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ToggleMilhares de pessoas voltaram a protestar no último dia 20 na Colômbia contra o governo do presidente Iván Duque, no mesmo dia em que se instalava uma nova legislatura no Congresso. Antes, o Comitê Nacional de Greve levara dez projetos de reforma para dar resposta à “grave crise social” que atravessa o país. Jovens e organizações sociais se juntaram nos principais parques e praças de suas cidades com batucadas, bandeiras e cartazes em um dia que também coincidiu com o Dia da Independência da Colômbia.
Os manifestantes têm reivindicações variadas, que incluem uma reforma policial e um Estado mais solidário para lidar com os estragos econômicos da pandemia, que elevou a pobreza de 37 a 42% da população colombiana. O presidente Iván Duque fez seu discurso anual no Congresso reconhecendo que o país tem uma “dívida histórica” com os mais pobres, e deslocou milhares de policiais para garantir o controle de Bogotá, a capital do país.
Protestos pacíficos
O Comitê Nacional de Greve, principal organizador das manifestações que o país vive desde 28 de abril e que se estenderam por dois meses, anunciou que retomava as mobilizações nesta terça-feira “para exigir do governo nacional e de suas maiorias no Congresso uma resposta à grave crise humanitária, social, econômica e política que estamos atravessando”.
Milhares de pessoas marcaram encontro em distintos pontos de Bogotá e caminharam com cânticos, danças e bandeiras da Colômbia no sentido da Praça de Bolívar, no centro; mas a força pública impediu o acesso ao Congresso e à sede da presidência. O Comitê de Greve programou também uma grande manifestação que se concentrou desde as dez da manhã no Parque Nacional de Bogotá, onde tocou a banda de rock Aterciopelados.
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Os manifestantes também saíram às ruas na cidade de Cali, epicentro dos protestos que começaram em 28 de abril último e, em bairros como Siloé, levantaram bandeiras para exigir respeito aos direitos humanos, à vida e à dignidade dos colombianos. Em Popayán, capital do convulsionado departamento de Cauca, reuniu-se um grupo de manifestantes indígenas que, ao ritmo da chirimia, um instrumento de vento similar ao oboé, gritava “Revolução, vamos lutar!”, enquanto pedia proteção para seus territórios e segurança para os líderes sociais.
A música também marcou as mobilizações na cidade de Medellín, onde milhares de pessoas se concentraram para apoiar a greve nacional enquanto os jovens da denominada “primeira linha”, que costumam enfrentar a força pública, cantavam para a polícia: “As balas que vocês dispararam vão voltar”.
Joshua Collins
O Comitê de Greve pediu ainda ao governo "garantias de segurança" para os manifestantes.
Dez projetos de reforma
Mas o Comitê de Greve não se fez presente só nas ruas da Colômbia. Depois do fracasso do diálogo com o governo durante as massivas manifestações dos últimos meses, entregou ao Congresso dez iniciativas legislativas respaldadas pelo que chamam na Colômbia de “bancada alternativa”, composta pela oposição de esquerda e centro-esquerda. Propuseram uma renda básica de um salário mínimo mensal por um ano para 7,5 milhões de famílias, gratuidade universal da educação superior pública, fortalecimento da rede pública de saúde, apoio para a reativação econômica das PMEs e do setor agropecuário e ações contra a violência de gênero, entre outras propostas. O Comitê de Greve pediu ainda ao governo “garantias de segurança” para os manifestantes.
Retomar a iniciativa
O governo de Duque também aproveitou estes 35 dias de “trégua” para buscar retomar a iniciativa política no país: anunciou a entrada no Congresso de dois projetos caros a seus objetivos, uma lei antivandalismo e uma nova reforma tributária. Os ministérios da Justiça, do Interior e da Defesa trabalharam na primeira das iniciativas sobre três eixos: determinar novos tipos penais para delitos, endurecer as penas e diferenciar a ação contra o vandalismo da proteção à manifestação pacífica.
Quanto à reforma tributária, foi justamente uma iniciativa a esse respeito que disparou o início da greve, e embora o governo depois a tenha retirado do Congresso, o rol de demandas sociais já mudara e as mobilizações tornaram-se diárias, em grande parte devido à repressão das forças policiais.
Agora o governo de Duque apresentou um novo texto, que chamou de Projeto de Investimento Social, que faculta ao mandatário fundir setores do Estado e eliminar outros, planejando arrecadar 3.900 milhões de dólares. Nesta versão o governo renunciou aos pontos mais polêmicos da proposta inicial, como aumentar o IVA de alguns produtos, assim como aumentar a base de colombianos que pagam imposto sobre a renda.
A um ano de entregar o poder e com uma impopularidade de 76 por cento, Duque inaugurou a nova legislatura nesta terça-feira pela manhã: “Escutamos as vozes nas ruas e elas devem nutrir os debates, mas os senhores estão convocados pela história para serem os porta-vozes de um país em plena transformação”, disse Duque ao Congresso durante a cerimônia de instalação.
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“Sabemos e entendemos que há dívidas históricas a pagar, que são muitas as frustrações que sentimos como sociedade, mas a solução será encontrada trabalhando em equipe”, assegurou o mandatário de direita, assinalando que a sociedade colombiana deve ter claro que as manifestações devem ser sempre pacíficas: “Os bloqueios não são cortes de rota; são cortes de vida, não fazem valer nenhum direito, só fazem valer a ambição dos agitadores que querem se beneficiar do caos”.
As mobilizações de terça-feira transcorreram de maneira pacífica ainda que em um clima estranho, devido a denúncias do governo sobre infiltração de grupos armados, uma fórmula a que Duque costuma recorrer cada vez que novas manifestações são convocadas. Mais de 60 pessoas morreram e milhares ficaram feridas desde a explosão dos protestos em 28 de abril, segundo a Defensoria do Povo e autoridades civis.
Em uma conferência de imprensa na Cidade de Buenos Aires, a Missão de Solidariedade Internacional e Observação de Direitos Humanos, integrada por representantes de várias organizações argentinas, apresentou o relatório final de sua viagem à Colômbia. Nele destacaram que o Estado colombiano considerou “como inimigo interno sua população civil indefesa e descarregou sobre ela uma violência repressiva própria de um confronto bélico”.
Tradução de Ana Corbisier
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