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ToggleA Rússia e a Grã-Bretanha ofereceram versões completamente diferentes sobre o recente incidente no mar Negro, que tem todos os ingredientes para se limitar a um enfático intercâmbio de acusações e desmentidos sem chegar ao extremo, que nem Moscou nem Londres querem, de desatar uma conflagração nuclear por episódios similares.
De acordo com a versão russa, o destroier HMS Defender da armada britânica adentrou-se cerca de três quilômetros em águas territoriais da Rússia, em frente à costa da península da Crimeia na última quarta-feira (23) e “se retirou só depois que barcos de guerra russos e um caça bombardeiro SU 24 M o intimaram a fazê-lo mediante disparos de advertência e lançamento de bombas junto à sua trajetória”.
Isto motivou a que tanto o adido militar como a embaixadora britânica fossem chamados ao ministério da Defesa, o primeiro, e à chancelaria, a segunda, onde receberam notas verbais de protesto pela “violação das fronteiras da Rússia”.
Sputnik News
O destroier HMS Defender se retirou só depois que barcos de guerra russos e um caça bombardeiro SU 24 M o intimaram a fazê-lo
Respeito ao Direito Internacional
Por sua vez, o vice-chanceler Serguei Riabkov precisou à imprensa que “podemos exortar o sentido comum, exigir que seja respeitado o direito internacional, mas se isso não ajuda, e não nos entendem nossos colegas, também podemos bombardear alvos concretos. A segurança de nosso país está acima de tudo”.
Esclarecimento este, consideram os observadores, um tanto desnecessário uma vez que a doutrina militar da Rússia especifica os casos em que não deve caber dúvida de que será usado todo o arsenal nuclear para repelir uma agressão.
“Parece piada que um destroier chamado Defensor (traduzido do inglês) viole a fronteira russa, mas isso não deve provocar o riso. É muito sério, condenamos as ações da parte britânica, nos indigna seu comportamento e consideramos que brincar com um possível enfrentamento pode derivar a consequências muito graves”, advertiu Riabkov.
Outra coisa é que, depois da cúpula em Genebra dos presidentes Vladimir Putin e Joe Biden, o incidente com o barco britânico parece uma segunda bofetada a proclamada intenção de propiciar vias de diálogo para reforçar a segurança global: a primeira, o enésimo pacote de sanções contra a Rússia adotado pela Casa Branca e agora isto que o Kremlin interpreta como um aberto desafio ao fazer ingressar um barco de guerra da OTAN em uma zona que, do seu ponto de vista, só as embarcações de sua Armada podem patrulhar.
Versão britânica
A versão britânica nega haver invadido território russo e sustenta que seu barco de guerra se encontrava navegando “em um corredor internacional reconhecido por todos”, pelo qual não teria violado nenhuma convenção internacional, da mesma maneira – diz – que os barcos militares russos navegam, por exemplo, pelo estreito de Dover e o canal da Mancha.
Assegura que os disparos de canhão foram atribuídos às manobras militares que a Rússia está realizando nestes dias no mar Negro e que não notou que um avião lançasse bombas perto de sua trajetória.
Em realidade, é difícil saber o que fazia o barco de guerra britânico no ponto de discórdia. Há só duas eventuais explicações, claro que antagônicas: para Londres seu barco de guerra se dirigiu através do que considera águas territoriais da Rússia, a poucos dias de que a aliança do Atlântico Norte e países associados comecem manobras navais com cerca de 40 barcos de guerra e 30 aviões no mar Negro.
Juan Pablo Duch, correspondente de La Jornada em Moscou
La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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