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Desafios e oportunidades para o Irã de Rouhani

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Hassan Rouhani, novo chefe do governo iraniano
Hassan Rouhani, novo chefe do governo iraniano

Djavad Salehi-Isfahani*

A equipe de transição do presidente eleito no Irã, Hassan Rouhani, dedicou seus primeiros dias a sossegar as expectativas sobre uma rápida recuperação econômica deixando claro que a situação é muito pior do que se pensava. Ao mesmo tempo, o governo findo de Mahmoud Ahmadineyad pintava um quadro otimista do futuro para o líder supremo iraniano, Alí Jamenei.

Deixando de lado a política, é difícil imaginar maiores dificuldades das que afronta Rouhani para recuperar a economia, especialmente se não se aliviam as sanções internacionais.

Os números

Em 2008 a administração de Ahmadineyad deixou de publicar informação sobre a renda nacional no balanço geral do Banco Central, colocando nas sombras o indicador mais importante: a taxa de crescimento econômico.

Os informes sobre a inflação e o desemprego tornaram mais regulares, mas perderam credibilidade devido por terem se tornado confusos e terem começado a centrar só nos aspectos positivos.

Em meados de julho o Banco Central anunciou uma taxa de inflação de 35.9% pra o mês do calendário iraniano que terminou dia 21 de junho, mas se tratava da taxa acumulada nos últimos dois anos. Na realidade o índice de preços do consumo cresceu 50% nos últimos 12 meses.

Informes do governo indicam que o desemprego se mantém firme, entre 11% e 12%. Isto dá uma imagem de uma situação laboral segura, ainda que dados oficiais mostrem uma realidade contrária.

Os últimos dois censos no Irã, em 2006 e 2011, revelam um incremento na taxa de desemprego nas pessoas economicamente ativas entre 20 e 54 anos, passando de 11,5 a 15,4 por cento. Por razões obvias estas cifras não formam parte do informe que o governo findo fez para o líder supremo.

Desafios e oportunidades

Talvez a maior surpresa para a equipe de transição seja o orçamento nacional que herdarão. O alto conselheiro de Rouhani e chefe da equipe, Akbar Torkan, disse que não identificou fontes confiáveis de ingressos para cobrir 38 por cento do gasto público.

Isto coloca em pauta o maior desafio imediato para o novo governo: controlar a inflação quando as finanças públicas estão no sufoco. Porém, se bem herde uma economia em profunda crise, há algumas coisas pelas quais Rouhani pode sentir agradecido a seu predecessor.

A primeira é a reforma no sistema de subsídios. Há três anos, Irã era o país com o uso menos eficiente da energia, já que tinha os preços mais baixos do mundo. Cerca de quatro milhões de barris de petróleo e o equivalente em gás eram distribuídos anualmente entre os consumidores locais (o dobro do que se exportava) graças a altos subsídios.

Porém, em janeiro de 2011, o presidente Aahmadineyad embarcou em uma firme reforma para reduzir drasticamente os subsídios a energia e utilizar esse dinheiro em programas sociais de transferência em dinheiro. Apesar de que os preços estão congelados desde 2011, a reforma reduziu o consumo de energia.

Porém, o mais importante é que as transferências de  dinheiro, que beneficiam 97% da população tem sido um suplemento chave para sustentar a débil rede de segurança social do país e para aliviar o impacto que tem nos pobres as sanções internacionais. Rouhani poderá melhorar o programa selecionando melhor os beneficiários.

Por outro lado, em setembro, a moeda iraniana, o rial, entrou em colapso depois que endureceram as sanções internacionais contra as exportações petroleiras de Teherã. Em meados de julho o rial foi desvalorizado oficialmente mais de 100%, o que permitirá a Rouhani iniciar seu governo com uma taxa de câmbio mais realista.

Antes da desvalorização, as moedas estrangeiras, mais baratas, afetavam a produção local iraniana, o que por sua vez impedia um aumento da taxa de emprego.

Os produtores iranianos estão agora em melhor posição para competir, mas seu limitado acesso à economia global, devido ao bloqueio, é um grande obstáculo.

Portanto, conseguir que as potencias ocidentais aliviem as sanções, como prometeu Rouhani em sua campanha será essencial para a recuperação econômica.

Ajuda a bancos insolventes

No ano passado, o governo de Ahmadineyad permitiu que os bancos cobrassem taxas de juros mais altas que os limites antes fixados pela própria administração, de entre 12 e 14 por cento. Ademais, as baixas taxas de depósitos e a inflação eram a principal razão pela qual os investidores apelavam para as moedas estrangeiras, ao ouro e aos imóveis para proteger suas economias. Com taxas de juros mais altas, os bancos poderão contar com mais dinheiro e assim oferecer créditos ao setor empresarial.

Rouhani prometeu um governo de “experiência e esperança”, que tenha “chaves para abrir portas”. Há razões para esperar melhoras na economia iraniana nos  primeiros 100 dias da nova Presidência, mas, depois não há nada seguro.

A postura moderada de Rouhani já trouxe algum benefício tem termos de expectativa de menores taxas de inflação, o que estabiliza o mercado de divisas permitindo o gradual retorno das economias privadas aos bancos e, portanto, aliviando a crise de liquidez que imobilizou o setor de negócios.

Devolvendo esperança

A previsão é de que a equipe econômica seja conformada por experimentados economistas que fortalecerão a confiança entre os diversos setores do país. Mas, para devolver a esperança, Rouhani deve fazer mais: tem que criar empregos. Só poderá ter mais postos de trabalho se os produtores iranianos puderem exportar ou investir em bens que substituam importações.

Não obstante, sua capacidade para fazer isto está seriamente limitada, se não anulada de todo, pelas sanções internacionais que lhe fecham as portas à economia mundial.

A chave para abrir esta porta não está, lamentavelmente, nas mãos de Rouhani, mas nas  das potencias ocidentais e nas do líder supremo Jamenei, quem pode decidir se haverá um acordo sobre o programa nuclear iraniano.

Rouhani em uma pequena janela de menos de dois anos para demonstrar a seu povo que os moderados, dispostos a dialogar com o mundo, podem conduzir melhor o barco que os radicais isolacionistas.

Tem a oportunidade histórica de dar uma lição que seria importante não só para o Irã, mas para todo o Oriente Médio.

Pedir sanções mais severas contra Teherã, como fazem alguns no ocidente, colocaria em risco esta oportunidade única.

Djavad Salehi-Isfahani é professor de economia em Virginia Tech e pesquisador não residente da Brookings Institution. IPS de Blacksburg, EUA, para Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
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