim como os EUA, que construíram em Hollywood através de verbas públicas a força do Estado Americano utilizando o cinema. Um Estado sem memória é um estado sem futuro. Cuidar da memória e produzir a memória do futuro é responsabilidade das mais sérias.

II Encontro da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil
De 21 a 23 de fevereiro
Local: Hotel Sonata – 

  • Av. Beira-mar, 848. Praia de Iracema –

 

  • Fortaleza, Brazil

 

Contatos da comissão organizadora
Núcleo de gestão RPCFB: Carmen Negrão | carmen@rpcfb.com.br; Talita Virgínia | talitavirginia@rpcfb.com.br
Instituto Anima Cult: Glícia Gadelha | instituto@animacult.com.br

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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