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ToggleQuestionado sobre estarem ocorrendo possíveis “problemas institucionais” no Brasil, conforme indicam a informação de que o país estaria sendo neste momento comandado por uma “Junta Militar” sob o comando operacional do General Walter Braga Netto, o diplomata considerou que a nomeação deste general para a Casa Civil realmente evidencia uma “participação mais orgânica e uma maior influência das Forças Armadas no governo”.
Porém, o ex-ministro enfatizou à Sputnik Mundo que não acredita nas teses de que Bolsonaro estaria perdendo o comando da Presidência, e que os boatos sobre Braga Netto não passam de informações mal interpretadas.
“A única divisão de poder que Bolsonaro estaria sofrendo seria na área econômica, comandada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que até o momento, não sofreu a influência dos militares”, afirmou.
Neste contexto, deve-se ter cautela em afirmar que Braga Netto seja atualmente “o presidente operacional, apesar de vários setores do governo demonstrem aparentemente que sintam a falta e de que querem o estabelecimento de uma grande coordenação no âmbito da saúde, transporte e infraestrutura”.
Ou seja, Braga Netto estaria apenas limitando e moderando as ações de Bolsonaro, enquanto, Guedes e os demais militares estariam coordenando o governo.
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"Realmente, existe uma ameaça direta e concreta de que ocorra a invasão da Venezuela"
O papel e a atuação do empresariado
Por outro lado, a influência do empresariado sobre as decisões do governo, que já vinha perdendo força nos últimos cinco anos, está hoje ainda mais debilitada. E Bolsonaro sofre uma contínua sangria dos apoios que recebeu da classe empresarial para ganhar as eleições e assumir a presidência.
Assim, segundo Amorim, “hoje, os apoiadores de Bolsonaro no setor, se resumem aos donos de supermercados, de empresas que não têm força econômica no Brasil e poucos produtores rurais”.
Ou seja, “Bolsonaro já não conta com o apoio das fortes associações empresariais capazes de “reerguer” a economia brasileira, mas, de apenas uma cada vez mais diminuta liderança de uma debilitada classe média empresarial”, pontuou Celso Amorim. E neste contexto, suas pretensões autoritárias, também estão contidas.
Ameaças a Venezuela e a América do Sul
Questionado sobre a escalada das ameaças a Venezuela divulgadas pelo governo dos EUA e dos possíveis desdobramentos da ampliação da presença militar das forças comandadas pelo Pentágono no Caribe, Amorim afirmou que para além de provocarem temor, caso resultem em ações concretas irão afetar gravemente toda a região.
“Realmente, existe uma ameaça direta e concreta de que ocorra a invasão da Venezuela. Um fato inédito dentro do histórico bélico dos EUA, já que pela primeira vez teria por cenário a América do Sul”, advertiu o diplomata.
Por conta disso, assim que, sob o pretexto de uma operação antidrogas os EUA, anunciaram a ampliação de sua presença militar nos mares do Caribe, os alarmes regionais foram acionados.
Neste contexto, Amorim ressaltou suas preocupações para a possibilidade concreta de que a governo brasileiro possa vir a apoiar uma invasão dos EUA à Venezuela, já que tem apoiado outros planos estadunidenses para derrubar o governo venezuelano, como o apoio oferecido pelo atual ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, ao último plano proposto pelos EUA para uma “transição democrática na Venezuela”.
“Trump colocou em curso ações objetivando justificar ações contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, iguais às realizadas, em 1989, contra o presidente do Panamá Manuel Noriega, quando sob o pretexto da necessidade de combater o narcotráfico, invadiram o país e depuseram um presidente democraticamente eleito”.
“Os EUA montaram o cenário das drogas porque não podem dizer que Maduro tem armas de destruição massiva, como mentirosamente afirmaram ter o presidente iraquiano Saddam Hussein para justificar a invasão do Iraque”, ironizou Celso Amorim.
Finalizando, o ex Ministro da Defesa ressaltou novamente o fato de que uma invasão da Venezuela seria a primeira invasão dos EUA a um país da América do Sul, e que tal ato certamente trará consequências que repercutirão na região, por pelo menos 100 anos”.
Edição: João Baptista Pimentel Neto
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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