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Incompetência mata estadunidenses e Trump amplia ações genocidas contra Venezuela

Nem mesmo a multiplicação do número de mortes por Covid-19 nos EUA é capaz de colocar freio as aberrações promovidas pela política externa do presidente
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Reflexões durante o isolamento levam a algumas constatações, algumas tão simples como ver o céu azul profundo de dia, uma lua fantástica surgindo no horizonte e um céu cheio de estrelas. Coisas raras numa São Paulo sempre poluída. Há um ar bom de se respirar, bem menos contaminado, importante num cenário de guerra sanitária.

Outra coisa que emerge das manifestações de uma lumpen-burguesia que sai com seus carrões para protestar contra a quarentena, é a essencialidade do trabalho. Os patrões não podem viver sem seus empregados. O que realmente produz riqueza é o trabalho. O neoliberalismo tentou inverter essa lógica, privilegiando o mercado, negando o Estado, até que se chegou à ditadura do capital financeiro. Capital gerando capital, um cassino global, aumentando a riqueza de poucos, muito poucos, uns 200 conglomerados e umas 200 famílias concentrando quase que o PIB do mundo e a humanidade relegada. 600 milhões de pessoas passam fome na África? Quantas nos demais continentes? O desemprego virou endêmico e aumenta exponencialmente na velocidade de um coronavírus.

O capitalismo mata. O capital mata mais depressa que a pandemia. É preciso voltar a colocar a humanidade em primeiro lugar. A sobrevivência dos seres humanos está vinculada à sanidade do planeta. Terra, Água, Sol. Eis a essência da vida.

Substituir o deus mercado, o deus dinheiro, o bezerro de ouro, pelo deus Sol, pela deusa da terra, a Pachamama, pela deusa da água, Iemanjá. Terra, água, sol, coisas concretas, nada abstratas, porém essenciais à vida, assim como o trabalho é essencial à vida.

É o trabalho que gera riqueza, a apropriação do trabalho multiplica o capital. É preciso refazer as relações capital-trabalho considerando a essencialidade do trabalho não do capital. Para isso é preciso que os trabalhadores assumam o protagonismo político da luta contra a hegemonia do capital. Eis aí a tarefa urgente para o movimento sindical.

Nesse momento em que se necessita de inteligência, organização e gestão para enfrentar a dupla crise que nos assola: crise econômica, com a economia paralisada e, crise sanitária com o alastramento da pandemia, o governo de ocupação só nos dá mostra de extrema incompetência, extrema ignorância. Não estão preparados para gerir o país nem em uma situação de normalidade, pois o descalabro econômico já tem mais de cinco anos.

Nem mesmo a  multiplicação do número de mortes por Covid-19 nos EUA é capaz de colocar freio as aberrações promovidas pela política externa do presidente

The White House
Mulo, personagem do segundo livro da trilogia Fundação, de Isaac Asimov. Mas pode ser também de Donald Trump

Dimensão da crise

Segundo o jornal O Globo, o Brasil tem pouco mais de 12 mil casos confirmados e 553 mortes. São dados do Ministério da Saúde. Será que podemos confiar? Quanta gente estará morrendo da pandemia e ninguém fica sabendo? 

Vejamos o que ocorre nos Estados Unidos, onde o governo se comportava mais ou menos como o governo brasileiro que lhe segue os passos. Os primeiros 5 mil casos, ocorreram no transcurso de um mês; a aceleração levou a que outros 5 mil casos fossem registrados em apenas cinco dias, contabilizou o New York Times bastante assustado com a rapidez da propagação. Lá já são 10.938.

Deu no New York Times de hoje, terça-feira, 7 de abril, dia do jornalista, no Brasil, e dia mundial da Saúde decretado pela ONU. Nada a comemorar em ambos os casos. A saúde no mundo está degringolada e o jornalismo no Brasil também.

Diante da aceleração dos casos de morte o governo estadunidense deu um passo atrás, arrumou as gavetas, decretou isolamento e liberou 2,2 trilhões de dólares para as providências necessárias. O país que se acostumou a agredir os povos do mundo agora tem uma guerra dentro de casa que poderá matar número de gente maior do que perdeu em guerras externas.

Tudo isso por incompetência. Não avaliaram corretamente o inimigo invisível. Por ironia do destino os EUA está recebendo ajuda da China, país que estava na lista de inimigos a liquidar. Dia 16 de março chegou o primeiro carregamento de uma doação de um milhão de máscaras e 500 mil kits de testes.

O Mike Pompeo continua chamando o Covid-19 de Vírus Wuhan. Os papagaios de pirata, aqui, chamam de vírus chinês, e ainda ofendem o país amigo sem ter a menor ideia das consequências. Mal-educados e ignorantes, foi o que disse, diplomaticamente o embaixador chinês.

Devido às ofensas à China, mais gente morrerá no Brasil. Equipamentos hospitalares que haviam encomendado a China foram desviados para os Estados Unidos. Trump acionou uma frota de enormes aviões cargueiros e está fazendo uma ponte aérea para abastecer o país com o que só a China tem capacidade de produzir.

Estados Unidos não economiza. Compra em massa. A China, em retribuição, para equilibrar a balança comercial entre os dois países, anunciou que vai comprar soja dos Estados Unidos.

Nem pandemia freia as aberrações de Washington

Apesar da crise interna o governo dos Estados Unidos teima em querer governar o mundo. Em vez de colocar sua força bélica em função da ajuda humanitária que o planeta requer, mantêm bloqueios e ameaças brutais, pondo em risco a vida de milhões de pessoas.

O Irã tem 80 milhões de habitantes, está envidando todos os esforços e recursos possíveis para debelar a pandemia. Por conta do bloqueio faltam medicamentos e alimentos, e ainda tem que aguentar as ações de desestabilização promovidas pela Inglaterra, Estados Unidos e Israel. 

A situação é tão grave no Irã que a União Europeia (sem a Inglaterra) conseguiu que o FMI liberasse 21 milhões de dólares para diminuir o sufoco e ajudar a pagar os salários, ainda que em partes.

A Venezuela tem 32 milhões de habitantes. Estados Unidos insiste em querer governar a Venezuela, apoderar-se das riquezas minerais, das terras férteis. Primeiro ofereceu 15 milhões para quem matar o presidente Nicolás Maduro. Segundo, propôs uma transição pacífica, um acordo sem Guaidó, agente deles, e sem Maduro, presidente democraticamente eleito. 

Eles já devem ter outra carta nas mãos. Para que Maduro aceite pacificamente a transição deslocou uma esquadra naval, aviões de espionagem, caças bombardeios e milhares de fuzileiros navais. Como quem diz: ou sai na boa, ou entramos pra tirar na marra.

Maduro não podia menos que qualificar de Aberração a intenção de Trump. Os venezuelanos estão enfrentando com galhardia a epidemia. Com a população organizada e consciente é outra coisa. Confirmados até agora foram 165 casos, 65 já recuperados e 7 mortes. A China desembarcou equipamentos hospitalares, médicos e auxiliares para ajudar os venezuelanos.

Alguém sugeriu que esse deslocamento de tropas e armamento pesado pode ser diversionismo de Trump para desviar a atenção sob o fracasso de sua política econômica, e a questão do coronavírus. Mas não é não. A intenção é levar os venezuelanos ao desespero, implantar o caos com uma guerra civil, como fizeram com a Líbia, com o Iraque. E pretendem ter a ajuda do Brasil para perpetrar esse ato de guerra.

Vamos lembrar que no dia 8 de março, uma delegação militar brasileira assinou um acordo de cooperação com o Comando Sul dos Estados Unidos. Assinaram o acordo, do lado dos EUA o almirante Craig Faller, do lado brasileiro o chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, tenente brigadeiro Raul Botelho, general Augusto Heleno, ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e o almirante Bento Albuquerque. Presentes à solenidade de assinatura, o capitão Jair Bolsonaro, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Outra aberração como diria o presidente Nicolás Maduro.

Paulo Cannabrava Filho é jornalista e editor da Diálogos do Sul


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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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